Os
europeus, ao chegarem ao Brasil, se deparou com uma imensidade de povos que
tinham línguas e costumes diferentes. Esses povos foram descritos aos europeus
segundo o olhar dos recém embarcados nas terras americanas, tendo em vista o
que lhes era interessante observar para uma posterior dominação, sendo assim,
temos poucas fontes sobre como esses povos enxergavam uns aos outros e como
percebiam os brancos. Consequência disso, as relações dos índios com os brancos
perecem significar apenas laços afetivos sem interesses ou mesmo de inimizade.
O índio então foi estereotipado ora como dócil e inocente, ora como selvagem e
bestial. Nesse sentido, os estudos de Laima Mesgravis e Carla Bassanezi Pinsky,
em " O Brasil que os Europeus Encontraram", tenta abordar as
diferentes culturas indígenas; suas relações umas com as outras; e como seus
costumes influenciaram e sofreram influencias da cultura europeia. Para isso,
os autores fazem uso de relatos de viajante e jesuítas da época, alguns deles,
inclusive, tendo vivido entre os americanos como é o caso de Hans Staden.
O
litoral brasileiro era ocupado em sua imensa maioria pelas tribos
Tupi-guaranis, na verdade eram dois grandes grupos: os tupis, que se
localizavam na parte norte; e os guaranis localizados na parte sul. Esses
grupos tinham em comum um tronco linguístico que sofria variações entre eles.
Mas haviam também os que não falavam a língua geral denominados pejorativamente
de tapuias, eram eles os goitacases, charruas, aimorés e tremembés. Os
portugueses aprenderam com facilidade a língua tupi, nesse período ela era a
mais falada, em alguns lugares só se usava ela. Por esse motivo a língua
portuguesa sofreu tanta influência da indígena.
Em
princípio os índios tiveram uma relação comercial com os brancos através do
escambo, ou seja, trabalhavam no corte e transporte do pau brasil em troca de
objetos vindos do mundo europeu. Preocupados com o crescimento do
protestantismo a Igreja consegue apoio de Portugal no sentido de converter os
nativos. Apesar de as primeiras relações serem com os tupis, os jesuítas que
chegaram ao Brasil acreditavam que a melhor tribo para a conversão era a dos
carijós, pois esses eram mais sedentários e não praticavam o canibalismo,
prática comum entre os tupis. Os jesuítas insistiam na conversão dos carijós
diante a Igreja, mas seus esforços foram frustrados.
Os
portugueses ao perceberem as diferenças e rivalidades entre os indígenas, se
aproveitaram disso. O mesmo se deu com os índios, esses também eram agentes
históricos, não sujeitos a vontade dos brancos como se tem passado. Assim, o
próprio escambo não deve ser entendido como uma mera exploração de povos
inocentes. Os índios viam como justas aquelas trocas e as faziam por vontade
própria. Se um nativo não estivesse com vontade de trabalhar não faria, quando
fazia era por puro interesse. Dá mesma forma que os brancos se aproveitavam das
rivalidades, os americanos se aproveitavam dessas relações para obterem
armamentos que seriam usados contra os seus inimigos. O fato de umas tribos se
relacionarem com franceses e outras com portugueses não significa que esses
laços tenham sido de honra e compromisso, mas de interesses. Os franceses
presenteavam os índios e pareciam estarem menos interessados em escravizar
diferente dos portugueses.
Os
portugueses necessitavam cada vez mais dos trabalhos dos indígenas. Esses por
sua vez só trabalhavam quando queriam. A expressão "não tenho
vontade" era comum entre os indígenas, o que levou os portugueses a verem
eles como preguiçosos. Para resolver essa questão passaram a escravizá-los. Os
brancos, dessa forma, trocavam os prisioneiros das tribos por objetos e
escravizavam o cativo. A Igreja era contra a escravização, porém os próprios
jesuítas estavam convencidos que era necessário usa a força na conversão desses
povos. Nesse momento as visões de paraíso e de um povo inocente começavam a
serem invertidas para um povo bestial e pecaminosos. A Igreja permite a
escravização proveniente de guerra, dos que negarem a fé cristã e daqueles que seriam
mortos nos rituais de antropofagia. Qualquer motivo era usado como justa na
captura de índios como, por exemplo, o devoramento do padre Sardinha pelo
caetés.
Os
jesuítas tinham que ir até os locais onde estavam os índios para tentarem suas
conversões. Passavam um longo período nesses locais e iam em busca de outras
tribos. Quando voltavam aquela já não se localizava no mesmo lugar, pois só
passavam um período entre 4 e 5 anos devido à escassez de alimentos e logo iam
em busca de outros locais. Com isso os jesuítas tiveram a ideia de fazer os
aldeamentos, que seriam porções de terra na qual os índios viveriam sob a
custódia dos deles. Para os índios era interessante pois teriam um pedaço de
terra e se protegeriam contra os ataques das bandeiras. Mesmo sob a custódia dos
jesuítas os índios eram capturados pelos brancos para o trabalho escravo. Outro
problema era a influência dos comportamentos dos brancos sobre os aldeados, o
que dificultava a catequese. Os jesuítas percebendo isso decidem investir nas crianças
acreditando conseguir "reeducá-las", tendo várias frustrações, e
fazer aldeamentos mais distantes. Como é o exemplo da Colônia de Sacramento dos
Sete Povos da Missão. Um outro problema encontrado pelos jesuítas é que os
padres estavam mais ligados aos interesses dos colonos que da Igreja,
favorecendo dessa forma a escravização sem conversão dos indígenas. Isso se
dava ao fato de os padres serem mantidos pelos colonos enquanto que os jesuítas
eram mantidos diretamente pela Igreja. Esse fato faz com que o catolicismo
brasileiro tenha suas próprias peculiaridades.
Os
brancos tiveram muitas dificuldades para dominar os nativos. Segundo Caminha,
esses povos não tinham em seus dialetos nem o "f", o "r" e
o "l", assim eles não teriam "nem fé, nem rei, nem lei".
Isso dificultava a dominação. Para impor uma crença era preciso que já houvesse
outra que fosse substituída; para governar um povo era preciso que estes já
tivessem costume de servir a um rei; e para que as leis fossem seguidas era
necessário que os nativos já tivessem hábitos de seguirem leis rígidas. Os
brancos tentavam encontrar os chefes tribais para facilitar a dominação, mas
não conseguiam perceber uma chefia. A verdade é que os chefes indígenas tinham
poucos privilégios em relação aos demais. Exerciam essa função principalmente
em tempos de guerra. A leis eram costumeiras, os roubos eram proibidos, as
crianças eram ensinadas com exemplos dos adultos. A fé por sua vês era ligada
aos elementos da natureza e espírito dos antepassados.
Na
sociedade indígena os homens faziam os trabalhos de caça, pesca, e guerra; a
mulher cuidava das crianças, da casa, da cozinha e do plantio. O trabalho do
homem apesar de mais pesado era mais espaçado, por isso por vezes eles estavam
desocupados; as mulheres estavam sempre trabalhando e onde fossem levavam as
crianças. Isso leva os brancos a verem os homens como indolentes e preguiçosos.
A aldeia era arrodeada de casas, na qual viam famílias; no meio tinha um pátio
onde faziam seus rituais e reuniões. Havia um grupo de homens mais velhos que
se reunião para discutir os assuntos da aldeia, as leis surgiam nessas reuniões.
Nela apenas os homens podiam fala. Os índios apreciavam a arte da retórica. A
mulher tinha liberdade sexual e os casamentos eram feitos e desfeitos sem muita
cerimônia. Alguns homens tinham mais de uma mulher, isso era privilégio dos que
se destacavam nas guerras ou em outras atividades. A mulher era uma forma de
obter mais mão de obra e gerar filhos que favorecia a vida desses homens.
Acreditavam que os filhos só tinham ligações com os pais. O amor homossexual
era tolerado.
Os
índios praticavam a antropofagia como um ritual festivo. Uma guerra significa
futura festa. O cativo era devorado acreditando que a sua coragem era passada
aqueles que o comessem. Além disso, era uma forma de vingar os antepassados.
Nesses rituais chamavam integrantes de outras aldeias, e as pessoas escolhiam
as partes do corpo que iam comer. O cativo participava da cerimonia xingando e
ameaçando os que lhe devoraria. O cativo tinha boas comidas e mulher para
desposar enquanto se preparava as festividades. Preferiam comer os corajosos.
Os
índios tinham como base alimentar a mandioca. Dela faziam a farinha que comiam
com tudo. Assavam suas carnes nos moquems ou coziam a carna coberta de folhas
enterrada sob uma fogueira. Plantavam abacaxi, milho, batata, colhiam goiaba
ananase, etc. A comida não era guardada. Os índios tinham o hábito de sempre
estarem mastigando alguma coisa. Faziam vinho a partir do milho, usavam nos
rituais. Nos rituais não comiam nada apenas bebiam. O hábito de se embriagar vai
se dar como forma de desobediência perante os brancos.
Os
índios tiveram muita resistência ao trabalho escravo. Eram acostumados a
trabalharem segundo suas necessidades e não tinham interessem em acumular
posses, achavam isso estranho no português. Vários motivos faziam os índios se
revoltarem com os brancos os castigos impostos às crianças, que era ordenado
pelos próprios jesuítas; o fato de terem de trabalhar na agricultura, o que para
eles era uma tarefa feminina, etc. Eram obrigados a se vestirem o que faziam
com que adoecessem devido a tomarem banho várias vezes ao dia e não trocarem a
roupa, os jesuítas no entanto aceitavam esse costume nos aldeamentos.
Com
a expulsão dos jesuítas por Pombal a escravidão indígena foi mais severa. Só
teve fim com as necessidades de substituição pela negra que trazia mais
vantagens a coroa e comerciantes.
A ANTIGUIDADE DO HOMEM NO NORDESTE DO BRASIL
As
questões de datações relativas ao povoamento da América geram várias divergências
no mundo acadêmico. Há pouco tempo existia a convicção de que os povos que aqui
haviam chegados teriam vindo pelo Estreito de Bering que fora formado na era
glacial. Assim o homem teria povoado o continente americano por volta de 30.000
anos atrás. Essas convicções foram abaladas com descobertas de vestígios
humanos na América do Sul que datam mais de 40.000 anos. Foram encontradas
datações ainda mais antigas com cerca de 300.000 anos no Canadá, o que causou
outras discussões em torno das possíveis teorias do povoamento americano.
Essas
discussões, por vezes, parecem bastante tendenciosas. Os americanos convencidos
de sua superioridade tinham necessidade de fortalecer a teoria do Estreito de
Bering que dava a entender que os povos teriam passado primeiro pela América do
Norte e só depois chegado a do Sul. Em outras palavras, os nativos sul americanos
eram mais recentes e assim menos desenvolvido. Nessa faixa cronológica entre
50.000 e 25.000 anos a América latina teriam os povos mais antigos. Esse é o
exemplo do sítio de Lapa Vermelha no município de Pedro Leopoldina em Minas
Gerais, que possuem cronologias que vão até 25.000 anos. Tem também o da Bahia
no município de Coribe, no sítio Morro Forado, onde foram encontradas datações
de 43.000 anos que procede de uma possível estrutura de fogão onde podem ter
sido queimados moluscos. Foram encontradas datações em torno de 10.000 anos com
mais segurança de serem de origem humana em Coribe (Morro do Furado) e Toca de
Manuel Latão na Bahia; em Bom Jardim (Chã do Caboclo) em Pernambuco e Brejo da
Madri de Deus (Furna do Estrago); além de sítio no Rio Grande do Sul e Piauí.
As datações mais recentes de até 12.000 anos têm sido aceitas pelas escolas
americanas, mas as mais antigas não são reconhecidas. É importante ressaltar
que esses achados são de objetos que teriam sido feitos e usados pelos homens,
não forma encontrados restos humanos, mais esses achados provam que os povos
americanos estão aqui há bem mais tempo que o pensado. Essa visão conservadora
não se dá por completo entre todos os cientistas americanos, o que mais rebate
esses achados é Thomas Lynch da universidade de Massachusets. Há, por exemplo,
Richard McNeish que dirige seus ataques contra os ortodoxos da teoria
"hrdlinckiana".
Com
os achados em torno de 200.000 anos novas polêmicas surgiram. Esses achados em
sua maioria no Canadá colocam não mais em questão se os primeiros povoamentos
foram na América do Norte, mas sobre a idade dos povos desse continente em
relação aos povos do velho mundo. Assim, para muitos pesquisadores se torna
difícil aceitar a ideia de que os povos americanos possam ter idades
semelhantes os povos do outro lado do mar. Temos uma convicção psicológica de
que a América seria o novo mundo, como pode então ser encontrado vestígios de
povos anteriores ao paleolítico. Apesar disso, muitos pesquisadores passaram a
acreditar que o povoamento da américa não teria se dado por uma via única, como
é o caso do Estreito de Bering, mas por várias vias, de povos de locais e
culturas diferentes.
No
Nordeste, os primeiros homens que haviam chegado seriam como os índios atuais.
Dentro da perspectiva da formação étnica dos povos da América do Sul, eles
provavelmente teriam as mesmas origens, porém com achados de 50.000 no Piauí,
leva-se a se pensar que forma formados por grupos prémongoloides que teriam
evoluído aos índios atuais.
No
Brasil não temos achados ósseos com mais de 12.000 anos o que dificulta muito
conhecimento de nossos antepassados, claro que os resquícios de materiais
humanos são muito importantes para compreendermos esses povos, mas os achados
ósseos podem nos dá uma ideia da nutrição, da saúde, tempo de vida, etc. desses
agrupamentos humanos. O nosso achado mais importante foi de uma mulher de São
Raimundo Nonato.
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