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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

QUESTÕES DO TRABALHO EM ANTUNES



Ivson Carlos B Nunes






Valores de uso e troca
            Em “Os Sentidos do Trabalho”, Antunes tem uma visão luckasiana do trabalho e do capitalismo. Analisa o trabalho de um ponto de vista teleológico e ontológico. Sua obra se atém às formas de trabalho na atualidade, tendo em vista as suas transformações que ocorreram nas últimas décadas. Para analisar essas transformações leva em consideração as mudanças no sistema capitalista, essas mudanças são chamadas de “restruturação produtiva”, termo usado por outros autores, mas que nele aparece de forma concreta ao apontar os sistemas fordista/taylorista e toyotista como sendo mecanismo de reoxigenar o sistema. Ao analisar essas mudanças também observa os fenómenos políticos como o neoliberalismo, que irá enfraquecer os sindicatos, e permitir uma precarização do trabalho.
            No início do livro faz uso da visão de Mészáros, observa de forma geral o capital e afirma que a grande mudança no sistema a substituição do sistema de valores de uso pelo o de valores de troca[1]. Nesse sentido, explica nos primeiros modos de produção as pessoas trabalham em troca de seus sustentos, e assim a produção era determinada pelas necessidades humanas (sistema de mediação de primeira ordem). No início do capitalismo, a base da produção era a necessidade, e toda a relação se fazia mediante as necessidades vitais dos homens, o sentido do trabalho era o sustento. Por outro lado, o capitalismo atual trabalharia, segundo os autores, de acordo com o valor de troca por troca, sendo assim não se guia mais em produzir de acordo com as necessidades, e nem o trabalho se volta apenas para isso, as pessoas estariam preocupadas em se manter no sistema de troca (sistema de mediações de segunda ordem).
            O que os autores querem dizer é que não são mais as necessidades vitais que dão vida ao capital, as mercadorias produzidas são supérfluas, e cada vez mais o sistema se reproduz a partir de capitais improdutivos. Acredito que com, isso signifique as pessoas estão mais preocupadas com os valores de troca das mercadorias do que com as suas funções, como exemplo poderia citar os carros, os celulares, as roupas, etc. Muitos desses produtos estariam mais ligados a questão de ostentar preço, e com isso comprovar luxo que a sua real função.
            Acredito que seria preciso uma outra análise, pois penso ser um pouco idealista acreditar que os valores de uso podem substituir os valores de troca. Se o leitor me permite a ousadia, esse dualismo marxista entre valor de uso e valor de troca, se parece muito com outros tantos dualismo, como burguesia e proletariado, relações de produção e forças produtivas, estrutura e superestrutura, etc., como Marx é materialista, e sua base doutrinária se situa a partir do binômio estrutura superestrutura, onde o primeiro determina o segundo, então não seria tão equivocado dizer que o valor de uso seria estrutura e o valor de troca superestrutura, nesse sentido, podemos concluir ainda que o primeiro determinaria o segundo, e assim, seria um tanto inverte o materialismo marxista dizer que a troca é determinada pela troca, seria o mesmo que dizer que as ideias são determinadas pelas ideias.
            Não estou dizendo aqui que Marx tenha produzidos todos os binômios a partir do seu principal, mas tendo a acreditar que ela tenha sim feito isso, até por que o diferencial desse filósofo foi inverter o binômio hegeliano. Talvez se o Marx estivesse vivo discordasse dessa minha visão, mas sem dívida algum diria a ele que ele então cometeu uma contradição em seu sistema.
            Bom, saindo de um ponto de vista teórico, e talvez até mesmo especulativo, vejamos mais de perto essa visão do Antunes. A troca pela troca não faz sentido, as pessoas não vão se escravizar ao capital com o único desejo de obter os valores de troca das mercadorias. A verdade é que existem outros valores de uso nas mercadorias, ou seja, o carro tem uma função que antes não tinham, o de ostentar riqueza, o mesmo pode-se dizer de outros produtos. As pessoas fazem uso dos valores de troca, os usam para apresentar status, como se mostrar consumidor, e assim ganham estatuto de cidadão. Podemos dizer que o status é algo supérfluo, e que não possui e mesmo valor de um carro em si, porém o status se tornou um uso de objetos. Nesse sentido as mercadorias estão ganhando novas funções que vão além das de uso tradicional. O carro continua tendo valor de uso, porém é usado de outra forma, é usado socialmente. Na verdade, e resumindo, o valor de troca se converte em valor de uso, e não o contrário.
            Mas ainda podemos ir mais longe nessa discussão, o valor de uso do valor de troca também não faz sentido se levarmos em conta que os esforços feitos pelo status não valem a pena, a questão porém é que o status deve ser mediador da satisfação de outras necessidades humanas, e não falo de uma necessidade subjetiva, que seria o status. Se terminasse minha análise por aqui, estaria cometendo o mesmo erro que apontei no autor, sendo idealista, tendo em vista que usando de mesmo método, perceberia que valores subjetivos não podem determinar valores objetivos, assim, penso que o uso do status deve conduzir as pessoas a realizarem suas necessidades materiais objetivas, quais são elas? Seria preciso outra análise.
            Nesse sentido, concordo com o autor na questão de haver uma mudança profunda no capitalismo, porém não diria que foi a substituição dos valores de uso pelo os de troca, porém se autor pretende dizer que isso é uma subjetivação do capital na sociedade, então posso concordar. Tendo em vista que de fato transformar valores de troca em valor de uso faz com que a ideologia de mercado se introjete nas pessoas.  
           

Reestruturação produtiva

            As mudanças vistas anteriormente não configuram como uma reestruturação propriamente dita, na minha visão. Irei fazer mais à frente uma análise do que seria essa mudança, a princípio porém afirmo que a tal mudança não é ruptura, mas sim uma continuidade do sistema capitalista, ou seja, é fruto do seu desenvolvimento.
            O sistema fordista era bastante hierarquizado, e criava divisões na produção, colocando cada trabalhador em uma função. Se olharmos bem veremos que isso é um sistema de castas dentro de uma fábrica, isso nada mais é que a reprodução do que era a sociedade na época, ou melhor, o que restava dela. O próprio sistema capitalista se tornou uma reprodução do sistema feudal, as classes estavam bastante divididas, e isso tornou possível a concepção de luta de classes, pois claramente operários lutavam contra patrões. Assim, penso que o sistema fordista é fruto dessa visão organizada da sociedade em ordens, mas o capitalismo nasceu para romper com isso. Logo o fordismo tenderia a desaparecer.
            O toyotismo fez com que a necessidade mão de obra diminuísse, tendo em vista que houve uma flexibilização na produção, ao contrário do antigo sistema, os funcionários não têm funções fixas, mas mudam de acordo com as necessidades, ele não é apenas braço, mas também cérebro, tendo em vista que faz parte do controle de qualidade e participa do processo de enriquecimento da empresa.
            Perceba que o toyotismo quebra com a visão de “estamento” que existia nas fábricas fordistas, aqui já não é tão claro quem é explorador e quem é explorado, sendo assim a luta de classes perde a força que tinha no passado. Essa quebra da dualidade tem como consequência a perca de identidade de classe, o proletário tende a se aproximar da visão patronal. Essa parte da reestruturação tem um reflexo subjetivo na luta de classes, chamo isso de reestruturação subjetiva do capital.
            O que está em jogo, penso, é perceber que de fato, ouve uma reestruturação, ou se isso na verdade é um mero desenvolvimento do capital, assim como a questão dos valores de troca e de uso. Nesse sentido, o que vejo como principal é a quebra do binômio burguesia/proletariado fazendo emergir uma classe média, ou melhor, fazendo desaparecer a linha que separa as classes. Veremos mais à frente.
            O outro fenômeno é a redução do trabalho produtivo braçal, essa reestruturação é objetiva (Reestruturação Objetiva do Capital), tendo em vista que reduziu a classe, tirando sua força, e como consequência enfraqueceu os sindicatos.
            Esses dois fenômenos fizeram com que os sindicatos perdessem seus prestígios, tendo em vista que as questões de condições de trabalho eram resolvidas dentro da fábrica, e que a mentalidade do proletariado havia mudado. Os sindicatos ficaram submissos aos empresários.
            Outra coisa a se pensar é se essas mudanças não são fruto das reivindicações trabalhistas, e assim o enfraquecimento dos sindicatos estariam ligados aos próprios interesses e estratégias sindicais, Sartre denomina esse fenômeno de contra-finalidade[2].
            Essas formas de reestruturação acontecem no plano econômico, são as empresas que fazem elas. Segundo o autor do livro em questão essa mudança é resposta à crise do capitalismo. Afirmei porém é que é preciso analisar se essas mudanças não são fruto do próprio desenvolvimento do capital, e ainda se as reivindicações trabalhistas não contribuíram.
            Outra forma de reestruturação é a política, o autor fala da crise do sistema de Bem Estar Social, e do neoliberalismo. O autor não faz uma comparação ou tenta aproximar essas duas formas de reestruturação, eu porém me questiono sobre o caráter do neoliberalismo. O que quero dizer com isso, é que se o primeiro significa uma mudança no interior do capital, o segundo é organizado pelos gestores do capital.
            Para alguns economistas o neoliberalismo não é liberal, essa é a visão do José Monir Nasser, ele acredita que é uma forma de o Estado pressionar as empresas sem precisa gerir a economia. Penso que exista uma diferença do modelo de Thatcher para os atuais. Que na verdade seria o modelo, tratado pelo autor, do New Labor de Tony Blair, ou terceira via.
            Nesse sentido penso que falta analisar o chamado neoliberalismo de partidos como o PT, que se diferenciam do modelo inicial. A tentativa do Nasser me parece ser frustrada, porém ninguém se propõe a fazer outra análise.
           

O proletariado

            O autor coloca todos os trabalhadores no mesmo patamar. Ele criou um termo que parece querer substituir o termo proletariado, chamo a classe trabalhadora de classe-que-vive-do-trabalho. Ele afirmar que existem mudanças na configuração da classe trabalhadora, como vimos anteriormente. Percebe que o trabalho morto tem crescido em detrimento do trabalho vivo. E que o trabalho imaterial tem aumentado em detrimento do trabalho produtivo. De fato, os números compravam isso, a classe operária tem sofrido uma redução.
            A necessidade de criar tal termo, está ligada, penso a questão de perceber um novo agente social. Isso acontece devido Karl Marx ter depositado confiança no proletariado para para fazer uma revolução      . Porém, essa classe tem diminuído a ponto de setores dos movimentos sociais enxergarem em outras classes um agente revolucionário, hoje os gays, as mulheres, negros, jovens pobres, e outros atores têm sido vistos como os novos revolucionários.
            Penso que essa tentativa do Antunes é um tanto falha. Tendo em vista que ele homogeneíza toda uma classe. A verdade é que a classe do proletariado de Karl Marx era a fabril, ela era revolucionária devido está ligada aos meios de produção, e por que que não teria nenhum interesse no velho mundo. Marx fala que ela é a única classe revolucionária.
            Hoje, a imensa maioria dos trabalhadores são do setor de serviços, trabalham em bancos, no comércio, em restaurantes, lanchonetes, e cumprem com tarefas bem diferentes dos antigos proletários. Estão desligados do coração da sociedade que é a produção. Ele não coloca apenas os trabalhadores do setor privado não braçal como sendo semelhante ao proletariado, mas também os servidores públicos. Assim, todas as classes que trabalham são membros dessa classe-que-vive-do-trabalho?
            Será que um camponês ou um comerciante ambulante fazem parte desse mesmo exército? Ora, todos eles trabalham. Bom, os trabalhadores que têm seu pequeno meio de vida não podem ser vistos como proletários, ou como um desempregado em condição de trabalho informal, essa visão parte do pressuposto de que o natural é vender sua força de trabalho, estando todos os demais em condição de subsistência. Mas a verdade é que os pequenos proprietários não possuem as mesmas aspirações dos trabalhadores de empresas. Essa uma tendência de procurar o que se quer ver em tudo, no final da análise os intelectuais dizem “então era isso que isso queria dizer desde o início[3]”. Uma coisa é um trabalhador desempregado outra coisa é um pequeno proprietário, não se pode encaixar o binômio burguesia/proletariado em tudo.
            O mesmo digo em relação aos trabalhadores de empresas que não estão na produção. Se eles decidem fazer uma greve mudam que quase nada a realidade, tendo em vista que seus setores não são fundamentais, uma greve de professores tem função apenas política, mas não ameaça o sistema. Existe um fosse enorme entre trabalhadores de empresa privada e servidores públicos, o fato de eles serem assalariados não os coloca na mesma situação.
            Nesse sentido, penso que o termo classe-que-vive-do-salário seria mais justo, tendo em vista que separaria os assalariados dos pequenos proprietários. E mesmo assim teríamos uma forma de totalizar servidores e trabalhadores do setor privado o que não seria muito interessante.
            Os trabalhadores do setor privado não se identificam com o operariado em nada, suas condições de trabalho são muito diferentes. Comumente quem trabalha no comércio são oriundos das cidades grandes, enquanto que quem vai para as fábricas são de origem rural, ou vivem de atividades de subsistência nas periferias, ou seja, eram pequenos proprietários falidos, que usam de seus conhecimentos no serviço produtivo para servirem à produção fabril.
            O proletariado fabril tem muito mais condições de lutar contra o capital, eles se unem com muito mais facilidade, tendo em vista que essa classe desenvolve uma relação entre seus iguais mais sadia que nos outros setores do privado. O que os leva à fábrica são questões concretas, são interesses em manter suas famílias, e se alimentar, com isso suas tradições e valores não desaparecem, e assim, aprendem a arte da solidariedade em pouco tempo. Os demais setores privados são marcados por interesses individuais dos seus funcionários, a atendente de telemarketing quer terminar a faculdade e não tem nenhuma vontade de continuar ali, suas relações ali são tênues e já começam fadadas a fracassarem. Os que querem continuar estão em disputa com outros, e com isso acabam precisando mostrar mais capacidades. Esse setor é aburguesado, e em quase nada se diferencia da burguesia, e isso não é alienação de classe, a verdade é que eles não são proletários, e nada tem de semelhante com o trabalho estudado por Marx. Não é por menos que vemos que as greves desses setores são puxadas por sindicatos e tem interesse político, a base quase não participa, e em muitos locais existe um sistema coercivo de paralização, como nos sindicatos dos bancários que pagam para que pessoas fechem as entradas dos bancos, do telemarketing que muitas vezes são ameaçados para pararem afim de mostrar ao patronal que o sindicato tem força. Por outro lado, os operários precisam de sindicatos para impedir suas greves em vez de organizá-las, foram os casos recentes de trabalhadores de Suape, onde estouraram diversas greves sem a participação dos sindicatos, nesses setores o sindicato é forte diante das empresas porque impede a greve e não por fazer, e por isso recebem regalias patronais a fim de controlar os operários.
            Penso ser querer foçar a barra ver um comerciário como um proletário, ele não vende sua força de trabalho como faz o proletário, não é a mesma coisa, ele faz um contrato para ficar por tanto tempo vendendo mercadorias, por vezes recebem comissão, isso é diferente de ficar por um certo tempo produzindo. O proletário tem noção de quanto de riqueza produziu, o comerciário tem noção apenas de quanto de riqueza ajudou a remeter ao bolso do patrão. Isso são coisas diferentes.
           

Minhas visões sobre o capitalismo atual
            Penso que a tendência do capitalismo seja equalizar a sociedade, transformando tudo à sua volta em reflexo do capital. É um processo de totalização, que vai convertendo tudo o que troca em mercadoria.
            O capital tende a quebrar as barreiras que impedem sua circulação, as ideologias tendem a desaparece, assim como a família, e a religião. Tudo tende a se tornar uma peça na grande engrenagem do capital.
            A mudança dos sistemas vistos remete a isso, valor de uso ser transformado em valor de troca, e vice versa. Comprar uma coisa apenas pelo seu valor de troca é uma forma de levar o capital para os lugares onde ele ainda não chegou. Aos poucos tudo se torna capital.
            As mudanças de fordismo para toyotismo tem o mesmo significado, os trabalhadores vão se acoplando ao capital, de forma que eles já não são mais classes, mas indivíduos com suas mercadorias a serem vendidas, fazem de suas vidas um capital, agregando valor a fim de aumenta-lo. Se o proletário antigo queria apenas se manter, os funcionários das empresas atuais se veem como um capital vivo, e não trabalho vivo. Eles possuem espirações de enriquecimento e investem em seu capital. Isso constitui uma totalização do capital, transformando todos em peças de uma grande engrenagem.
            Não existe mentes por trás disso, é um fenômeno do próprio sistema. Tudo o que existe vai ganhando valor de mercado, família, casamento, amizades, tudo o que existia separado do sistema se torna membro dele.
            Giles Deleuze, em seu livro O Anti-Édipo, percebe isso, ele argumenta que o capitalismo tem limites, mais quando chega nele o limite se expande, em outras palavras o capitalismo não tem limites. Os indivíduos vão se acoplando a ele ao ponto de nem perceberem que existe outro sistema. Ou seja, a vida natural, ou reino da liberdade.
            Os partidos de esquerda sabem perfeitamente disso, e por isso investe no sistema de opressão, não mais se importam em combater o capital, mas em promover a “igualdade”, na verdade isso nada mais é que facilitar para que o capital transforme tudo em seu semelhante. Tendo em vista que tudo pode ser trocável.
            Em pouco tempo, se continuarmos avançando o capital, cada indivíduo será totalmente livre para fazer de seu corpo um capital, a moral será lapidada a ponto de facilitar isso, assim, a venda de órgão, de crianças, tudo isso tende a ser permitido.
            Penso que existe entre um sistema de solidariedade mecânica e um sistema de solidariedade orgânica[4], sendo o primeiro das sociedades pré-industriais e o segundo das sociedades industriais, no primeiro as pessoas se relacionam de acordo com as regras morais da cultura, no segundo o que acontece é a substituição do primeiro por relações de mercado. Ainda existe esses dois sistemas, um da cultura, outro do mercado, o capital tende a juntar ambos em um.
           

Luckak vs Habermas
            O autor trabalha bem essa questão. Tendo em vista a questão teleológica do trabalho. Ele afirma que para Luckak o trabalho faz o homem se desenvolver, sendo que primeiro se desenvolve em relação com natureza e depois em relação com a sociedade (natureza orgânica e inorgânica). Divide isso em sistema teleológico primário e secundário. Nesse sentido o trabalho teria como função conduzir o homem para uma condição de liberdade. Como vemos no trecho a seguir:
“O trabalho tem, portanto, quer em sua gênese, quer em seu desenvolvimento, em ser ir-sendo e em seu vir-a-ser, uma intenção ontologicamente voltada para o processo de humanização do homem em seu sentido amplo[5]

            Por outro lado, o Habermas tem uma visão pessimista tendo em vista que o trabalho não seria uma condição de liberdade. O Habermas ver que o socialismo estaria em crise por que o trabalho não seria findado, mais que estaria acontecendo um processo contrário, onde os mundos da vida e sistema[6] estaria se acoplando – semelhante ao que vimos anteriormente. O Habermas ver que o processo fundante da sociedade é o mundo da vida, ou o da comunicação.
            O Antunes discorda do fato de o mundo da vida ser o fundante, vejamos:
“(...) não posso concordar com Habermas, quando ele confere à esfera intercomunicacional o papel de elemento fundante e estruturante do processo de socialização do homem” (Antunes, p. 156)
            O Antunes tenta afirmar que na verdade não existe separação entre as esferas do munda da vida e do sistema, ou melhor, do trabalho e da comunicação. O Habermas comparar os dois sistemas com o que Marx chama de reino da liberdade e da necessidade, vejamos:
“Sistema e mundo da vida aparecem em Marx sob a metáfora do ‘reino da necessidade’ e ‘reino da liberdade’. A revolução socialista libertará o ultimo do primeiro” (Habermas)
            Perceba que para Habermas o socialismo teria que ser o reino da liberdade, onde o trabalho seria suprimido pala liberdade. O Antunes pretende unificar os dois, com sendo ligados. Sendo o trabalho meio de liberdade:
“O trabalho, a sociabilidade, a linguagem, constituem-se em complexo que permitem a gênese do ser social. Como vimos anteriormente, entretanto, o trabalho possibilita pela primeira vez no ser social o advento do ato teleológico interagindo com a esfera da causalidade. No trabalho o ser se expões como subjetividade (pelo ato teleológico, pela busca de finalidade) que cria e responde ao mundo social” (Antunes, p. 156)
E mais:
“Se o trabalho tem o sentido de momento predominante, a linguagem e a sociabilidade, complexos fundamentais do ser social, estão intimamente relacionados a ele, e como momentos da práxis social esses complexos não podem ser separados e colocados em disjunção” (Antunes, p. 156)
            A visão de Antunes a bastante interessante, porém, se o Habermas vê dois mundos, os vê em acoplamento. Sendo que o trabalho continua sendo o cerne. Antunes tentar juntar desde o início. Colocando que a vida social e do trabalho são a mesma coisa. Porém é fato que o trabalho tem sido um mundo deferente do munda da vida, podem se juntar, mas não o são agora.
            Perceba ainda que a visão de Habermas se assemelha ao que vimos do Deleuze, pois ao entrar o capitalismo em outras esferas vai tornado tudo em capital.
            É verdade que o trabalho faz parte da sociabilização, mas penso que o Antunes não consiga ver que a fusão está acontecendo de forma inversa da prevista por ele, ou seja, em vez de fazermos do trabalho parte do mundo intercomunicacional, é o mundo intercomunicacional que está fazendo parte do mundo do trabalho. Em pouco tempo a vida será toda voltada para o capital. A vida social será a vida do trabalho.  

O fim da classe operária
            O autor insiste que não está acontecendo uma extinção da classe trabalhadora, como pretendem muitos, porém acho que é preciso analisar algumas questões sobre isso.
            De fato, como o autor diz, está havendo uma precarização do trabalho, uma subproletarização, uma agregação do trabalho imaterial ao material, etc.
            Mas é fato também que a produção material precisa cada vez menos de operários, talvez não tenha ocorrido uma diminuição do total da classe, porém em países específicos isso é constatado. Podemos levar em consideração que as empresas têm levado suas fábricas para lugares mais pobres, e reduzido assim a classe em seu país de origem, não tenho dados que apontem que de uma perspectiva mundial o operariado tenha aumentado, talvez tenha crescido, talvez não.
            Na visão de Habermas, criticada por Antunes, a ciência tem sido a principal força produtiva, e com isso as empresas conseguem produzir mais com menos trabalhadores. Marx não previu um fim da classe operária, pelo contrário previu seu crescimento, a ponto de se tornar uma força incontrolável. Marx viu que as necessidades humanas depois de satisfeitas produziam outras e por isso sempre seria necessária mais produção.
            Antunes quer ver a subproletarização dos trabalhadores como prova de que a classe trabalhadora não some, apresentando os aspectos que provam que suas vidas pioram. E de fato pioram, mas não penso que seja isso que esteja em jogo, a piora de vida dos trabalhadores não os torna mais proletários, nem revolucionários, isso não prova que não está acontecendo uma redução da classe trabalhadora.
            O que parece é que ele tenta rebater a ideia de que o capitalismo traz melhorias de vida, isso realmente não traz. Mas é verdade que cada vez mais precisa de menos trabalhadores, tanto produtivos quanto improdutivos. A tendência é haver uma grande massa de pessoas que terão que aprender a fazer de suas vidas um capital. Vi na TV um homem norte americano que estava desempregado e então resolveu abrir um negócio, começou a guardar lugares em filas e vender por telefone ou internet, as pessoas podiam pedir antes e assim o dono do negócio mandava uma pessoa ficar no lugar pedido. Isso mostra que a tendência é que as pessoas procurem ser donas de seus capitais, participando do sistema como pequenos empresários, serão explorados, mas não serão proletários.
            Uma tendência é a substituição do trabalho produtivo por outros, o financeiro comercial e de serviço. Nesse sentido a classe operária será jogada fora, e como previu Marx as mulheres substituirão os homens, tendo em vista que os novos empregos não exigiram esforços.
            Os homens devem formar um grande exército de desempregados, pois se tornarão indesejáveis aos novos serviços, terão dessa forma que aprender a se acoplar ao capital fazendo parte dele, criando seus mecanismos individuais de sobrevivência, porém ligados ao capital.
            Penso que deve se desenvolver um novo sistema prisional para conter essa massa, como já vemos, com as pulseiras controladoras, de presidiários, haverá uma extensão da cadeia para o espaço público, ou seja, o indivíduo estará na rua, mas é um presidiário. Isso, óbvio para quem não conseguiu se acoplar ao sistema.
            Nessa perspectiva a derrubada do sistema já não tem relação alguma com as antigas teorias, tendo em vista que não haverá uma classe propriamente dita, e as relações de poder serão totalmente modificadas. 


             













Referências

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho.
DELEUZE, Guiles. O anti-édipo.
DURKHEIM, Émile. Divisão social do trabalho.





[1] Valor de uso é o preço pago numa mercadoria diante a sua funcionalidade, ou seja, a compra de uma cadeira está associada a necessidade de usá-la; por outro lado, o valor de troca remete ao valor de mercado, leva-se em consideração o tempo de trabalho envolvido no processo de produção, a lei de oferta e procura, e outros fatores de mercado.
[2] SARTRE, Jean Paul. Crítica da Razão Dialética.
[3] Versão adaptada do termo de Deleuze, “então era isso que isso queria dizer”.
[4] DURKHEIM, Émile. A divisão social do trabalho.
[5] ANTUNES, Ricardo.
[6] Habermas.

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