Ivson Carlos B Nunes
Valores
de uso e troca
Em “Os
Sentidos do Trabalho”, Antunes tem uma visão luckasiana do trabalho e do
capitalismo. Analisa o trabalho de um ponto de vista teleológico e ontológico.
Sua obra se atém às formas de trabalho na atualidade, tendo em vista as suas
transformações que ocorreram nas últimas décadas. Para analisar essas
transformações leva em consideração as mudanças no sistema capitalista, essas
mudanças são chamadas de “restruturação produtiva”, termo usado por outros
autores, mas que nele aparece de forma concreta ao apontar os sistemas
fordista/taylorista e toyotista como sendo mecanismo de reoxigenar o sistema.
Ao analisar essas mudanças também observa os fenómenos políticos como o
neoliberalismo, que irá enfraquecer os sindicatos, e permitir uma precarização
do trabalho.
No início do livro faz uso da visão
de Mészáros, observa de forma geral o capital e afirma que a grande mudança no
sistema a substituição do sistema de valores de uso pelo o de valores de troca[1]. Nesse sentido, explica
nos primeiros modos de produção as pessoas trabalham em troca de seus
sustentos, e assim a produção era determinada pelas necessidades humanas
(sistema de mediação de primeira ordem). No início do capitalismo, a base da
produção era a necessidade, e toda a relação se fazia mediante as necessidades
vitais dos homens, o sentido do trabalho era o sustento. Por outro lado, o
capitalismo atual trabalharia, segundo os autores, de acordo com o valor de
troca por troca, sendo assim não se guia mais em produzir de acordo com as
necessidades, e nem o trabalho se volta apenas para isso, as pessoas estariam preocupadas
em se manter no sistema de troca (sistema de mediações de segunda ordem).
O que os autores querem dizer é que
não são mais as necessidades vitais que dão vida ao capital, as mercadorias
produzidas são supérfluas, e cada vez mais o sistema se reproduz a partir de
capitais improdutivos. Acredito que com, isso signifique as pessoas estão mais
preocupadas com os valores de troca das mercadorias do que com as suas funções,
como exemplo poderia citar os carros, os celulares, as roupas, etc. Muitos
desses produtos estariam mais ligados a questão de ostentar preço, e com isso
comprovar luxo que a sua real função.
Acredito que seria preciso uma outra
análise, pois penso ser um pouco idealista acreditar que os valores de uso
podem substituir os valores de troca. Se o leitor me permite a ousadia, esse
dualismo marxista entre valor de uso e valor de troca, se parece muito com
outros tantos dualismo, como burguesia e proletariado, relações de produção e
forças produtivas, estrutura e superestrutura, etc., como Marx é materialista,
e sua base doutrinária se situa a partir do binômio estrutura superestrutura,
onde o primeiro determina o segundo, então não seria tão equivocado dizer que o
valor de uso seria estrutura e o valor de troca superestrutura, nesse sentido,
podemos concluir ainda que o primeiro determinaria o segundo, e assim, seria um
tanto inverte o materialismo marxista dizer que a troca é determinada pela
troca, seria o mesmo que dizer que as ideias são determinadas pelas ideias.
Não estou dizendo aqui que Marx
tenha produzidos todos os binômios a partir do seu principal, mas tendo a
acreditar que ela tenha sim feito isso, até por que o diferencial desse filósofo
foi inverter o binômio hegeliano. Talvez se o Marx estivesse vivo discordasse
dessa minha visão, mas sem dívida algum diria a ele que ele então cometeu uma
contradição em seu sistema.
Bom, saindo de um ponto de vista
teórico, e talvez até mesmo especulativo, vejamos mais de perto essa visão do
Antunes. A troca pela troca não faz sentido, as pessoas não vão se escravizar
ao capital com o único desejo de obter os valores de troca das mercadorias. A
verdade é que existem outros valores de uso nas mercadorias, ou seja, o carro
tem uma função que antes não tinham, o de ostentar riqueza, o mesmo pode-se
dizer de outros produtos. As pessoas fazem uso dos valores de troca, os usam
para apresentar status, como se mostrar consumidor, e assim ganham estatuto de
cidadão. Podemos dizer que o status é algo supérfluo, e que não possui e mesmo
valor de um carro em si, porém o status se tornou um uso de objetos. Nesse
sentido as mercadorias estão ganhando novas funções que vão além das de uso
tradicional. O carro continua tendo valor de uso, porém é usado de outra forma,
é usado socialmente. Na verdade, e resumindo, o valor de troca se converte em
valor de uso, e não o contrário.
Mas ainda podemos ir mais longe
nessa discussão, o valor de uso do valor de troca também não faz sentido se
levarmos em conta que os esforços feitos pelo status não valem a pena, a
questão porém é que o status deve ser mediador da satisfação de outras
necessidades humanas, e não falo de uma necessidade subjetiva, que seria o
status. Se terminasse minha análise por aqui, estaria cometendo o mesmo erro
que apontei no autor, sendo idealista, tendo em vista que usando de mesmo
método, perceberia que valores subjetivos não podem determinar valores
objetivos, assim, penso que o uso do status deve conduzir as pessoas a
realizarem suas necessidades materiais objetivas, quais são elas? Seria preciso
outra análise.
Nesse sentido, concordo com o autor
na questão de haver uma mudança profunda no capitalismo, porém não diria que
foi a substituição dos valores de uso pelo os de troca, porém se autor pretende
dizer que isso é uma subjetivação do capital na sociedade, então posso
concordar. Tendo em vista que de fato transformar valores de troca em valor de
uso faz com que a ideologia de mercado se introjete nas pessoas.
Reestruturação produtiva
As mudanças vistas anteriormente não
configuram como uma reestruturação propriamente dita, na minha visão. Irei
fazer mais à frente uma análise do que seria essa mudança, a princípio porém
afirmo que a tal mudança não é ruptura, mas sim uma continuidade do sistema
capitalista, ou seja, é fruto do seu desenvolvimento.
O sistema fordista era bastante
hierarquizado, e criava divisões na produção, colocando cada trabalhador em uma
função. Se olharmos bem veremos que isso é um sistema de castas dentro de uma
fábrica, isso nada mais é que a reprodução do que era a sociedade na época, ou
melhor, o que restava dela. O próprio sistema capitalista se tornou uma
reprodução do sistema feudal, as classes estavam bastante divididas, e isso
tornou possível a concepção de luta de classes, pois claramente operários
lutavam contra patrões. Assim, penso que o sistema fordista é fruto dessa visão
organizada da sociedade em ordens, mas o capitalismo nasceu para romper com
isso. Logo o fordismo tenderia a desaparecer.
O toyotismo fez com que a
necessidade mão de obra diminuísse, tendo em vista que houve uma flexibilização
na produção, ao contrário do antigo sistema, os funcionários não têm funções
fixas, mas mudam de acordo com as necessidades, ele não é apenas braço, mas
também cérebro, tendo em vista que faz parte do controle de qualidade e
participa do processo de enriquecimento da empresa.
Perceba que o toyotismo quebra com a
visão de “estamento” que existia nas fábricas fordistas, aqui já não é tão
claro quem é explorador e quem é explorado, sendo assim a luta de classes perde
a força que tinha no passado. Essa quebra da dualidade tem como consequência a
perca de identidade de classe, o proletário tende a se aproximar da visão
patronal. Essa parte da reestruturação tem um reflexo subjetivo na luta de
classes, chamo isso de reestruturação
subjetiva do capital.
O que
está em jogo, penso, é perceber que de fato, ouve uma reestruturação, ou se
isso na verdade é um mero desenvolvimento do capital, assim como a questão dos
valores de troca e de uso. Nesse sentido, o que vejo como principal é a quebra
do binômio burguesia/proletariado fazendo emergir uma classe média, ou melhor,
fazendo desaparecer a linha que separa as classes. Veremos mais à frente.
O outro fenômeno é a redução do
trabalho produtivo braçal, essa reestruturação é objetiva (Reestruturação
Objetiva do Capital), tendo em vista que reduziu a classe, tirando sua força, e
como consequência enfraqueceu os sindicatos.
Esses dois fenômenos fizeram com que
os sindicatos perdessem seus prestígios, tendo em vista que as questões de
condições de trabalho eram resolvidas dentro da fábrica, e que a mentalidade do
proletariado havia mudado. Os sindicatos ficaram submissos aos empresários.
Outra coisa a se pensar é se essas
mudanças não são fruto das reivindicações trabalhistas, e assim o
enfraquecimento dos sindicatos estariam ligados aos próprios interesses e
estratégias sindicais, Sartre denomina esse fenômeno de contra-finalidade[2].
Essas formas de reestruturação
acontecem no plano econômico, são as empresas que fazem elas. Segundo o autor
do livro em questão essa mudança é resposta à crise do capitalismo. Afirmei
porém é que é preciso analisar se essas mudanças não são fruto do próprio
desenvolvimento do capital, e ainda se as reivindicações trabalhistas não
contribuíram.
Outra forma de reestruturação é a
política, o autor fala da crise do sistema de Bem Estar Social, e do
neoliberalismo. O autor não faz uma comparação ou tenta aproximar essas duas
formas de reestruturação, eu porém me questiono sobre o caráter do
neoliberalismo. O que quero dizer com isso, é que se o primeiro significa uma
mudança no interior do capital, o segundo é organizado pelos gestores do
capital.
Para alguns economistas o
neoliberalismo não é liberal, essa é a visão do José Monir Nasser, ele acredita
que é uma forma de o Estado pressionar as empresas sem precisa gerir a
economia. Penso que exista uma diferença do modelo de Thatcher para os atuais.
Que na verdade seria o modelo, tratado pelo autor, do New Labor de Tony Blair,
ou terceira via.
Nesse sentido penso que falta
analisar o chamado neoliberalismo de partidos como o PT, que se diferenciam do
modelo inicial. A tentativa do Nasser me parece ser frustrada, porém ninguém se
propõe a fazer outra análise.
O proletariado
O autor coloca todos os
trabalhadores no mesmo patamar. Ele criou um termo que parece querer substituir
o termo proletariado, chamo a classe trabalhadora de
classe-que-vive-do-trabalho. Ele afirmar que existem mudanças na configuração
da classe trabalhadora, como vimos anteriormente. Percebe que o trabalho morto
tem crescido em detrimento do trabalho vivo. E que o trabalho imaterial tem
aumentado em detrimento do trabalho produtivo. De fato, os números compravam
isso, a classe operária tem sofrido uma redução.
A necessidade de criar tal termo,
está ligada, penso a questão de perceber um novo agente social. Isso acontece
devido Karl Marx ter depositado confiança no proletariado para para fazer uma
revolução . Porém, essa classe tem
diminuído a ponto de setores dos movimentos sociais enxergarem em outras
classes um agente revolucionário, hoje os gays, as mulheres, negros, jovens
pobres, e outros atores têm sido vistos como os novos revolucionários.
Penso que essa tentativa do Antunes
é um tanto falha. Tendo em vista que ele homogeneíza toda uma classe. A verdade
é que a classe do proletariado de Karl Marx era a fabril, ela era
revolucionária devido está ligada aos meios de produção, e por que que não
teria nenhum interesse no velho mundo. Marx fala que ela é a única classe
revolucionária.
Hoje, a imensa maioria dos
trabalhadores são do setor de serviços, trabalham em bancos, no comércio, em
restaurantes, lanchonetes, e cumprem com tarefas bem diferentes dos antigos
proletários. Estão desligados do coração da sociedade que é a produção. Ele não
coloca apenas os trabalhadores do setor privado não braçal como sendo
semelhante ao proletariado, mas também os servidores públicos. Assim, todas as
classes que trabalham são membros dessa classe-que-vive-do-trabalho?
Será que um camponês ou um
comerciante ambulante fazem parte desse mesmo exército? Ora, todos eles
trabalham. Bom, os trabalhadores que têm seu pequeno meio de vida não podem ser
vistos como proletários, ou como um desempregado em condição de trabalho
informal, essa visão parte do pressuposto de que o natural é vender sua força
de trabalho, estando todos os demais em condição de subsistência. Mas a verdade
é que os pequenos proprietários não possuem as mesmas aspirações dos
trabalhadores de empresas. Essa uma tendência de procurar o que se quer ver em
tudo, no final da análise os intelectuais dizem “então era isso que isso queria dizer desde o início[3]”.
Uma coisa é um trabalhador desempregado outra coisa é um pequeno proprietário,
não se pode encaixar o binômio burguesia/proletariado em tudo.
O mesmo digo em relação aos
trabalhadores de empresas que não estão na produção. Se eles decidem fazer uma
greve mudam que quase nada a realidade, tendo em vista que seus setores não são
fundamentais, uma greve de professores tem função apenas política, mas não
ameaça o sistema. Existe um fosse enorme entre trabalhadores de empresa privada
e servidores públicos, o fato de eles serem assalariados não os coloca na mesma
situação.
Nesse sentido, penso que o termo
classe-que-vive-do-salário seria mais justo, tendo em vista que separaria os
assalariados dos pequenos proprietários. E mesmo assim teríamos uma forma de
totalizar servidores e trabalhadores do setor privado o que não seria muito
interessante.
Os trabalhadores do setor privado
não se identificam com o operariado em nada, suas condições de trabalho são
muito diferentes. Comumente quem trabalha no comércio são oriundos das cidades
grandes, enquanto que quem vai para as fábricas são de origem rural, ou vivem
de atividades de subsistência nas periferias, ou seja, eram pequenos
proprietários falidos, que usam de seus conhecimentos no serviço produtivo para
servirem à produção fabril.
O proletariado fabril tem muito mais
condições de lutar contra o capital, eles se unem com muito mais facilidade,
tendo em vista que essa classe desenvolve uma relação entre seus iguais mais
sadia que nos outros setores do privado. O que os leva à fábrica são questões
concretas, são interesses em manter suas famílias, e se alimentar, com isso
suas tradições e valores não desaparecem, e assim, aprendem a arte da
solidariedade em pouco tempo. Os demais setores privados são marcados por
interesses individuais dos seus funcionários, a atendente de telemarketing quer
terminar a faculdade e não tem nenhuma vontade de continuar ali, suas relações
ali são tênues e já começam fadadas a fracassarem. Os que querem continuar
estão em disputa com outros, e com isso acabam precisando mostrar mais
capacidades. Esse setor é aburguesado, e em quase nada se diferencia da
burguesia, e isso não é alienação de classe, a verdade é que eles não são
proletários, e nada tem de semelhante com o trabalho estudado por Marx. Não é
por menos que vemos que as greves desses setores são puxadas por sindicatos e
tem interesse político, a base quase não participa, e em muitos locais existe
um sistema coercivo de paralização, como nos sindicatos dos bancários que pagam
para que pessoas fechem as entradas dos bancos, do telemarketing que muitas
vezes são ameaçados para pararem afim de mostrar ao patronal que o sindicato
tem força. Por outro lado, os operários precisam de sindicatos para impedir
suas greves em vez de organizá-las, foram os casos recentes de trabalhadores de
Suape, onde estouraram diversas greves sem a participação dos sindicatos,
nesses setores o sindicato é forte diante das empresas porque impede a greve e
não por fazer, e por isso recebem regalias patronais a fim de controlar os
operários.
Penso ser querer foçar a barra ver
um comerciário como um proletário, ele não vende sua força de trabalho como faz
o proletário, não é a mesma coisa, ele faz um contrato para ficar por tanto
tempo vendendo mercadorias, por vezes recebem comissão, isso é diferente de
ficar por um certo tempo produzindo. O proletário tem noção de quanto de
riqueza produziu, o comerciário tem noção apenas de quanto de riqueza ajudou a
remeter ao bolso do patrão. Isso são coisas diferentes.
Minhas visões sobre o capitalismo atual
Penso que a tendência do capitalismo
seja equalizar a sociedade, transformando tudo à sua volta em reflexo do
capital. É um processo de totalização, que vai convertendo tudo o que troca em
mercadoria.
O capital tende a quebrar as
barreiras que impedem sua circulação, as ideologias tendem a desaparece, assim
como a família, e a religião. Tudo tende a se tornar uma peça na grande
engrenagem do capital.
A mudança dos sistemas vistos remete
a isso, valor de uso ser transformado em valor de troca, e vice versa. Comprar
uma coisa apenas pelo seu valor de troca é uma forma de levar o capital para os
lugares onde ele ainda não chegou. Aos poucos tudo se torna capital.
As mudanças de fordismo para
toyotismo tem o mesmo significado, os trabalhadores vão se acoplando ao
capital, de forma que eles já não são mais classes, mas indivíduos com suas
mercadorias a serem vendidas, fazem de suas vidas um capital, agregando valor a
fim de aumenta-lo. Se o proletário antigo queria apenas se manter, os
funcionários das empresas atuais se veem como um capital vivo, e não trabalho
vivo. Eles possuem espirações de enriquecimento e investem em seu capital. Isso
constitui uma totalização do capital, transformando todos em peças de uma
grande engrenagem.
Não existe mentes por trás disso, é
um fenômeno do próprio sistema. Tudo o que existe vai ganhando valor de
mercado, família, casamento, amizades, tudo o que existia separado do sistema
se torna membro dele.
Giles Deleuze, em seu livro O
Anti-Édipo, percebe isso, ele argumenta que o capitalismo tem limites, mais
quando chega nele o limite se expande, em outras palavras o capitalismo não tem
limites. Os indivíduos vão se acoplando a ele ao ponto de nem perceberem que
existe outro sistema. Ou seja, a vida natural, ou reino da liberdade.
Os partidos de esquerda sabem
perfeitamente disso, e por isso investe no sistema de opressão, não mais se
importam em combater o capital, mas em promover a “igualdade”, na verdade isso
nada mais é que facilitar para que o capital transforme tudo em seu semelhante.
Tendo em vista que tudo pode ser trocável.
Em pouco tempo, se continuarmos
avançando o capital, cada indivíduo será totalmente livre para fazer de seu
corpo um capital, a moral será lapidada a ponto de facilitar isso, assim, a
venda de órgão, de crianças, tudo isso tende a ser permitido.
Penso que existe entre um sistema de
solidariedade mecânica e um sistema de solidariedade orgânica[4], sendo o primeiro das
sociedades pré-industriais e o segundo das sociedades industriais, no primeiro
as pessoas se relacionam de acordo com as regras morais da cultura, no segundo
o que acontece é a substituição do primeiro por relações de mercado. Ainda
existe esses dois sistemas, um da cultura, outro do mercado, o capital tende a
juntar ambos em um.
Luckak vs Habermas
O autor trabalha bem essa questão.
Tendo em vista a questão teleológica do trabalho. Ele afirma que para Luckak o
trabalho faz o homem se desenvolver, sendo que primeiro se desenvolve em
relação com natureza e depois em relação com a sociedade (natureza orgânica e
inorgânica). Divide isso em sistema teleológico primário e secundário. Nesse
sentido o trabalho teria como função conduzir o homem para uma condição de
liberdade. Como vemos no trecho a seguir:
“O trabalho tem, portanto,
quer em sua gênese, quer em seu desenvolvimento, em ser ir-sendo e em seu
vir-a-ser, uma intenção ontologicamente voltada para o processo de humanização
do homem em seu sentido amplo[5]”
Por
outro lado, o Habermas tem uma visão pessimista tendo em vista que o trabalho
não seria uma condição de liberdade. O Habermas ver que o socialismo estaria em
crise por que o trabalho não seria findado, mais que estaria acontecendo um
processo contrário, onde os mundos da vida e sistema[6] estaria se acoplando – semelhante ao que vimos anteriormente. O
Habermas ver que o processo fundante da sociedade é o mundo da vida, ou o da
comunicação.
O Antunes discorda do fato de o
mundo da vida ser o fundante, vejamos:
“(...) não posso concordar com
Habermas, quando ele confere à esfera intercomunicacional o papel de elemento
fundante e estruturante do processo de socialização do homem”
(Antunes, p. 156)
O Antunes tenta afirmar que na
verdade não existe separação entre as esferas do munda da vida e do sistema, ou
melhor, do trabalho e da comunicação. O Habermas comparar os dois sistemas com
o que Marx chama de reino da liberdade e da necessidade, vejamos:
“Sistema e mundo da vida
aparecem em Marx sob a metáfora do ‘reino da necessidade’ e ‘reino da
liberdade’. A revolução socialista libertará o ultimo do primeiro”
(Habermas)
Perceba que para Habermas o
socialismo teria que ser o reino da liberdade, onde o trabalho seria suprimido
pala liberdade. O Antunes pretende unificar os dois, com sendo ligados. Sendo o
trabalho meio de liberdade:
“O trabalho, a sociabilidade,
a linguagem, constituem-se em complexo que permitem a gênese do ser social.
Como vimos anteriormente, entretanto, o trabalho possibilita pela primeira vez
no ser social o advento do ato teleológico interagindo com a esfera da
causalidade. No trabalho o ser se expões como subjetividade (pelo ato
teleológico, pela busca de finalidade) que cria e responde ao mundo social”
(Antunes, p. 156)
E
mais:
“Se o trabalho tem o sentido
de momento predominante, a linguagem e a sociabilidade, complexos fundamentais
do ser social, estão intimamente relacionados a ele, e como momentos da práxis
social esses complexos não podem ser separados e colocados em disjunção” (Antunes,
p. 156)
A visão de Antunes a bastante
interessante, porém, se o Habermas vê dois mundos, os vê em acoplamento. Sendo
que o trabalho continua sendo o cerne. Antunes tentar juntar desde o início.
Colocando que a vida social e do trabalho são a mesma coisa. Porém é fato que o
trabalho tem sido um mundo deferente do munda da vida, podem se juntar, mas não
o são agora.
Perceba ainda que a visão de
Habermas se assemelha ao que vimos do Deleuze, pois ao entrar o capitalismo em
outras esferas vai tornado tudo em capital.
É verdade que o trabalho faz parte
da sociabilização, mas penso que o Antunes não consiga ver que a fusão está
acontecendo de forma inversa da prevista por ele, ou seja, em vez de fazermos
do trabalho parte do mundo intercomunicacional, é o mundo intercomunicacional
que está fazendo parte do mundo do trabalho. Em pouco tempo a vida será toda
voltada para o capital. A vida social será a vida do trabalho.
O fim da classe operária
O autor insiste que não está
acontecendo uma extinção da classe trabalhadora, como pretendem muitos, porém
acho que é preciso analisar algumas questões sobre isso.
De fato, como o autor diz, está
havendo uma precarização do trabalho, uma subproletarização, uma agregação do
trabalho imaterial ao material, etc.
Mas é fato também que a produção
material precisa cada vez menos de operários, talvez não tenha ocorrido uma
diminuição do total da classe, porém em países específicos isso é constatado.
Podemos levar em consideração que as empresas têm levado suas fábricas para
lugares mais pobres, e reduzido assim a classe em seu país de origem, não tenho
dados que apontem que de uma perspectiva mundial o operariado tenha aumentado,
talvez tenha crescido, talvez não.
Na visão de Habermas, criticada por
Antunes, a ciência tem sido a principal força produtiva, e com isso as empresas
conseguem produzir mais com menos trabalhadores. Marx não previu um fim da
classe operária, pelo contrário previu seu crescimento, a ponto de se tornar
uma força incontrolável. Marx viu que as necessidades humanas depois de
satisfeitas produziam outras e por isso sempre seria necessária mais produção.
Antunes quer ver a subproletarização
dos trabalhadores como prova de que a classe trabalhadora não some,
apresentando os aspectos que provam que suas vidas pioram. E de fato pioram,
mas não penso que seja isso que esteja em jogo, a piora de vida dos
trabalhadores não os torna mais proletários, nem revolucionários, isso não prova
que não está acontecendo uma redução da classe trabalhadora.
O que parece é que ele tenta rebater
a ideia de que o capitalismo traz melhorias de vida, isso realmente não traz.
Mas é verdade que cada vez mais precisa de menos trabalhadores, tanto produtivos
quanto improdutivos. A tendência é haver uma grande massa de pessoas que terão
que aprender a fazer de suas vidas um capital. Vi na TV um homem norte
americano que estava desempregado e então resolveu abrir um negócio, começou a
guardar lugares em filas e vender por telefone ou internet, as pessoas podiam
pedir antes e assim o dono do negócio mandava uma pessoa ficar no lugar pedido.
Isso mostra que a tendência é que as pessoas procurem ser donas de seus
capitais, participando do sistema como pequenos empresários, serão explorados,
mas não serão proletários.
Uma tendência é a substituição do
trabalho produtivo por outros, o financeiro comercial e de serviço. Nesse
sentido a classe operária será jogada fora, e como previu Marx as mulheres
substituirão os homens, tendo em vista que os novos empregos não exigiram
esforços.
Os homens devem formar um grande
exército de desempregados, pois se tornarão indesejáveis aos novos serviços,
terão dessa forma que aprender a se acoplar ao capital fazendo parte dele,
criando seus mecanismos individuais de sobrevivência, porém ligados ao capital.
Penso que deve se desenvolver um
novo sistema prisional para conter essa massa, como já vemos, com as pulseiras
controladoras, de presidiários, haverá uma extensão da cadeia para o espaço
público, ou seja, o indivíduo estará na rua, mas é um presidiário. Isso, óbvio
para quem não conseguiu se acoplar ao sistema.
Nessa perspectiva a derrubada do
sistema já não tem relação alguma com as antigas teorias, tendo em vista que
não haverá uma classe propriamente dita, e as relações de poder serão
totalmente modificadas.
Referências
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho.
DELEUZE, Guiles. O anti-édipo.
DURKHEIM, Émile. Divisão social do trabalho.
[1]
Valor de uso é o preço pago numa mercadoria diante a sua funcionalidade, ou
seja, a compra de uma cadeira está associada a necessidade de usá-la; por outro
lado, o valor de troca remete ao valor de mercado, leva-se em consideração o
tempo de trabalho envolvido no processo de produção, a lei de oferta e procura,
e outros fatores de mercado.
[2] SARTRE, Jean Paul. Crítica da Razão Dialética.
[3]
Versão adaptada do termo de Deleuze, “então era isso que isso queria dizer”.
[4] DURKHEIM, Émile. A divisão social do trabalho.
[5] ANTUNES, Ricardo.
[6]
Habermas.
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