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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Hermano Viana – Elite Brasileira e Música do Povo: pequena análise





O autor começa falando da modinha, que começa a se popularizar já no século XVIII, usa para tanto as impressões de Thomas Lindney para demonstrar como a elite, apesar de prezar por valores europeus, se entregava a musicalidade negra, como vemos no trecho a seguir do viajante:
“Em algumas casas de gente mais finas ocorriam reuniões elegantes, concertos familiares, bailes e jogos de cartas. Durante os banquetes e depois da mesa, bebia-se vinho de modo fora do comum, e nas festas maiores apareciam guitarras e violinos, começando a cantoria. Mas pouco durava a música dos brancos, deixando lugar a sedutora música dos negros, misto de coreografia africana e fandangos espanhóis, e portugueses” (citado em Pinho, 1959: 27)”
            É difícil dizer como era de fato a relação da elite com a música popular, onde alguns autores afirmam que a elite baiana não aceitava as músicas populares, e outros como Tollenau dizia que nos salões Pernambuco só se ouvia lundum. Gilberte Freire falou de um certo isolamento da colônia, o que teria permitido esse cenário no Brasil. O autor, porém propõe que o isolamento é relativo, tendo em vistas que a elite portuguesa tinha certo apreço as músicas vidas de além mar.
            A modinha teria tido como expoente no séculi XVIII o padre Domingos Caldas Barbosa, que teria tocado na corte em Portugal, sendo mal visto por personalidades como Boccage, e Antônio Ribeiro Santos que havia afirmado que o fato de se tocar tal música na corte representava a começo do fim do império.
            Vários nomes da literatura são citados em seu texto, como Machado de Assis, por exemplo, que frequentavam lugares, como a tipografia de Paulo Brito, onde se tocava a modinha e outras músicas populares. O autor fala em uma re-popularização da modinha, que tinha se hibridizado com elementos italianos e ciganos (Tinhorão), citando o Melo Moraes Filho. Em outras palavras, depois de ouvida na corte e na elite brasileira, volta a ser ouvida no povo com frequência. Já o Gilberto Freyre vê em outro momento mais tarde uma re-europeização da música.
            É importante salientar que essa música, que teria sido trazida novamente na vinda de Dom João, era tocada de forma diferente entre a elite e o povo, numa se ouvia o piano, noutra o violão (Freyre).
            Um dos cantores de sucesso citado pelo autor foi o Catulo da Paixão Cearense, que tinha cantado para personagens como Rui Barbosa e Floriano Peixoto. Outro seria o Afonso Arinos, que apesar de viajar pelo exterior cantando para pessoas importantes, tinha um apreço peculiar pelas coisas da terra.  
As tensões com a música popular se deram cedo no Brasil. Sendo importante destacar as contradições da cultura da elite para com o samba. Essa música tem origem na Bahia, e é trazida para o Rio de Janeiro. Logo se adaptou à região tomando os morros favelas, e dando as características de uma música urbana e periférica.  
Essas questões vão trazer significativas lutas culturais, com discriminação, e por vezes perseguição, no Brasil do século já no início do XX.
A elite brasileira tinha feição pelos padrões europeus de música, isso faziam com que tivessem aversão às músicas populares produzida pela população essencialmente negra.
Essa situação é bastante difícil para a elite, tendo em vista que esta nada produzia de novo na cultura nacional, seus elementos eram europeus, por outro, lado a cultura popular ganhava uma feição cada vez mais territorial, tendo em vista que o povo não se prende a regras fixas. Nesse sentido a cultura popular se mostrava viva e em desenvolvimento, em oposição a da elite que se atrofiava.
A música negra era bastante mal vista, uma autora fez um trabalho mostrando com os elementos do sambista apresentados nas capas de disco, como o chapéu cobrindo parte do rosto, o jeito de andar quase caindo, as roupas listradas, a navalha na mão, e outros elementos significavam um estereótipo sobre os sambistas: o chapéu cobrindo o rosto para esconder as intenções de um bandido, e para não torna-lo identificável; o jeito de andar que representava o malandro, o esperto, que vive de enganar, que tem ginga para viver “na manha” ou sem precisar trabalhar; a roupa listrada que lembraria a roupa de um presidiário norte americano; e a navalha para mostrar que estavam sempre dispostos a uma briga. Tudo isso apresentava o que era o sambista[1].
O Viana fala do uso do violão, que representava um instrumento de fácil mobilidade, podendo ser levado para onde, isso se dúvida seria coisa de malandro, que não tendo o que fazer poderia ficar tocando violão por onde passava. Era assim que a elite pensava. Vemos uma cena parecida com essa no livro “Triste Fim da Policarpo Quaresma”, onde um violonista é descriminado simplesmente por estar com um violão.
Mas existem outras questões evolvidas na música negra que vão ser encaradas como atraso para a elite. As letras das músicas tratavam bastante de relações amorosas, o que envolviam traições, relações efêmeras, etc., muitas letras eram uma afronta para a sociedade da época, já que usavam termos comuns na vida popular, normalmente envolvidos por pornografia.
Penso que esse trabalho do Viana tenha sido de grande importância para o entendimento das relações entre cultura popular e erudita, além de compreender o desenvolvimento da música brasileira, tendo em vista a modinha, o lundum, e o samba. Coloquei esses elementos que estudei em outros autores para apresentar as contradições que se deram num período mais recente, e assim fazer um link com o passado. Fica o questionamento sobre as relações da música hoje, por exemplo, o que é samba? Penso que os grupos sociais tenta definir seus conceitos para se apresentar como mais originais e brasileiros. O pagode não é samba? Será que nossos pagodeiros não se sentem sambistas? Bom, para uma camada da sociedade isso não é samba, samba é uma música de nível mais elevado. Penso que essas sejam novas tensões.



[1] RESENDE, André Novaes de. Da Lapa para a capa: estudo intersemiótico das capas de discos de samba vinculadas à imagem do malandro.

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