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domingo, 11 de janeiro de 2015

RESENHA DO FILME “O VELHO”




            Era década de 20, o país era governado pela política da República Velha, já não era mais os militares que detinham o poder, mas a República parecia não ter sofrido nenhuma mudança com a saída da influência desse agrupamento. O país sofria com vários problemas sociais, entre eles o principal as diferenças econômicas regionais. Com a subida de presidentes civis o poder ficou sendo partilhado entre as elites nacionais, de um lado estavam os produtores de café de São Paulo, a nova elite nacional; por outro estavam os produtores de leite do maior público eleitoral do país, que era Minas Gerias. O peso desse estado na política se dava mais pelo motivo de colégio eleitoral que pelo poder dos produtores de leite. Dessa forma, o cargo de presidente ficava sendo alternado entre os paulista e mineiros. Outa característica é que o voto continuava sendo o de cabresto, as mulheres não votavam e o campo era dominado pelos coronéis.
            Em 1922 o presidente eleito tinha sido Arthur Bernardes, nesse mesmo ano explode a Revolta dos 18 de Copacabana. Essa revolta se dava no meio militar, entre oficiais de baixa e média patente que estavam inconformados com a política do país. Dentre os revoltosos estava o Tenente Luiz Carlos Prestes, mas por motivos de saúde não esteve presente na revolta.
            Os motivos da revolta, penso, se deram pela falta de participação das forças armadas no poder, essa corporação na verdade havia perdido prestígio. Arthur Bernardes antes mesmo de se tornar presidente, escrevera uma carta ofensiva ao Marechal Hermes da Fonseca, que era o presidente do clube militar. Quando assumiu a presidência prendeu o marechal. O Forte de Copacabana era liderado pelo Capitão Euclides Hermes da Fonseca, junto a Escola Militar saíram na revolta. Os oficiais de alta patente não aderiram e denunciaram ao governo, como consequência o movimento foi reprimido.
            Mais tarde os tenentes tentam derrubar Arthur, ocorre uma revolta em São Paulo que foi fortemente reprimida. Os militares se retiram de São Paulo e se espelham pelo interior do Brasil. O movimento Tenentista se deu em vários locais do Brasil. Ocorrendo além da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, a Revolução de 1924, a Comuna de Manaus e a Coluna Prestes.
            Na verdade, Prestes tinha muito prestígio no meio militar, era uma pessoa extremamente disciplinada, o que dava confiança aos seus superiores. Depois da Revolta dos 18, ele tinha sido designado a acompanhar a construção de obras militares. Os oficiais de alta patente confiavam nele para delatar as conspirações, e Prestes se utilizou dessa confiança para organizar a Revolução de 1924 junto a outros tenentes. Como o insucesso da Revolução Prestes se dirigiu ao Rio Grande do Sul, lá tomaram um Quartel e organizaram a Coluna da Esperança. Nesse momento foi convidado por outros tenentes a se dirigir para o exterior, mas por estar convicto da força de seus homens achou aquela ideia equivocada.
            Prestes era o tenente, que junto com outros como Juarez Távora, mais admirado pelos soldados. Para escapar das forças do governo saíram em marcha pelo interior do país. Nessas andanças a Coluna Preste, como ficou conhecida, conheceu várias regiões do país, e viu as dificuldades que passavam as populações interioranas. Prestes não admitia mulheres na Coluna, pensavam que elas podiam atrapalhar. Era evidente que pensasse assim, pois era um militar havia absorvido a ideologia da corporação. Porém, teve que admiti-las devido a insistência das mesmas na Coluna. Como o próprio afirmou mais tarde, ele teve que fazer a auto crítica, pois elas haviam servido na causa. A intensão da coluna era de fato derrubar Arthur Bernardes, mas tinham um projeto para a sociedade além da mera conspiração corporativa. Defendiam o fim do voto de cabresto e a implantação do voto secreto e feminino. Penso que de fato as principais questões da causa eram corporativas, ou seja, de interesse militar, já que essa instituição havia perdido espaço da política. O fato de a Revolta se dar no momento da prisão de Hermes da Fonseca demonstra essa minha inclinação. Apesar desse corporativismo havia de fato pautas que eram a favor dos interesses das classes populares, mas para qualquer movimento político é preciso que elas existam, ou então não terá sucesso. O fracasso do movimento se deu devido a não aderência dos oficiais de alta patente. Apesar disso é incorreto pensar que todos os indivíduos envolvidos estivessem ali meramente por questões corporativistas. Luís Carlos Prestes tinha de fato uma visão de sociedade mais justa que ia além dos interesses dos militares. E por esse motivo teve tanta identidade com a causa comunista.
            Paralelamente a esses eventos, está ocorrendo uma febre do marxismo no mundo. Em 1917 o partido bolchevique da Rússia toma o poder e implanta o socialismo no país.  Nesse momento Lenin organiza a Terceira Internacional Comunista com o objetivo de incentivar revoluções em outros países. A Terceira Internacional tinha uma caráter de quebra com os pensamentos da Segunda Internacional, que pregava a conciliação da burguesia com o proletariado. A terceira, pole contrário, pregava a luta armada pelo poder. Nesse contexto no Brasil Havia sido formado o Partido Comunista Brasileiro, que havia sido formado por anarquistas e socialista do país. Tinha havido antes diversas tentativas de formação de uma partido comunista, mas todos eles tinha fracassado.
            Preste teve que se retirar do Brasil e se exilar na Bolívia. Lá conheceu um membro do Partido comunista e da III Internacional. Recebeu dele o Manifesto do Partido Comunista de Karl Marx. Dedicou seus tempos livres a estudar o marxismo. Segundo Prestes aquelas ideias explicavam todas as questões sociais que ele conhecia no Brasil. Logo se tornou o comunista e passou a militar pela causa.
            Prestes volta ao Brasil com a intensão de organizar uma Revolução Proletária. Nesse período Vargas se prepara para fazer a Revolução de 30, os interesses de Vergas eram semelhantes aos dos tenentes, queriam o voto secreto, a integração nacional, e o voto feminino. Nesse sentido conseguiu o apoio dos tenentes. Para Vergas era imprescindível o apoio de Prestes, fez então o convite para liderar o movimento. Prestes não diz que sim nem que não, e mantem o diálogo com Vargas. Ele afirmava para Vargas que era preciso fazer-se uma revolução proletária e que queria apoio para esse intento, Vargas na ilusão de conseguir o apoio do comunista enviou-lhe recursos financeiro. Segundo Prestes em seu depoimento para o filme, o dinheiro era pouco, não queria devolver por que não de Vargas, mas do Estado, era pouco pra ser comprado, mas que não podia entregar de volta pois precisava para organizar uma revolução. Fez então o repasse do dinheiro para a Internacional. Getúlio tende a se afastar de Prestes, pois via que suas ideias eram um tanto radicais.
            O PCB não queria aceitar Prestes no partido, pois o considerava muito pequeno burguês para a causa da revolução. Prestes só foi aceito devido ás fortes pressões da Internacional. Aquando da Revolução de 30, Prestes vai para a União Soviética. La ele já possui admiradores desde a Coluna. Recebe do Partido Comunista da União Soviética as orientações para fazer a revolução no Brasil. Para voltar ao Brasil teve que se disfarçar de um homem rico com sua esposa indicada pelo PCUS. Sua companheira era Olga Benário, uma judia alemã, membro do Partido Comunista alemão, que fora à URSS para obter treinamento militar. Olga era ainda muito jovem, cerca de 18 anos quando conheceu Prestes. Era perseguida pelo governo nazista, pois havia participado de várias ações revolucionárias, sendo uma delas o resgate de seu ex-namorado no julgamento de um tribunal nazista. O PCUS, mandou Olga como uma guarda costa de Prestes ela devia protegê-lo com sua própria vida. Alguns defendem que ela havia sido enviada para vigiar Prestes. O que era um disfarce acabou se consolidando na vida real, Olga e Prestes começaram um relacionamento.
            Ao chegar ao Brasil, Prestes fazia parte do Comitê Central, órgão máximo do Partido. Recebi um recurso financeiro da URSS. Além de ajudar de técnicos estrangeiros especializados em bombas, e telecomunicações. Vargas sabia que Prestes estava no Brasil e começa a sua caçada. A Revolução tinha data marcada, Prestes dava as informações para Moscou, e de lá recebia as ordens. Nesse contexto surge a ANL (Aliança Nacional Libertadora) ligada ao partido. Na avaliação da direção do partido as condições estavam dadas para que fosse feita a revolução. Prestes pediu a orientação do PCUS, mas antes dela chegar tomou a decisão de iniciar o levante. Pensavam ter apoio da classe operária, e tinham marcado uma greve geral para enfraquecer o governo e tomar o poder. Contavam também com apoio de tropas militares. No dia do Levante, a Intentona Comunista, as tropas aliadas do partido se dirigem da Paraíba para Natal. As tropas forma massacradas e as greves não aconteceram, o movimento foi um fracasso.
            A namorada de um dos dirigentes, tinha acesso direto ao comitê central, ela havia sido submetida a tortura, logo depois foi dispensada, mas os membros do partido sentiam desconfiança dela. Depois desse acontecimento começaram a a cair membros da direção do partido, para a direção era claro, ela havia denunciado os militantes. Um dos estrangeiro que vieram para apoiar revolução foi torturado e acabou dizendo o nome do bairro onde Prestes estava escondido. Vargas mandou vasculhar casa por casa do bairro. Ao encontrarem Prestes apontaram as armas para mata-lo, mas Olga se atirou na sua frente, dizendo que ele estava desarmado. Os dois forma presos.
            Olga Benário foi dada por Vargas a Hitler como um presente de aliados. E Prestes ficou preso isolado em uma cela. Olga estava gravida e foi para um campo de concentração, onde foi submetida a tortura. Ao nascer sua filha ficou em uma cela com ela até que desmamasse. Depois foi morta numa câmara de gás. A mãe de Preste, lutava pela libertação de seu filho e pelo resgate da sua neta.
            Prestes foi libertado e o país vivia uma outra realidade. Vargas havia sido eleito democraticamente e havia conquistado a apoio popular devido às concessões feita aos trabalhadores. Prestes teve que apoiar o seu carrasco, para ele a causa do povo era mais importante que as questões pessoais. Acreditava que Vargas havia contribuído com desenvolvimento industrial e com as conquistas trabalhistas.
            Prestes passa a ocupar a vida política, se tornando deputado federal pelo PCB. Quando ocorre a ditadura militar teve que se exilar novamente. Casou-se novamente com uma companheira do partido e teve outros filhos. Por motivos de discordâncias políticas se afasta do partido, mas o partido nunca o desfiliou.
            Prestes já vinha de família militar, seu pai foi capitão do exército. Porém perdeu seu pai cedo, e sua educação foi dada principalmente por sua mãe. Na carta que escreve a ela se despedindo, por motivo de perseguição depois da Revolução de 1924, ele afirma que não podia ver as injustiças do mundo e se conformar, pois foi sua própria mãe que o ensinou a defender o justo. Foi um homem extremamente disciplinado e foi isso que lhe fez ter sucesso na vida militar, se tornou capitão com 23 anos. Para o Cavaleiro da Esperança uma reforma política não iria resolver os problemas do mundo, era preciso uma mudança econômica, a implantação do socialismo. Teve seu primeiro relacionamento com uma mulher aos 37 anos com Olga, afirmava que não teve tempo para pensar nisso.



RESENHA DO TEXTO “MULHERES EM AÇÃO: PRÁTICAS DISCURSIVAS E PRÁTICAS POLÍTICAS”


            Raquel Soihet faz uso de fontes jurídicas para mostrar a vida das mulheres entre o período do século XIX e os anos 30 do século XX. A autora no início do texto afirma que a mulher era vista como expressão de beleza e inspiradora de desejo, e no mesmo parágrafo diz também que o corpo da mulher era vítima de violência. Essa violência é denominada de violência contra a mulher, pois é disferida por homens contra as mesmas. A autora conta que a maioria dos casos de violência contra mulher ocorriam dentro dos lares e eram provocados pelos companheiros, os tipos são vários; estupros, espancamentos e verbais.
            A autora afirma que a violência contra a mulher é uma questão que vai além das classes, para ela a mulher é oprimida em todos os setores e segmentos da sociedade, não importando a classe social dela. Soihet usa uma afirmação por cientistas sociais norte americanos para primeiro demonstrar que a violência, seja ela contra a mulher ou não, se dar em qualquer segmento, o texto diz o seguinte: “classe média não somente apresenta a mesma tendência que outras classes de se envolver em agressões físicas como também tem feito isso frequentemente. Se existe alguma diferença, essa reside no fato de a classe média ter maior propensão a agressão física do que as classes pobres.” Com isso tenta afirmar que de fato nas classes medias também ocorre violência. Mas na frente ela vai dizer que a mulher também é violentada nesse segmento, mas que esses casos são mais reservados, já que não são noticiados e as mulheres não denunciam. Ela nesse sentido vai de encontro ao pensamento de Marilena Chauí, a qual a autora cita, que diz que nas classes altas e médias os homens impõe suas vontades pelo poder do dinheiro, ou seja, eles por terem alguma riqueza podem dominar as suas mulheres sem nenhum problema, o contrário se dá nas classes baixas onde os homens querem impor sua ordem, mas não tem dinheiro e riqueza, para conseguirem se impor fazem uso da violência física. Calhoub vai confirmar isso, no texto da autora, afirmando que o homem não podia ser o mantenedor e dominador do relacionamento, mas que o desejava ser por influência dos segmentos dominantes. Nesses dois casos temos uma visão mais materialista da sociedade, traçando as relações sócias por um viés de classes, para nossa autora, no entanto, o problema da mulher está longe de ser uma questão de classes – seria uma guerra dos sexos? Penso que nenhum dos autores tem razão no que falam, mas a opinião de Chauí e Calhoub, parecem ser mais sensata. Acho que a sociedade ainda não produziu intelectuais que possam falr sobre isso de forma adequada, pois todos os intelectuais estão na mesma ordem do discurso, preso a visões maniqueístas e dualistas. Claro que existem intelectuais que deram alguns avanços mas nenhum chegou ao cerne da questão. Enquanto não for quebrada a ordem do discurso não vão surgir intelectuais que possam contribuir de fato para a questão, na verdade, pode sim surgir intelectuais que façam suas produções do lado de forma da ordem e quebrem as estruturas mentais da sociedade. Como o grande filósofo Foucault afirmou os novos discursos são produzidos de fora da ordem.
             Os documentos apresentados por Soihet são vários, mas todos são relatos de violência doméstica. Neles é possível perceber que muitas mulheres mantinham economicamente seus maridos e que esses não aceitavam fazer tarefas ditas femininas, isso acabava resultando em violência. Em muitos casos as mulheres não se conformavam com a situação de seus maridos não as sustentarem, e diante da violência reagiam. A maioria dos casos apresentados estão relacionados com a questão dos deveres do personagens do ambiente familiar, a mulher que trabalhava e o homem que não queria passar sua roupa, ou mesmo o homem que não pagava o aluguel ou que não trazia o sustento para casa. Mas ocorre casos nos setores médios, onde por exemplo um oficial do exército não aceitava que sua mulher estivesse na rua tarde da noite. Mas o mais interessante é que a mulher nunca aceitava essa violência que ela reagia, ou que gritava e chamava a atenção dos vizinhos – o que pra mim é muito importante, pois desmistifica a ideia de que essa prática é comum e a sociedade aceita isso como correto e justo, quando saiu o resultado da pesquisa do IBGE afirmando que 70% dos homens concordam que as mulheres que se vestem de forma provocativa mereçam ser estupradas todos aceitaram os dados (santa estupidez), numa discussão com o professor de filosofia Giraldelli, pelo facebook, afirmei que esses dados não condiziam coma realidade, que ou forma manipuladas questões, onde os pesquisadores induziam o entrevistado tal resposta, ou que existe algum erro de cálculo, pois a vida real não apresenta uma população majoritariamente a favor da violência contra a mulher, seja doméstica ou fora de casa nos estupros, o que ocorre é justamente o contrário a população não aceita e nunca aceitou (nem na pré-história) a violência contra a mulher, é só ver os casos de estupros na periferia onde o estuprador é linchado pela comunidade, na cadeia o estuprador sofre mais que qualquer detento, veja a letra da música do grupo Racionais MC´s : “homem é homem, mulher é mulher, estuprador é diferente né? Toma soco a toda hora ajoelha e beija os pés e sangra até morrer na rua dez”[1], isso de fato acontece, é fruto de uma constituição consuetudinária da sociedade. De fato a pesquisa estava errada, eram 25% dos homens que pensavam isso, o que pra mim ainda é estranho que não percebo isso na vida real, mas as estatísticas falam mais que a realidade.
            Outra questão interessante são essas relações de gênero nas esferas jurídicas do estado, a autora aponta os casos em que as mulheres são vítimas do estado que defende os homens, casos em que os maridos levam suas mulheres para os sanatórios, o que, porém a autora desconsidera é a origem de classes nesses casos, não foi apresentado nenhum documento onde um homem pobre mandou prender sua mulher, ou leva-la para o sanatório ou que a matou e ficou impune. Ora, os ricos não vão presos, seja por violência contra a mulher ou por corrupção, o que tem de estranho em um homem rico e influente não ir pra cadeia depois de cometer um crime? Talvez fosse mais estranho se ele fosse preso. Os homens ricos tem influência e podem fazer uso dela na justiça, caso inclusive, se quiseram levar sua mulher para um sanatório. O que acho equivocado é desconsiderar as questões de classes.
            Depois a autora vai falar da luta das mulheres por direitos e como o movimento feminista foi estereotipado. Surgiam várias caricaturas de mulheres que se assemelhavam a homens, se vestiam de forma avessa aos padrões. Essas mulheres eram tidas como não mulheres e os críticos faziam uso disso para difamar o movimento, afirmando que por não serem mulheres não podiam defender as mulheres. Alguns diziam que as mulheres que faziam parte disso não conseguiam casamento. Teve algumas vozes de medo de que a moda pegasse pois os homens seriam escravizados pelas mulheres.
            A autora ainda usa Chartier para falar da violência simbólica e da auto submissão da mulher influenciada pelo pensamento dominante.
            Já depois dos anos 30 as mulheres continuavam sofrendo preconceito em relação ao seu movimento, a sociedade, segunda a autora lhe impunha modelos de beleza, maternidade, castidade, formando uma imagem da mulher com moldes conservadores.
           
           




[1]                      Ver Racionais MC´s, Diário de um detento.

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