O
presente trabalho se propõe a analisar o discurso, a ideologia e a relação
desses com a realidade. Nesse sentido, o objetivo é conhecer como são
produzidos os discursos, por que razão eles são produzidos, a quem servem, etc.
Para isso vamos utilizar, em certo grau, o conceito aristotélico das quatro
causas, sendo elas a matéria, a forma, o eficiente – ou produtor – e a
finalidade. Esse, porém, não será a metodologia do trabalho, mas serviram de
auxiliares no entendimento do discurso como um objeto. Além disso, faremos uma
abordagem sobre a ideologia fazendo relação com o discurso, no objetivo de
encontrar a ligação entre os dois. Por fim relacionaremos a o dois primeiros
com a realidade, entendendo como aqueles são produzidos por essa e como essa é
reinterpretada por aquela. Para tanto precisaremos fazer uso das produções de
Marx, Foucault e Marilena Chauí, que trabalharam de maneira excelente esses
temas.
Para Marx a ideologia é uma produção
de grupos de homens – intelectuais – que estão fora da realidade. Sua visão de
mundo é distorcida do real. Por sua vez esse grupo interpreta os fenômenos da
realidade com base nessa produção. Marilena Chauí segue o mesmo caminho
apontando como sendo um sistema de dominação, tendo origem numa classe social.
Foucault afirma que os discursos são produzidos na produção de saberes, por sua
vez não há um sujeito produtor consciente desses saberes, eles são frutos de acontecimentos da realidade, além disso os
discursos são produzidos em diversas esferas, podendo estar em relação com
outros ou não, construindo uma rede de saberes e poderes, onde os indivíduos
são apenas receptáculos desse poder ao reproduzirem os discursos. Não há um
local ou classe exatos de onde emana o poder, mas vários.
Nesse sentido, o parece é que Marx
entende a ideologia como uma produção artificial de indivíduos que vivem na
superestrutura da sociedade. Como se eles as produzisse olhando-as de fora por
esse motivo eles a distorcem. O que não fica claro é se essa distorção é
intencional ou involuntária, ou seja, se esses produtores de ideologia as fazem
consciente disso. Para Cahuí essa produção se dá inconscientemente, mas serve
como dominação de uma classe. Nas sua palavras “Temos, portanto, uma teoria geral para a explicação
da realidade e de suas transformações que na verdade, é uma transformação involuntária (grifo meu)
de relações sociais muito determinadas para o plano da idéias”[1]. Já
para Michel Lowy é um “Conjunto
de idéias que procura ocultar a sua própria origem nos interesses sociais de um
grupo particular da sociedade. Esse é o conceito utilizado por Karl
Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895)”[2]. Lenin vai dar um
entendimento novo sobre a ideologia, sendo uma produção de uma classe social.
O que ocorre, na verdade, é uma descontinuidade[3]
do significado de ideologia que na verdade tem uma relação entre si. Para
Karl Marx essa ideologia é uma interpretação da realidade como um todo por
indivíduos que não há vivem. Assim sendo, ele não tem intenção consciente de
dominar a sociedade. Com isso também vemos que essa ideologia não parte de uma
classe, pois ela é geral e serve para o apaziguamento de todas as classes. Quando
Lenin vai dar entendimento de que vem de uma classe dá uma contribuição a esse
conceito, mas na prática acaba incluindo tudo que não é proletário como sendo
de origem burguesa, o que é um equívoco.
Gramisch, por sua vez vai dizer que
todo indivíduo é um filósofo, pois ele interpreta a realidade em que está
inserido. Sendo assim, o operário, produz sua própria consciência. Essa
contribuição de Gramisch foi importantíssima, para compreender a complexidade
de ideologias na sociedade. Mas é preciso entender como esses significados
foram sendo resignificados ao longa da história.
Ora, Karl Marx estava correto quando
diz que a interpretação da realidade é feita fora dela sendo distorcida. Quem
faz isso é o intelectual, entende o mundo de forma que possa dar uma explicação
de como aquela realidade é daquele jeito. Assim no feudalismo se pensava que a
sociedade era daquele jeito porque assim Deus a fez, na capitalismo a
explicação da miséria, violência, etc, tem uma origem natural no individualismo
do homem, como se fosse sua essência. Porém essas são explicações mais gerais.
Mas quem são esses intelectuais que dizem isso? Existem muitos intelectuais e
realmente alguns deles chegam a conclusão que não se pode mudar a realidade,
por isso se dedicam a assuntos de menor importância para sociedade colocando-os
como sendo essenciais para a humanidade, é o caso do existencialismo.
O fato é que também a os
intelectuais que produzem teorias que explicam de forma mais palpável a
realidade, dando condições de transformação na sociedade. Daí, podemos concluir
que essa compilação de idéias para interpretação geral da realidade é uma
variante do signo ideologia, ou seja, uma compilação de idéias para interpretar
a realidade. Mas existem outras explicações que são mais marginais, por
exemplo, para algumas igrejas protestantes o sofrimento dos homens é um sinal
do fim dos tempos, é escatológico. Para outros, como os espíritas, o mundo está
cada vez melhor só que as notícias ruins tem mais repercussão. Para os budistas
o sofrimento do homem é causado pela falta de interação do homem com o cosmo.
Existem várias interpretações da realidade, que muita vezes os intelectuais
marxistas interpretam como sendo uma, não sem razão, pois de certa forma elas
conciliam suas condições de vida com o sistema reinante, seja ele capitalista
ou não. Com isso podemos enxergar que existem interpretações mais gerais e
outras mais locais. Essas locais têm, na verdade tem origem em classe, mas não
necessariamente precisam obedecer a essa ordem. O fato é que cada classe tem
sua interpretação do mundo, a da burguesia, por exemplo, é uma interpretação
positiva de que cada um lutando por si alcançará sua felicidade, além disso, a
competição do capitalismo acaba levando a felicidade geral, pois o capitalismo
produz máquinas que facilitam a vida do homem e tecnologias que encurtam
distancia, ou seja, é não pessimista como a visão de um Nieztich. Mesmo assim,
a visão deste serve a daqueles, pois não muda em nada a realidade. Assim
podemos concluir que existem duas formas de ideologia que cada classe produz a
sua ideologia e através dela pode interpretar a realidade, por outro lado, há
ideologias mais gerias que são frutos de interpretações individuais fora da
realidade. Ou seja, no primeiro a ideologia é uma vinculação natural do
indivíduo com sua classe, na segunda é uma concatenação de idéias que servem a
uma interpretação geral da realidade. Assim, são as praticas vivenciadas na
prática burguesa que o leva a compreender o mundo de uma ótica particular de
classe. Já o intelectual vai procurando elemento de maneira artificial fazendo
ligações até chega a uma conclusão.
Ora, o intelectual não está fora da
realidade totalmente, ele tem uma inserção nela como todas as classes. O
lupemproletariado odeia a ordem, por isso não tem nada a perder com a
destruição do estado, logo para ele o mundo é ruim porque o Estado é ruim. O
intelectual também tem uma vivencia, claro que muito mais abstrata que
concreta, mas ele também produz uma compreensão da realidade a partir de suas
vivencias. Por isso muitos intelectuais produzem obras que valorizam o intelecto
em detrimento do físico. Mas ocorre também uma produção que parte de um
trabalho individual, com poucas relações com a vivencia do intelectual. Ora,
Karl Marx, foi assim, negou sua particularidade de professor universitário, com
prestígio como qualquer intelectual para compreender a realidade com a conexão
dos fatos. Foi um trabalho individual. Outra particularidade do intelectual é
que antes dele se torna um, era inscrito em outra classe, podendo ter sido
burocrata, um advogado, camponês, etc. Assim, ele leva elementos de sua antiga
classe para interpretar o mundo, por isso alguns teóricos têm mais disposição
ao idealismo e outros ao materialismo. Sendo assim, suas escolhas individuais
para elaborar ideologia não são tão livres. Além disso, esses pensadores só
podem produzir idéias com base no que já foi dito pelos seus antecessores, como
disseram os próprios Hegel, Marx e Engels. Em outras palavras existe uma
produção natural da idéias, mas também há uma artificial, essas porém também
são determinadas, mas os indivíduos que as produzem podem ter mais liberdade na
sua produção.
Precisamos ver agora a questão do
discurso. Para Foucault ele pode ser produzido em qualquer lugar, recepcionado
por pessoas que estão numa ordem do
discurso, mas reproduzido por qualquer pessoa. Esses discursos são
produzidos no surgimento devido a acontecimentos
de saberes, assim, por exemplo, como havia uma necessidade real de controlar os
indesejáveis no século XVIII, então surgiu a produção de saberes nas casas de
internação, dando origem a psiquiatria, ao direito, a medicina e outros
saberes. Não necessariamente o discurso é produzido numa classe, mas numa
produção de Saber.
Ora, essa idéia pode contribuir com
a conclusão que tiramos sobre a liberdade do intelectual na ideologia. Pois ela
não depende unicamente da classe. Porém os exemplos que Foucault usa dão a
impressão que esses discursos são determinados pelos acontecimentos, como se
não houvesse saberes fora dos fatos sociais. Por outro lado se levarmos em
conta que esses saberes favorecem segmentos da realidade, veremos que não fogem
a questão de classe. Por exemplo, um médico se utiliza de um Saber para ter
seus benefícios enquanto classe, pois os médicos pertencem a estrutura social,
claro que existem classes de médicos, os que tem sua própria clínica, os que
trabalham, para o estado, os que trabalham para um hospital privado, etc, mas
esse Saber serve a todas elas. Talvez seja a existência de classes médicas que
dé possibilidade de variações desse discurso, por exemplo, o virologista norte
americano Piter Duelsberg, com alguns Nobel´s, afirma que o HIV é uma farsa
mercadológica, que ele não existe[4]. Vemos com isso que a ideologia tem sim uma
ligação com a classe, pode ser produzida individualmente e que também é
produzida dentro de acontecimentos. Para Piter o HIV foi uma necessidade real
do Estado, pois se via na obrigação de combater o liberalismo pequeno burguês,
o homossexualismo e a falta de controle sobre a taxa de natalidade. Além disso,
tinha como receptores a igreja protestante e católica e o mercado farmacêuticos
que modificou a cultura sexual da população. Mas ele individualmente escolheu
não fazer parte da ordem do discurso,
mesmo que tivesse benefícios com isso, o descobridor do vírus Robert Galo,
ex-colega de pesquisa de Piter, ganha Royalties em cima de cada exame Elise e
Westen Blot realizado no mundo, devido a sua patente.
Vimos então que a ideologia tem uma
caráter de classe, pode ser produzida em determinadas condições individualmente
e que o discurso é a apresentação da ideologia. Porém ideologia e discurso não
são uma só coisa, existe uma relação da ideologia com o discurso. Nem sempre o
discurso é reflexo direto da ideologia, ele pode ser resignificado de acordo
com a necessidade objetiva. Por esse motivo as ideologias sofrem modificações.
Se fizermos uma arqueologia do discurso da igreja evangélica Assembléia de Deus
podemos ver essas resignificações. A pouco tempo ver televisão era considerado
pecado, a mulher tinha que usar saias longas e não podia tirar pelos do corpo ou
usar qualquer maquiagem. Esse discurso foi possível a alguns anos onde poucos
tinham televisão, e os que tinham eram de péssima qualidade, a própria igreja
só fazia seus programas por rádio, por isso não atacavam o rádio, assim que as
condições de vida da população mudou podendo ter acesso a TV a própria igreja
passou a fazer uso dela para veicular seus programas. O mesmo se deu com
relação a beleza da mulher, como cada vez mais as mulheres procuravam sair da
assembléia para outras igrejas que permitissem que elas pudessem se enfeitar, a
igreja passou a fazer algumas concessões revendo seus conceitos, afirmando, por
exemplo, que a mulher por precisar trabalhar podia usar calça, já que a saia
podia dificultar o trabalho, alem disso a maquiagem não era mas mal vista. A
igreja ainda reprime esses atos, mas de maneira mais amena, assim, a mulher
pode até fazer uso de maquiagem, mas não pode exagerar.
Vemos assim que o discurso se adapta
a realidade objetiva, sofrendo um deslizamento
do seu signo ideológico, ou seja, no exemplo a cima, o discurso da igreja
Assembléia de Deus já tem contradições com sua ideologia. Como vimos
anteriormente a ideologia continua existindo, mas com seu reflexo deformado. Se é assim, os discursos existente não possuem
obrigatoriamente uma recepção de classe, pois se assim o fosse o discurso da
Assembléia de Deus teria que corresponder a uma outra classe com suas mudanças.
Sendo assim, a origem não é apenas de classe, fica claro que a determinação
material do discurso é histórico e social. O que dá crédito ao acontecimento foucaultiano.
Com isso podemos notar outro
fenômeno interessante, que não é apenas a ideologia que produz o discurso, mas
o discurso reproduz a ideologia. Como disse anteriormente a igreja abriu
concessões, se vendo obrigada por uma realidade material de perca de membros.
Por outro lado isso não significa que os líderes assembleianos tenham mudado
sua ideologia, mas que fizeram adaptações pensando em se prepararem para
retomar o velho discurso. Isso é comum em qualquer instituição social. Nos
partidos políticos, nós damos o nome de demagogia, ou seja, o político discursa
algo recepcionável pela massa, mesmo que isso não tenha nada a ver com a
ideologia do partido, com o objetivo de converter as massas ao discurso
partidário num momento em que seus poderes morais e materiais os possibilite. É
por esse motivo que vemos partidos como o PSDB fazer uso de um Daniel Coelho
para discursar algumas reformas que eles mesmos não conseguiriam discursar,
pois esses signos não estão na utensilagem
mental[5]
de seus militantes. Ao chegarem ao poder e acontecerem mudanças favoráveis não
hesitarão em colocar em prática o velho discurso neoliberal.
Mas como isso resignifica a ideologia?
Ora, se o novo discurso dura tempo o suficiente para que os velhos ideólogos
não possam retorná-lo ao original, então os novos lideres já entraram na ordem
do discurso novo e a reproduzirá, mesmo os velho lideres podem ser convertido
ao novo discurso. Essas mudanças não ocorrem em condições bem visíveis, na
verdade estão se dando a todo momento. Assim, um discurso se resignifica
constantemente, deixando nos rastros
de suas passagens os velhos discursos, essas separações são tão tênues que se
apresentam como uma evolução, sendo, no entanto, uma descontinuidade[6].
Quando
um indivíduo decide retomar um estágio desse discurso, isso pode ser uma ação
meramente individual, mas também possui um caráter de classe. Assim por exemplo
um intelectual cristão pode se dar conta que as ovelhas fugiram do caminho de Deus. Ele pode chegar a essa
conclusão através de seus estudos, claro que será determinado por uma ótica de
classe e histórica, mas sua liberdade também existe. Ele vai procura o momento
desse desgarramento para dizer aos demais como deveria ser. Assim foi com
Lútero, por exemplo. Vemos assim que ele pode produzir esse discurso sem ter
ligação com nenhum acontecimento na
sociedade, mas puramente por uma percepção individual. Claro que o discurso ao
qual ele pretende resgatar teve uma ligação com fatos visíveis, mas nada impede
que se possa produzir um discurso sem necessidade de acontecimento. Ora, o que
quero dizer é que não é a produção do discurso que está obrigatoriamente ligada
ao fato, nem mesmo a classe, mas a sua recepção na sociedade são determinados
por fatos históricos e sociais.
Vamos explicar isso com o
Luteranismo. Lutero podia ter formulado suas teses sem obrigatoriamente ocorrer
fatos que o fizesse refletir a situação da Igreja. Porém o seu discurso nunca
teria repercussão se não houvessem classes que se açanbarcassem dele. A classe
era a burguesia, mas o próprio Estado poderia respirar mais folgadamente se o
poder da igreja fosse contestado. Em outras palavras existem aí acontecimentos,
e classes interessadas. Um caso diferente foi de Galileu, que não encontrou
nenhum receptáculo. A república, por exemplo, foi um discurso produzido há
muito tempo, mas precisou de acontecimentos e classes que permitissem sua
implantação, também houve acontecimentos que derrubaram a república romana.
Esse discurso depois de várias
transformações se apresentam como mero conjunto de idéias, mas eles podem ter
origem numa concepção de classe. O cristianismo foi produzido no seio dos
trabalhadores de Israel, e ia de encontro ao pensamento romano. Suas mudanças
foram tantas que passaram a servir a classe dominante. Com isso, quero dizer
que os discursos por menos que eles pareçam que foram produzidos no seio de uma
classe, eles provavelmente os foram. Mas para que esse discurso cresça na
sociedade ele precisa de elementos que possibilitem a recepção, tanto os
produzidos naturalmente por uma classe quanto os que são fruto de uma
concatenação de idéias. Os que são resgatados nó já vimos que tem que ter uma
dessas duas origens, nos primórdios.
Ocorre também um outro fenômenos
fruto da dialética entre ideologia e classe. Um discurso mesmo que ele seja
produzido por um indivíduo pode conquistar outros paulatinamente. Com um
crescimento considerável aqueles indivíduos vão formar uma classe em torno
daquele saber, ou seja, vão tirar seus sustentos dele. A ufologia é um exemplo
disso. Apesar de ser pequeno o numero de ufólogos eles conseguem tirar proveito
desse discurso, claro, falo dos que vivem e se dedicam a isso, não os curiosos.
Se alguém dissesse que a natureza estava em perfeito equilíbrio e que devido ao
homem ela está entrando em colapso ameaçando toda a vida e que a única solução
é voltarmos a morar em cavernas e aceitarmos sermos devorados por leões e mordidos
por cobras para que tudo se restabeleça; esse discurso ia ter poucos
receptáculos, mas teria um ou outro e podia crescer e formar um grupo de homens
que tire vantagens desse discurso. Isso
demonstra que não é apenas as condições materiais que determinam a produção de
idéias, mas que a produção de idéias pode modificar a realidade.
O que quero aqui é mostrar essa
necessidade da recepção. Ela só vai se dar tendo esse elementos: a classe que o
recepcione, o acontecimento que o possibilite, e as condições históricas. Um
exemplo é o nazismo, de onde vem essa ideologia? Ela não é burguesa, como
pensam muitos marxistas preguiçosos, nem é proletária. Ela também não foi
criada pela cabeça de Hitler, poderia ter sido. Esse pensamento me parece mais
uma concatenação de idéias que serviram a algumas classes. Não fica muito
difícil associar o facismo ao militares, a questão, porém, é convencer os
intelectuais, seja materialista ou idealista, que os militares são uma classe,
e que possui interesses próprios. Também não fica difícil associar a eugenia e
racismo nazista aos nobres. O nazismo seria militar ou nobre? Na minha
concepção ele era militar, mas precisou de um discurso que abarcasse a nobreza
quase extinta. Penso que ele tenha natureza mais de classe do que individual,
mas não posso afirmar seguramente. Mas asseguradamente serviam a esses dois
segmentos. Coisa semelhante ocorreu no Japão, não sei tem alguma influencia da
Alemanha. O Japão entrou num processo de industrialização o que muitos não sabe
é que também houve uma revolução nesse país. Lá o imperador aceito a
industrialização, mas a antiga classe social constituída por samurais não
aceitava essa mudança. Os samurais eram como a nobreza ocidental, eles eram
essencialmente guerreiros e guiados por valores de honra. Tinha um ritual
chamado bushido que era a provocação da morte em proteção a honra. A luta entre
burgueses e samurais foi sangrenta, claro que as armas da burguesia tinham
vantagem as espadas e baionetas dos samurais. Com a derrota dos samurais o Japão
se industrializou. Na segunda guerra onde o a ilha estava ao lado dos facista
ocorreu um resgate aos valores samurais. Era quase uma febre. Os soldados iam
não só com suas armas de fogo, mas com a katana. A ideologia de uma classe
social encontrou receptáculo numa população que não via vantagens na industrialização.
O pensamento samurai contribui para a formação de Kamikazes, era uma morte
honrada.
Penso que a Alemanha foi resultado
do menosprezo dos militares diante a última guerra. Mas também ocorria de modo
geral com a classe. A burguesia precisou dos militares no processo de
modernização, na verdade a modernização do século XVIII é uma ação mais militar
que burguesa, talvez seja por isso que o lema positivista seja ordem e progresso, a ordem como concepção
militar e progresso como pensamento burguês. Se fosse mais burguesa que militar
seria progresso e ordem. O fato que a
burguesia não precisava tanto mais dos militares para proletarizar a antiga
plebe, podia fazer isso como própria conseqüência do desenvolvimento do
capitalismo. O militares perdiam seu prestígio. Era a era do liberalismo
burguês. O liberalismo não se dá apenas no campo econômico é uma ideologia
burguesa onde o indivíduo é livre para fazer o que lhe der vontade. O
liberalismo é uma desmoralização para o militar. Forma dadas as condições do
pensamento facista, precisavam retomar o poder e por ordem na sociedade. Ao
mesmo tempo os resquícios da nobreza ainda estavam na sociedade, na verdade
ainda estão, a eugenia nazista era como a questão do sangue nobre. Já temos
duas classes que podiam recepcionar o nazismo. Era uma mescla de ordem e
valores de sangue. Precisava de um discurso mais massivo. A Alemanha vivia
penúria devido a ultima guerra e a crise econômica mundial de 29, tinham os judeus
para culparem pela fome do povo e discurso da necessidade da conquista do
espaço vital para o ariano puro. Tinha recepção no pobres, os primeiros
militantes do nazismo eram lupemproletariado[7], assim como foi o grupo
paramilitar de Luiz Bonaparte[8]. Para a burguesia dos
Estados Unidos não interessava atacar o nazismo, pois ele impediria o avanço da
União Soviética. Na verdade parcelas da burguesia tinham interesse no facismo
alemão, como foi o caso da IBM e da Nestle, que se enriqueceram com trabalho forçado
dos judeus. Stalin até teve alguma abertura com Roosevelt do partido democrata,
mas Truman, apesar de ser do mesmo partido, só apoiou a URSS quando Stalin já
quase tinha derrubado Hitler. Stalin se viu abrigado a mandar Trortsk negocia
um período paz com Hitler. Haviam com tudo isso as classes receptoras do
nazismo e uma conjuntura favorável ao seu desenvolvimento. Sem as derrotas da
das ultimas guerras que Alemanha havia enfrentado, a fome devido a crise, o
avanço da união soviética, as greves operária da Alemanha que deram espaço
político a Hitler, aquela ideologia não teria recepção. É a recepção do
discurso que faz ele tomar corpo na sociedade. Por mais que se produza saberes,
tem haver as condições necessárias para que se desenvolva. Em outras palavras
precisamos entender a questão de classe do discurso, mas que ele também é
produzido numa vontade de saber, mas
sua recepção e crescimento precisam de receptáculos. Por esse motivo não
devemos cair no engano em pensar que um movimento massivo esteja sendo
manipulado por um grupo, como se as massas fossem alienados. O discurso para
atingir aquela massa precisa ter significado para que eles homens o sigam,
precisa se encaixar nas utensilagens
mentais dos indivíduos. Se não fosse assim, um brasileiro que só fala
português poderia organizar uma revolução na China, e não pode.
Por esse motivo precisávamos
enxergar o discurso e a ideologia como um objeto e aplicar-lhes as quatro
causas aristotélicas. É necessário entender que o discurso tem uma matéria, que
é a ideologia; que possui uma forma, que á próprio discurso; um eficiente ou
produtor, que é a classe ou indivíduo; e uma finalidade, que é realizar algo:
convencer, dominar, justificar, etc. A finalidade tem ligação com a classe,
pois é reflexo de seu interesse. Com o entendimento dessas características é
possível observar como o discursos se desenvolvem, se transformam, evoluem,
retornam para o ponto de partida, pois tendo eles matéria e forma, tem também
significante e significado que ora refletem-se um no outro, ora ganham novos
significados. Da mesma forma entender que ela tem eficiente ou classe que a
produz, e uma finalidade, ou seja, não nasce neutra na sociedade ela tem
interesses.
[1] CHAUÍ, Marilena. Ideologia.
[2] LOWY, Micheal. Ideologia e ciência social. São Paulo: Cortez, 1985. p. 12.
[3] FOUCAULT, Michel.
[4]
Ver Piter Duelsberg. A invenção da AIDS.
[5]
Termo usado por Roger Chartier.
[6]
Termo Foucaultiano.
[7]
Ver José Candido Nunes, O movimento
operário, o sindicato e o partido.
[8]
Ver Karl Marx. O 18 brumário de Luiz
Bonaparte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário