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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

DISCURSO E IDEOLOGIA



            O presente trabalho se propõe a analisar o discurso, a ideologia e a relação desses com a realidade. Nesse sentido, o objetivo é conhecer como são produzidos os discursos, por que razão eles são produzidos, a quem servem, etc. Para isso vamos utilizar, em certo grau, o conceito aristotélico das quatro causas, sendo elas a matéria, a forma, o eficiente – ou produtor – e a finalidade. Esse, porém, não será a metodologia do trabalho, mas serviram de auxiliares no entendimento do discurso como um objeto. Além disso, faremos uma abordagem sobre a ideologia fazendo relação com o discurso, no objetivo de encontrar a ligação entre os dois. Por fim relacionaremos a o dois primeiros com a realidade, entendendo como aqueles são produzidos por essa e como essa é reinterpretada por aquela. Para tanto precisaremos fazer uso das produções de Marx, Foucault e Marilena Chauí, que trabalharam de maneira excelente esses temas.
            Para Marx a ideologia é uma produção de grupos de homens – intelectuais – que estão fora da realidade. Sua visão de mundo é distorcida do real. Por sua vez esse grupo interpreta os fenômenos da realidade com base nessa produção. Marilena Chauí segue o mesmo caminho apontando como sendo um sistema de dominação, tendo origem numa classe social. Foucault afirma que os discursos são produzidos na produção de saberes, por sua vez não há um sujeito produtor consciente desses saberes, eles são frutos de acontecimentos da realidade, além disso os discursos são produzidos em diversas esferas, podendo estar em relação com outros ou não, construindo uma rede de saberes e poderes, onde os indivíduos são apenas receptáculos desse poder ao reproduzirem os discursos. Não há um local ou classe exatos de onde emana o poder, mas vários.
            Nesse sentido, o parece é que Marx entende a ideologia como uma produção artificial de indivíduos que vivem na superestrutura da sociedade. Como se eles as produzisse olhando-as de fora por esse motivo eles a distorcem. O que não fica claro é se essa distorção é intencional ou involuntária, ou seja, se esses produtores de ideologia as fazem consciente disso. Para Cahuí essa produção se dá inconscientemente, mas serve como dominação de uma classe. Nas sua palavras “Temos, portanto, uma teoria geral para a explicação da realidade e de suas transformações que na verdade, é uma transformação involuntária (grifo meu) de relações sociais muito determinadas para o plano da idéias”[1]. Já para Michel Lowy é um “Conjunto de idéias que procura ocultar a sua própria origem nos interesses sociais de um grupo particular da sociedade. Esse é o conceito utilizado por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895)”[2]. Lenin vai dar um entendimento novo sobre a ideologia, sendo uma produção de uma classe social.
            O que ocorre, na verdade, é uma descontinuidade[3] do significado de ideologia que na verdade tem uma relação entre si. Para Karl Marx essa ideologia é uma interpretação da realidade como um todo por indivíduos que não há vivem. Assim sendo, ele não tem intenção consciente de dominar a sociedade. Com isso também vemos que essa ideologia não parte de uma classe, pois ela é geral e serve para o apaziguamento de todas as classes. Quando Lenin vai dar entendimento de que vem de uma classe dá uma contribuição a esse conceito, mas na prática acaba incluindo tudo que não é proletário como sendo de origem burguesa, o que é um equívoco.
            Gramisch, por sua vez vai dizer que todo indivíduo é um filósofo, pois ele interpreta a realidade em que está inserido. Sendo assim, o operário, produz sua própria consciência. Essa contribuição de Gramisch foi importantíssima, para compreender a complexidade de ideologias na sociedade. Mas é preciso entender como esses significados foram sendo resignificados ao longa da história.
            Ora, Karl Marx estava correto quando diz que a interpretação da realidade é feita fora dela sendo distorcida. Quem faz isso é o intelectual, entende o mundo de forma que possa dar uma explicação de como aquela realidade é daquele jeito. Assim no feudalismo se pensava que a sociedade era daquele jeito porque assim Deus a fez, na capitalismo a explicação da miséria, violência, etc, tem uma origem natural no individualismo do homem, como se fosse sua essência. Porém essas são explicações mais gerais. Mas quem são esses intelectuais que dizem isso? Existem muitos intelectuais e realmente alguns deles chegam a conclusão que não se pode mudar a realidade, por isso se dedicam a assuntos de menor importância para sociedade colocando-os como sendo essenciais para a humanidade, é o caso do existencialismo.
            O fato é que também a os intelectuais que produzem teorias que explicam de forma mais palpável a realidade, dando condições de transformação na sociedade. Daí, podemos concluir que essa compilação de idéias para interpretação geral da realidade é uma variante do signo ideologia, ou seja, uma compilação de idéias para interpretar a realidade. Mas existem outras explicações que são mais marginais, por exemplo, para algumas igrejas protestantes o sofrimento dos homens é um sinal do fim dos tempos, é escatológico. Para outros, como os espíritas, o mundo está cada vez melhor só que as notícias ruins tem mais repercussão. Para os budistas o sofrimento do homem é causado pela falta de interação do homem com o cosmo. Existem várias interpretações da realidade, que muita vezes os intelectuais marxistas interpretam como sendo uma, não sem razão, pois de certa forma elas conciliam suas condições de vida com o sistema reinante, seja ele capitalista ou não. Com isso podemos enxergar que existem interpretações mais gerais e outras mais locais. Essas locais têm, na verdade tem origem em classe, mas não necessariamente precisam obedecer a essa ordem. O fato é que cada classe tem sua interpretação do mundo, a da burguesia, por exemplo, é uma interpretação positiva de que cada um lutando por si alcançará sua felicidade, além disso, a competição do capitalismo acaba levando a felicidade geral, pois o capitalismo produz máquinas que facilitam a vida do homem e tecnologias que encurtam distancia, ou seja, é não pessimista como a visão de um Nieztich. Mesmo assim, a visão deste serve a daqueles, pois não muda em nada a realidade. Assim podemos concluir que existem duas formas de ideologia que cada classe produz a sua ideologia e através dela pode interpretar a realidade, por outro lado, há ideologias mais gerias que são frutos de interpretações individuais fora da realidade. Ou seja, no primeiro a ideologia é uma vinculação natural do indivíduo com sua classe, na segunda é uma concatenação de idéias que servem a uma interpretação geral da realidade. Assim, são as praticas vivenciadas na prática burguesa que o leva a compreender o mundo de uma ótica particular de classe. Já o intelectual vai procurando elemento de maneira artificial fazendo ligações até chega a uma conclusão.
            Ora, o intelectual não está fora da realidade totalmente, ele tem uma inserção nela como todas as classes. O lupemproletariado odeia a ordem, por isso não tem nada a perder com a destruição do estado, logo para ele o mundo é ruim porque o Estado é ruim. O intelectual também tem uma vivencia, claro que muito mais abstrata que concreta, mas ele também produz uma compreensão da realidade a partir de suas vivencias. Por isso muitos intelectuais produzem obras que valorizam o intelecto em detrimento do físico. Mas ocorre também uma produção que parte de um trabalho individual, com poucas relações com a vivencia do intelectual. Ora, Karl Marx, foi assim, negou sua particularidade de professor universitário, com prestígio como qualquer intelectual para compreender a realidade com a conexão dos fatos. Foi um trabalho individual. Outra particularidade do intelectual é que antes dele se torna um, era inscrito em outra classe, podendo ter sido burocrata, um advogado, camponês, etc. Assim, ele leva elementos de sua antiga classe para interpretar o mundo, por isso alguns teóricos têm mais disposição ao idealismo e outros ao materialismo. Sendo assim, suas escolhas individuais para elaborar ideologia não são tão livres. Além disso, esses pensadores só podem produzir idéias com base no que já foi dito pelos seus antecessores, como disseram os próprios Hegel, Marx e Engels. Em outras palavras existe uma produção natural da idéias, mas também há uma artificial, essas porém também são determinadas, mas os indivíduos que as produzem podem ter mais liberdade na sua produção.
            Precisamos ver agora a questão do discurso. Para Foucault ele pode ser produzido em qualquer lugar, recepcionado por pessoas que estão numa ordem do discurso, mas reproduzido por qualquer pessoa. Esses discursos são produzidos no surgimento devido a acontecimentos de saberes, assim, por exemplo, como havia uma necessidade real de controlar os indesejáveis no século XVIII, então surgiu a produção de saberes nas casas de internação, dando origem a psiquiatria, ao direito, a medicina e outros saberes. Não necessariamente o discurso é produzido numa classe, mas numa produção de Saber.
            Ora, essa idéia pode contribuir com a conclusão que tiramos sobre a liberdade do intelectual na ideologia. Pois ela não depende unicamente da classe. Porém os exemplos que Foucault usa dão a impressão que esses discursos são determinados pelos acontecimentos, como se não houvesse saberes fora dos fatos sociais. Por outro lado se levarmos em conta que esses saberes favorecem segmentos da realidade, veremos que não fogem a questão de classe. Por exemplo, um médico se utiliza de um Saber para ter seus benefícios enquanto classe, pois os médicos pertencem a estrutura social, claro que existem classes de médicos, os que tem sua própria clínica, os que trabalham, para o estado, os que trabalham para um hospital privado, etc, mas esse Saber serve a todas elas. Talvez seja a existência de classes médicas que dé possibilidade de variações desse discurso, por exemplo, o virologista norte americano Piter Duelsberg, com alguns Nobel´s, afirma que o HIV é uma farsa mercadológica, que ele não existe[4].  Vemos com isso que a ideologia tem sim uma ligação com a classe, pode ser produzida individualmente e que também é produzida dentro de acontecimentos. Para Piter o HIV foi uma necessidade real do Estado, pois se via na obrigação de combater o liberalismo pequeno burguês, o homossexualismo e a falta de controle sobre a taxa de natalidade. Além disso, tinha como receptores a igreja protestante e católica e o mercado farmacêuticos que modificou a cultura sexual da população. Mas ele individualmente escolheu não fazer parte da ordem do discurso, mesmo que tivesse benefícios com isso, o descobridor do vírus Robert Galo, ex-colega de pesquisa de Piter, ganha Royalties em cima de cada exame Elise e Westen Blot realizado no mundo, devido a sua patente.
            Vimos então que a ideologia tem uma caráter de classe, pode ser produzida em determinadas condições individualmente e que o discurso é a apresentação da ideologia. Porém ideologia e discurso não são uma só coisa, existe uma relação da ideologia com o discurso. Nem sempre o discurso é reflexo direto da ideologia, ele pode ser resignificado de acordo com a necessidade objetiva. Por esse motivo as ideologias sofrem modificações. Se fizermos uma arqueologia do discurso da igreja evangélica Assembléia de Deus podemos ver essas resignificações. A pouco tempo ver televisão era considerado pecado, a mulher tinha que usar saias longas e não podia tirar pelos do corpo ou usar qualquer maquiagem. Esse discurso foi possível a alguns anos onde poucos tinham televisão, e os que tinham eram de péssima qualidade, a própria igreja só fazia seus programas por rádio, por isso não atacavam o rádio, assim que as condições de vida da população mudou podendo ter acesso a TV a própria igreja passou a fazer uso dela para veicular seus programas. O mesmo se deu com relação a beleza da mulher, como cada vez mais as mulheres procuravam sair da assembléia para outras igrejas que permitissem que elas pudessem se enfeitar, a igreja passou a fazer algumas concessões revendo seus conceitos, afirmando, por exemplo, que a mulher por precisar trabalhar podia usar calça, já que a saia podia dificultar o trabalho, alem disso a maquiagem não era mas mal vista. A igreja ainda reprime esses atos, mas de maneira mais amena, assim, a mulher pode até fazer uso de maquiagem, mas não pode exagerar.
            Vemos assim que o discurso se adapta a realidade objetiva, sofrendo um deslizamento do seu signo ideológico, ou seja, no exemplo a cima, o discurso da igreja Assembléia de Deus já tem contradições com sua ideologia. Como vimos anteriormente a ideologia continua existindo, mas com seu reflexo deformado. Se é assim, os discursos existente não possuem obrigatoriamente uma recepção de classe, pois se assim o fosse o discurso da Assembléia de Deus teria que corresponder a uma outra classe com suas mudanças. Sendo assim, a origem não é apenas de classe, fica claro que a determinação material do discurso é histórico e social. O que dá crédito ao acontecimento foucaultiano.
            Com isso podemos notar outro fenômeno interessante, que não é apenas a ideologia que produz o discurso, mas o discurso reproduz a ideologia. Como disse anteriormente a igreja abriu concessões, se vendo obrigada por uma realidade material de perca de membros. Por outro lado isso não significa que os líderes assembleianos tenham mudado sua ideologia, mas que fizeram adaptações pensando em se prepararem para retomar o velho discurso. Isso é comum em qualquer instituição social. Nos partidos políticos, nós damos o nome de demagogia, ou seja, o político discursa algo recepcionável pela massa, mesmo que isso não tenha nada a ver com a ideologia do partido, com o objetivo de converter as massas ao discurso partidário num momento em que seus poderes morais e materiais os possibilite. É por esse motivo que vemos partidos como o PSDB fazer uso de um Daniel Coelho para discursar algumas reformas que eles mesmos não conseguiriam discursar, pois esses signos não estão na utensilagem mental[5] de seus militantes. Ao chegarem ao poder e acontecerem mudanças favoráveis não hesitarão em colocar em prática o velho discurso neoliberal.
            Mas como isso resignifica a ideologia? Ora, se o novo discurso dura tempo o suficiente para que os velhos ideólogos não possam retorná-lo ao original, então os novos lideres já entraram na ordem do discurso novo e a reproduzirá, mesmo os velho lideres podem ser convertido ao novo discurso. Essas mudanças não ocorrem em condições bem visíveis, na verdade estão se dando a todo momento. Assim, um discurso se resignifica constantemente, deixando nos rastros de suas passagens os velhos discursos, essas separações são tão tênues que se apresentam como uma evolução, sendo, no entanto, uma descontinuidade[6].
            Quando um indivíduo decide retomar um estágio desse discurso, isso pode ser uma ação meramente individual, mas também possui um caráter de classe. Assim por exemplo um intelectual cristão pode se dar conta que as ovelhas fugiram do caminho de Deus. Ele pode chegar a essa conclusão através de seus estudos, claro que será determinado por uma ótica de classe e histórica, mas sua liberdade também existe. Ele vai procura o momento desse desgarramento para dizer aos demais como deveria ser. Assim foi com Lútero, por exemplo. Vemos assim que ele pode produzir esse discurso sem ter ligação com nenhum acontecimento na sociedade, mas puramente por uma percepção individual. Claro que o discurso ao qual ele pretende resgatar teve uma ligação com fatos visíveis, mas nada impede que se possa produzir um discurso sem necessidade de acontecimento. Ora, o que quero dizer é que não é a produção do discurso que está obrigatoriamente ligada ao fato, nem mesmo a classe, mas a sua recepção na sociedade são determinados por fatos históricos e sociais.
            Vamos explicar isso com o Luteranismo. Lutero podia ter formulado suas teses sem obrigatoriamente ocorrer fatos que o fizesse refletir a situação da Igreja. Porém o seu discurso nunca teria repercussão se não houvessem classes que se açanbarcassem dele. A classe era a burguesia, mas o próprio Estado poderia respirar mais folgadamente se o poder da igreja fosse contestado. Em outras palavras existem aí acontecimentos, e classes interessadas. Um caso diferente foi de Galileu, que não encontrou nenhum receptáculo. A república, por exemplo, foi um discurso produzido há muito tempo, mas precisou de acontecimentos e classes que permitissem sua implantação, também houve acontecimentos que derrubaram a república romana.
            Esse discurso depois de várias transformações se apresentam como mero conjunto de idéias, mas eles podem ter origem numa concepção de classe. O cristianismo foi produzido no seio dos trabalhadores de Israel, e ia de encontro ao pensamento romano. Suas mudanças foram tantas que passaram a servir a classe dominante. Com isso, quero dizer que os discursos por menos que eles pareçam que foram produzidos no seio de uma classe, eles provavelmente os foram. Mas para que esse discurso cresça na sociedade ele precisa de elementos que possibilitem a recepção, tanto os produzidos naturalmente por uma classe quanto os que são fruto de uma concatenação de idéias. Os que são resgatados nó já vimos que tem que ter uma dessas duas origens, nos primórdios.
            Ocorre também um outro fenômenos fruto da dialética entre ideologia e classe. Um discurso mesmo que ele seja produzido por um indivíduo pode conquistar outros paulatinamente. Com um crescimento considerável aqueles indivíduos vão formar uma classe em torno daquele saber, ou seja, vão tirar seus sustentos dele. A ufologia é um exemplo disso. Apesar de ser pequeno o numero de ufólogos eles conseguem tirar proveito desse discurso, claro, falo dos que vivem e se dedicam a isso, não os curiosos. Se alguém dissesse que a natureza estava em perfeito equilíbrio e que devido ao homem ela está entrando em colapso ameaçando toda a vida e que a única solução é voltarmos a morar em cavernas e aceitarmos sermos devorados por leões e mordidos por cobras para que tudo se restabeleça; esse discurso ia ter poucos receptáculos, mas teria um ou outro e podia crescer e formar um grupo de homens que tire vantagens  desse discurso. Isso demonstra que não é apenas as condições materiais que determinam a produção de idéias, mas que a produção de idéias pode modificar a realidade.
            O que quero aqui é mostrar essa necessidade da recepção. Ela só vai se dar tendo esse elementos: a classe que o recepcione, o acontecimento que o possibilite, e as condições históricas. Um exemplo é o nazismo, de onde vem essa ideologia? Ela não é burguesa, como pensam muitos marxistas preguiçosos, nem é proletária. Ela também não foi criada pela cabeça de Hitler, poderia ter sido. Esse pensamento me parece mais uma concatenação de idéias que serviram a algumas classes. Não fica muito difícil associar o facismo ao militares, a questão, porém, é convencer os intelectuais, seja materialista ou idealista, que os militares são uma classe, e que possui interesses próprios. Também não fica difícil associar a eugenia e racismo nazista aos nobres. O nazismo seria militar ou nobre? Na minha concepção ele era militar, mas precisou de um discurso que abarcasse a nobreza quase extinta. Penso que ele tenha natureza mais de classe do que individual, mas não posso afirmar seguramente. Mas asseguradamente serviam a esses dois segmentos. Coisa semelhante ocorreu no Japão, não sei tem alguma influencia da Alemanha. O Japão entrou num processo de industrialização o que muitos não sabe é que também houve uma revolução nesse país. Lá o imperador aceito a industrialização, mas a antiga classe social constituída por samurais não aceitava essa mudança. Os samurais eram como a nobreza ocidental, eles eram essencialmente guerreiros e guiados por valores de honra. Tinha um ritual chamado bushido que era a provocação da morte em proteção a honra. A luta entre burgueses e samurais foi sangrenta, claro que as armas da burguesia tinham vantagem as espadas e baionetas dos samurais. Com a derrota dos samurais o Japão se industrializou. Na segunda guerra onde o a ilha estava ao lado dos facista ocorreu um resgate aos valores samurais. Era quase uma febre. Os soldados iam não só com suas armas de fogo, mas com a katana. A ideologia de uma classe social encontrou receptáculo numa população que não via vantagens na industrialização. O pensamento samurai contribui para a formação de Kamikazes, era uma morte honrada.
            Penso que a Alemanha foi resultado do menosprezo dos militares diante a última guerra. Mas também ocorria de modo geral com a classe. A burguesia precisou dos militares no processo de modernização, na verdade a modernização do século XVIII é uma ação mais militar que burguesa, talvez seja por isso que o lema positivista seja ordem e progresso, a ordem como concepção militar e progresso como pensamento burguês. Se fosse mais burguesa que militar seria progresso e ordem. O fato que a burguesia não precisava tanto mais dos militares para proletarizar a antiga plebe, podia fazer isso como própria conseqüência do desenvolvimento do capitalismo. O militares perdiam seu prestígio. Era a era do liberalismo burguês. O liberalismo não se dá apenas no campo econômico é uma ideologia burguesa onde o indivíduo é livre para fazer o que lhe der vontade. O liberalismo é uma desmoralização para o militar. Forma dadas as condições do pensamento facista, precisavam retomar o poder e por ordem na sociedade. Ao mesmo tempo os resquícios da nobreza ainda estavam na sociedade, na verdade ainda estão, a eugenia nazista era como a questão do sangue nobre. Já temos duas classes que podiam recepcionar o nazismo. Era uma mescla de ordem e valores de sangue. Precisava de um discurso mais massivo. A Alemanha vivia penúria devido a ultima guerra e a crise econômica mundial de 29, tinham os judeus para culparem pela fome do povo e discurso da necessidade da conquista do espaço vital para o ariano puro. Tinha recepção no pobres, os primeiros militantes do nazismo eram lupemproletariado[7], assim como foi o grupo paramilitar de Luiz Bonaparte[8]. Para a burguesia dos Estados Unidos não interessava atacar o nazismo, pois ele impediria o avanço da União Soviética. Na verdade parcelas da burguesia tinham interesse no facismo alemão, como foi o caso da IBM e da Nestle, que se enriqueceram com trabalho forçado dos judeus. Stalin até teve alguma abertura com Roosevelt do partido democrata, mas Truman, apesar de ser do mesmo partido, só apoiou a URSS quando Stalin já quase tinha derrubado Hitler. Stalin se viu abrigado a mandar Trortsk negocia um período paz com Hitler. Haviam com tudo isso as classes receptoras do nazismo e uma conjuntura favorável ao seu desenvolvimento. Sem as derrotas da das ultimas guerras que Alemanha havia enfrentado, a fome devido a crise, o avanço da união soviética, as greves operária da Alemanha que deram espaço político a Hitler, aquela ideologia não teria recepção. É a recepção do discurso que faz ele tomar corpo na sociedade. Por mais que se produza saberes, tem haver as condições necessárias para que se desenvolva. Em outras palavras precisamos entender a questão de classe do discurso, mas que ele também é produzido numa vontade de saber, mas sua recepção e crescimento precisam de receptáculos. Por esse motivo não devemos cair no engano em pensar que um movimento massivo esteja sendo manipulado por um grupo, como se as massas fossem alienados. O discurso para atingir aquela massa precisa ter significado para que eles homens o sigam, precisa se encaixar nas utensilagens mentais dos indivíduos. Se não fosse assim, um brasileiro que só fala português poderia organizar uma revolução na China, e não pode.
            Por esse motivo precisávamos enxergar o discurso e a ideologia como um objeto e aplicar-lhes as quatro causas aristotélicas. É necessário entender que o discurso tem uma matéria, que é a ideologia; que possui uma forma, que á próprio discurso; um eficiente ou produtor, que é a classe ou indivíduo; e uma finalidade, que é realizar algo: convencer, dominar, justificar, etc. A finalidade tem ligação com a classe, pois é reflexo de seu interesse. Com o entendimento dessas características é possível observar como o discursos se desenvolvem, se transformam, evoluem, retornam para o ponto de partida, pois tendo eles matéria e forma, tem também significante e significado que ora refletem-se um no outro, ora ganham novos significados. Da mesma forma entender que ela tem eficiente ou classe que a produz, e uma finalidade, ou seja, não nasce neutra na sociedade ela tem interesses.  




[1] CHAUÍ, Marilena. Ideologia.
[2] LOWY, Micheal. Ideologia e ciência social. São Paulo: Cortez, 1985. p. 12.
[3] FOUCAULT, Michel.
[4] Ver Piter Duelsberg. A invenção da AIDS.
[5] Termo usado por Roger Chartier.
[6] Termo Foucaultiano.
[7] Ver José Candido Nunes, O movimento operário, o sindicato e o partido.
[8] Ver Karl Marx. O 18 brumário de Luiz Bonaparte.

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