Muitos acreditam que estamos vivendo
uma sovietização no Brasil, que o país vai se tornar uma Cuba, ambas ideias vêm
da direita, no Brasil esse pensamento político não possui referências
concretas, seus ideólogos são politicamente míopes, e acreditam que tudo é
comunismo. A verdade é que a Revolução Francesa está em andamento, ela derrubou
os reis, mais ainda não derrubou a aristocracia totalmente. Em vários países, o
capitalismo existe apenas como uma ideia, e o liberalismo não tem o mínimo de
chance de ser implantado.
Para continuar esse texto preciso
explicar o meu conceito de aristocracia. Na Idade Média existia uma classe que
tinha o monopólio do Estado, ela exercia as atividades de poder, e era mantida
pelo imposto. Essa classe possuía terra, mas não quero colocar isso como um
elemento fundamental da aristocracia, mas apenas colocar que ela é um grupo de
pessoas que se mantem no poder.
No Brasil essa classe também
existiu, ela era muito diferente da nobreza de Portugal, já que não era de
sangue azul de fato, pois muitos que para cá vieram eram plebeus a procura de
melhorar suas vidas. Com o tempo surge uma classe ligada à terra, era a
aristocracia.
Divido essa classe em dois
principais setores, a aristocracia rural e a urbana. A primeira é constituída
de senhores que possuem terras e empregam seus trabalhadores (escravos ou
livres) nela. A segunda é uma classe que detém cargos nos centros urbanos, ela
também tem ligações com a terra, mas são diferentes.
Onde essa classe foi parar? Bom, a
rural continua no mesmo lugar, e continua vivendo no mesmo modo de produção. A
urbana exercia cargos públicos, porém com o desenvolvimento da burguesia,
começou um processo de destruição dessa classe, e o concurso público foi um
método para isso. Além disso, o nepotismo também foi duramente atacado. Essa
classe porém é organizada, e mesmo sem ter coragem de enfrentar a burguesia
nascente se articula para se manter no poder, e com o seu modelo de vida
intacto. Assim, foi estabelecido o concurso, porém, a aristocracia é instruída,
ela pode continuar exercendo suas funções pela meritocracia.
Essa classe frequentava a
universidade, formava seus intelectuais, alguns até traidores de suas classes,
principalmente os que foram estudar na França. Faziam o curso de direito e
exerciam seus cargos. Hoje, a aristocracia continua em parte nesse modelo,
mandam seus filhos para as universidades públicas estudar direito, e fazem
concurso para trabalharem no Estado. A burguesia para não entrar em choque
permitiu que essa classe continuasse inserida na justiça, não pediram que fosse
realizada eleição para cargo de juízes. Houve nesse curso uma democratização, a
plebe passou a estudar direito em faculdades privadas. Os profissionais
trabalham no setor privado de advocacia. Se procurarmos veremos que nos
principais cargos da justiça são exercidos pelos nomes que tanto lemos nos
livros de história do Brasil, Albuquerque, Cavalcanti, etc.
A aristocracia se forma nos cursos
que são tradicionais e que garantem boa remuneração. Para tanto, precisam
monopolizar os meios de garantir com que esses cursos sejam monopolizados. O
vestibular cumpriu com esse papel. Em direito vimos que é o concurso que
garante o monopólio de vagas de trabalho. Outro exemplo é na medicina, além do
monopólio do curso, ainda existe um método de manter equilibrada as relações
empregados-empregadores. O Conselho de Medicina do Brasil, cumpre com esse
papel, ele dá o visto a quem vai exercer, limitando o número de médicos, e
ainda tem o poder de dizer qual universidades podem oferecer o curso de
medicina.
Normalmente os conselhos tendem a
permitir que aumente o número de profissionais trabalhando, pois isso lhe
garante mais taxa de filiação, mas nesse caso é uma classe que precisa se
manter, então o conselho trabalha para impedir abertura de cursos, para que os
médicos fiquem à vontade na escolha do local de trabalho. Ó obvio que o patrão
do hospital privado se aborrece com isso, pois o custo do profissional é alto,
mas nada podem fazer contra uma classe que detém poder.
A aristocracia é uma classe que não
se vê em disputa por mercado, ela é acostumada a viver sem grandes
preocupações, o status lhe é mais importante que o dinheiro. De fato, ela tem
perdido o poder político, já que membros de outras classes sobem ao poder,
porém ainda possuem seus representantes.
A outra forma de poder da
aristocracia é o militar, a oficialada representa essa classe.
Para a burguesia é preciso acabar
com todas essas formas de monopólio do poder, elas atrapalham tanto quanto
atrapalhava o rei. Poder concentrado em grupos é perigoso para a burguesia, ela
precisa distribuir o poder e torna-lo rotativo, para que não exista
concentração. É por esse motivo que está acontecendo uma reforma social para
destruir a aristocracia. O Enem sérvio para tirar da aristocracia o monopólio
do vestibular, as cotas para que outros grupos ingressem nos cursos
monopolizados, ainda está havendo uma popularização da universidade para que a
plebe possa desmoralizar a nobreza. O concurso teve essa função também. Mas
recentemente vimos sendo trazidos os médicos cubanos, o intuito é unicamente
desmoralizar a classe e retirar seu privilégio.
No exército, temos o sistema de
concurso público, e agora temos a ameaça de prender os torturadores. Os
resquícios dos regimes feudais estão sendo destruídos. A classe detentora do
monopólio do saber está sendo dilapidada. Não pretendo dizer que as relações
capitalistas serão melhores, mais essas mudanças constituem importância, mesmo
que quem dirija ela seja as classes liberais, e que elas iram impor ainda mais
sofrimento ao povo que as classes anteriores, porém, quando ocorre essa troca
de poder existe uma oportunidade para que o proletariado e outras classes
exploradas tomem o poder. O PT tem o mesmo papel de Kerenki na Rússia, a
diferença é que o PT já está no poder a 12 anos, e Kerenski ficou apenas alguns
meses, mas não existe um partido bolchevique que dirija a derrubada do governo
burguês.
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