Pesquisar este blog

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A ORIGEM: consciência e metafísica




            Certas coisas não se perguntam, não que sejam proibidas ou popularmente censuradas, mas por que dificilmente passam por nossas mentes. Algumas perguntas são bem banais na nossa infância, como nascemos, o que é sexo, etc. Todas essas perguntas constituem exercícios de filosofia da criança, infelizmente acabamos nos envolvendo tanto com a banalização de certas práticas que perdemos a capacidade de olhar para dentro e para fora de forma crítica, se perguntando sobre as coisas.
            Uma pergunta tem rondado a minha cabeça há algum tempo, aproximadamente 6 anos, é sobre a origem de nossas decisões, sempre quis saber de onde vem elas, como elas são elaboradas. Parece não fazer sentido tal pergunta, é até muito estúpida à primeira vista, mas ao tentar me responder percebi que tinha coisa que se podia extrair dela. Resolvi então, tentar escrever sobre isso, seria uma forma de facilitar o meu entendimento sobre a questão, organizar conceitos e me aprofundar no assunto. Um bom filósofo poderia fazer disso um livro, mas me contento com algumas páginas.
            Numa conversa com um amigo de militância, perguntei se o mundo já não estava predestinado, o meu amigo que era comunista respondeu que não, disse que nós traçamos nossa história. Eu lembrei a ele que o socialismo era o nosso destino, ele confirmou, mas disse que era preciso atuar na realidade e transformá-la. Então eu perguntei, “mas como vamos saber se agimos pelas nossas iniciativas e se tudo o que fizermos já estiver pronto para acontecer”. Expliquei que não era de uma predestinação divina que falava, mas de um efeito da realidade. disse que se tudo é determinado pela matéria, então nossos pensamentos também são, e nossas escolhas são bem delimitadas, ou talvez elas nem existam. Ele ficou espantado com essa conversa e paramos de discutir.
            Como podemos ter certeza se fazemos escolhas? Quando realizamos algo percorremos uma distância no tempo enquanto agimos. Depois que o ato escolhido e pensado termina não podemos voltar atrás e tentar ver como seria a vida se fizéssemos outra escolha. Ou seja, não podemos saber se escolhemos mesmo, ou se fomos levados a agir daquela forma.
            O fato é que antes de fazermos uma escolha aparecem algumas alternativas em nossa mente, então pegamos uma delas e agimos. Achamos que escolhemos por que em outro momento podemos escolher fazer outra coisa em vez da primeira, porém o momento já é outro, aquele “ser” da primeira escolha não existe mais, o “ser” da nova escolha é outro ser.
            Não podemos saber se de fato escolhemos, pois não podemos ter certeza se poderíamos ter escolhido outra coisa, o fato de existirem outras alternativas em nossa mente não prova que tínhamos alternativas, talvez aquelas alternativas fossem impossíveis. Imaginar que elas sejam impossíveis é bastante difícil, pois no momento da reflexão elas se apresentam como possíveis. Na minha mente posso jogar o bispo numa casa a frente, ou o cavalo comer o pião. Perece bastante possível. Mas acabei escolhendo o cavalo para comer o pião. Fui esperto, ganhei o jogo. Mas será que eu poderia ter jogado o pião? Será que eu não percebi que essa jogada me faria perder? Talvez as minhas experiências no jogo tenham me mostrado coisas que em outros momentos não poderia enxergar. A experiência pode ter sido uma influência. Mas eu poderia ter escolhido perde o jogo, porém teria que ter um bom motivo para fazer isso. Se tivesse jogando com uma criança poderia perder de propósito para deixa-la feliz, porém o fato de ser uma criança e de eu quere vê-la feliz me determina. Para onde olharmos veremos que existem coisas que parecem ter influência. Na verdade não dá para saber qual é de fato a escolha, elas podem ser ilusões, e percebo que não posso fazer tais escolha e fico com uma, mas e se for somente essa que eu possa escolher? E se na verdade só existir uma única escolha diante de problemas?
            Usamos diversas vezes o “se”, “se eu tivesse lá bateria nele”, mas não estava. E nunca poderia saber se de fato bateria, o fato de eu ter batido em outros momentos não prova que naquele momento teria feito o mesmo.
            Essa é uma hipótese, a de que não temos escolhas e que na verdade todas alternativas são falsas por que não poderíamos ter escolhido elas naquele momento, já que existem diversas influencias e fatores que nos delimita.
            Outra hipótese é que fazemos escolhas, que temos condição de dizer sim ou não, de transformar a realidade ao nosso redor. Mas se temos escolhas, temos que admitir que pelo menos algumas das alternativas são falsas, e que existem sim influências internas, como a experiência do sujeito e externa, como as pressões psicológicas e obstáculos.
            Se não temos escolhas, então tudo o que existe é determinado, e tudo o que acontece na natureza é condicionado pelas forças que existem nela. Será que tudo o que acontece na natureza é determinado? Será que os animais fazem escolhas e influenciam a natureza? Será que a escolha de um leão em acasalar com uma leoa modifica a realidade? para que pudéssemos entender isso precisaríamos saber se os animais fazem escolhas ou se tudo o que acontece foi determinado por ações anteriores. Se eles têm escolhas, até que ponto podem escolher? E os fenômenos da natureza, como eles acontecem? Será que estão determinados? Vai chover, devido a uma massa de ar, esse foi provocada por outro fato, e assim todo os movimentos da natureza estariam determinados desde o big bang.
            Dividimos aqui três seres, a natureza, os animais, e o homem. Desses, podemos dizer que o homem escolhe, ou pelo menos acreditamos nisso. Mas não podemos ter certeza que os animais escolhem e nem a natureza. Muito provavelmente as forças da natureza agem sobre os efeitos que provem dela mesma, um vento provoca chuva, a chuva esfria o ar, etc. Seria um eterno ciclo de fenômenos que vão puxando uns aos outros.
            Imaginemos que uma pessoa arrisca a sorte no cara ou coroa, será que no momento em que a moeda foi lançada o seu destino já não estava traçado? A forma como ela vai cair, o vento, o chão que ela toca ao cair, tudo joga para que ela caia numa posição. Talvez um estudo bastante preciso possa dizer onde e como essa moeda irá cair. E se assim for o universo, se ele tiver que cair numa determinada posição devido as forças que agem nele?
            Ou assumimos que o universo não tem escolha e que é determinado, ou existem possibilidades no universo, como um cometa que bate em um planeta ou não, como a explosão de um planeta ou não, etc. Prefiro acreditar que o universo não faz escolha, que suas ações são determinadas por leis.
            E os animais? Esses podem fazer escolha pelo o que parece, pois podem perceber um predador e fugir antes de ser visto, ou é isso, ou o medo o impede de agir de outro jeito, e assim ele seria um determinado pela natureza. Mas se escolhemos que o homem tem escolhas, devemos dar também esse poder aos animais. Eles devem ter um mínimo de escolha, a questão é conseguir provar como.
            Um animal pode escolher caçar um animal ou não? Ou seria determinado pela fome? E quando ele encontra uma manada como ele escolhe um para caçar? Talvez a velocidade e o tamanho do bicho, sendo assim, seria determinado por essas qualidades que lhe chamaram a atenção. Ainda não conseguimos demonstrar que os animais podem fazer escolhas, até agora, parece que só agem segundo o que a realidade material lhes ordena, como a fome, o medo, as necessidades, etc. Tenho a impressão que existe uma pequena faísca de possibilidade de escolha nos animais, mas ainda não consigo demonstrar isso. Vamos por enquanto afirmar que eles não têm escolhas e que estão condicionados pela natureza.
            Agora chegou a vez do homem. Esse deve ter um mínimo de escolha, ou pelo menos parece ter. De outra forma podemos dizer que tudo o que aconteceu até agora teria sido determinado por foças da natureza.
            Vejamos, vamos ser materialista, e afirmar que tudo tem que ser produzido a partir de outro elemento, nada se cria tudo é reutilizado, e todo produto é derivado de outro. Tudo o que acontece é transformação de produtos pela natureza, um produto se transforma no outro. Assim, penso ser também as ideias, uma é produzida a partir de outra. Se é assim as escolhas também devem seguir essa lei. Dessa forma, podemos dizer que as escolhas são possibilitadas, pois elas são derivadas de outras. Assim, nunca poderia ter escolhido jogar o pião sabendo que poderia perder, essa ideia e escolha derivou de outra a partir de outras experiências. Assim, ela foi determinada.
            Mas pensar assim é angustiante, pois é como assumir que tudo o que eu faço não faço por mim, mas por que existem forças que me controlam e me guiam. Eu escrevo agora esse texto, e acredito que faço isso de minha vontade, mas já pensava isso, há muito tempo, e já alguns meses tenho tido vontade de escrever isso, e me aconteceu algo ontem que contribuiu mais ainda para escrever esse texto. Por outro lado, eu aprendi a escrever, se não soubesse, não poderia escrever. Tenho esse notebook que facilita que coloque minha ideia de escrever em prática. 
            Acho que todos esses mecanismos permitem que eu esteja aqui agora escrevendo esse artigo. Eu acredito que tenha escolhido assim que subi no ônibus hoje, mas espera um pouco, lembro que estava lendo Sartre no momento em que decidi isso, e era o livro O Ser e o Nada, que tratava dos possíveis do ser, ou seja, o futuro. Teria isso contribuído? Eu escolhi chegar em casa e escrever, e fiz, me senti forte ao conseguir negar o sono e escrever, ainda fui tentado pelo facebook, mas consegui começar a escrever. Como posso ter certeza de que fui eu quem fez todas essas escolhas?
            Quando comecei a escrever esse texto, estava alegre em começar, sentir muita dificuldade em colocar as primeiras ideias no papel, mas agora não quero mais parar. Tenho compromisso amanhã cedo, mas preciso continuar escrevendo. Minha ideia era escreve duas páginas, estou na quinta e parece que posso continuar escrevendo. Há pouco tempo, uns 20 minutos escolhi ficar mais um pouco, pois achava que tinha que conseguir fechar o artigo. Agora a minha angústia é maior que no começo do artigo, pois eu não sei até onde vou continuar escrevendo, não sei se vou dormir muito tarde e perder meu compromisso. Não tenho certeza de que posso controlar meus atos, pois o que eu escrevi nesse artigo até esse momento tem me transtornado, tem me deixado perplexo. Até aqui me parece que não temos escolhas, e que tudo está determinado. Vou escrever tendo uma visão de que existe escolha, mas não tenho base material para provar isso, parece ser fé minha. A verdade é que minha ideai inicial era demonstrar que as nossas escolhas têm uma origem num lugar que não podemos ter acesso. Mas até agora só conseguir demonstrar para mim mesmo que não existe escolha.  
            Agora me veio a ideia de que eu na verdade não escrevo nada aqui, sou um meio usado por essa força para escrever esse texto. Prefiro acreditar que existem escolhas. A questão é como provar isso.
            Se as escolhas existem elas devem ser produzidas em algum lugar que não temos acesso. Elas não podem ter relação com o mundo material, pois de outra forma seguiriam a teoria do caos e na verdade seriam determinadas.
            Mas em alguns minutos de reflexão podemos perceber que somos livres na nossa mente, podemos pensar chegar a conclusões. Podemos? Imaginemos que sim. Tudo o que fazemos é com algum sentido, queremos ganhar dinheiro, ter família, estudar, etc., todas as nossas ações são voltadas para transformação de nossa realidade, não dá para dizermos que somos determinados. Mas também não dá para provar o contrário.
            Então não podemos dizer “e se Hitler vencesse a guerra”, pois a história independe de ações humanas ela é determinada por forças. Provar que não fazemos escolhas para a humanidade provocaria um desânimo na população, porém se isso acontece é por que minha ação permitiu isso, ou foi fruto de minha escolha consciente, ou já estava determinado que isso iria acontecer.
            Então estamos numa situação com questões, ou somos determinados ou fazemos escolhas. Mas se fazemos escolhas então existe algo que está mais livre que a matéria e o mundo físico, pois mesmo nossas ideias são determinadas. Então a questão é de onde vem essas escolhas?
            Essas escolham estariam em outro plano?


             
           


Nenhum comentário:

Postar um comentário