Certas coisas não se perguntam, não
que sejam proibidas ou popularmente censuradas, mas por que dificilmente passam
por nossas mentes. Algumas perguntas são bem banais na nossa infância, como
nascemos, o que é sexo, etc. Todas essas perguntas constituem exercícios de
filosofia da criança, infelizmente acabamos nos envolvendo tanto com a
banalização de certas práticas que perdemos a capacidade de olhar para dentro e
para fora de forma crítica, se perguntando sobre as coisas.
Uma pergunta tem rondado a minha
cabeça há algum tempo, aproximadamente 6 anos, é sobre a origem de nossas
decisões, sempre quis saber de onde vem elas, como elas são elaboradas. Parece
não fazer sentido tal pergunta, é até muito estúpida à primeira vista, mas ao
tentar me responder percebi que tinha coisa que se podia extrair dela. Resolvi
então, tentar escrever sobre isso, seria uma forma de facilitar o meu
entendimento sobre a questão, organizar conceitos e me aprofundar no assunto.
Um bom filósofo poderia fazer disso um livro, mas me contento com algumas
páginas.
Numa conversa com um amigo de
militância, perguntei se o mundo já não estava predestinado, o meu amigo que
era comunista respondeu que não, disse que nós traçamos nossa história. Eu
lembrei a ele que o socialismo era o nosso destino, ele confirmou, mas disse
que era preciso atuar na realidade e transformá-la. Então eu perguntei, “mas
como vamos saber se agimos pelas nossas iniciativas e se tudo o que fizermos já
estiver pronto para acontecer”. Expliquei que não era de uma predestinação
divina que falava, mas de um efeito da realidade. disse que se tudo é
determinado pela matéria, então nossos pensamentos também são, e nossas
escolhas são bem delimitadas, ou talvez elas nem existam. Ele ficou espantado
com essa conversa e paramos de discutir.
Como podemos ter certeza se fazemos
escolhas? Quando realizamos algo percorremos uma distância no tempo enquanto
agimos. Depois que o ato escolhido e pensado termina não podemos voltar atrás e
tentar ver como seria a vida se fizéssemos outra escolha. Ou seja, não podemos
saber se escolhemos mesmo, ou se fomos levados a agir daquela forma.
O fato é que antes de fazermos uma
escolha aparecem algumas alternativas em nossa mente, então pegamos uma delas e
agimos. Achamos que escolhemos por que em outro momento podemos escolher fazer
outra coisa em vez da primeira, porém o momento já é outro, aquele “ser” da
primeira escolha não existe mais, o “ser” da nova escolha é outro ser.
Não podemos saber se de fato
escolhemos, pois não podemos ter certeza se poderíamos ter escolhido outra
coisa, o fato de existirem outras alternativas em nossa mente não prova que
tínhamos alternativas, talvez aquelas alternativas fossem impossíveis. Imaginar
que elas sejam impossíveis é bastante difícil, pois no momento da reflexão elas
se apresentam como possíveis. Na minha mente posso jogar o bispo numa casa a
frente, ou o cavalo comer o pião. Perece bastante possível. Mas acabei
escolhendo o cavalo para comer o pião. Fui esperto, ganhei o jogo. Mas será que
eu poderia ter jogado o pião? Será que eu não percebi que essa jogada me faria
perder? Talvez as minhas experiências no jogo tenham me mostrado coisas que em
outros momentos não poderia enxergar. A experiência pode ter sido uma
influência. Mas eu poderia ter escolhido perde o jogo, porém teria que ter um
bom motivo para fazer isso. Se tivesse jogando com uma criança poderia perder
de propósito para deixa-la feliz, porém o fato de ser uma criança e de eu quere
vê-la feliz me determina. Para onde olharmos veremos que existem coisas que
parecem ter influência. Na verdade não dá para saber qual é de fato a escolha,
elas podem ser ilusões, e percebo que não posso fazer tais escolha e fico com
uma, mas e se for somente essa que eu possa escolher? E se na verdade só existir
uma única escolha diante de problemas?
Usamos diversas vezes o “se”, “se eu
tivesse lá bateria nele”, mas não estava. E nunca poderia saber se de fato
bateria, o fato de eu ter batido em outros momentos não prova que naquele
momento teria feito o mesmo.
Essa é uma hipótese, a de que não
temos escolhas e que na verdade todas alternativas são falsas por que não
poderíamos ter escolhido elas naquele momento, já que existem diversas
influencias e fatores que nos delimita.
Outra hipótese é que fazemos escolhas,
que temos condição de dizer sim ou não, de transformar a realidade ao nosso
redor. Mas se temos escolhas, temos que admitir que pelo menos algumas das
alternativas são falsas, e que existem sim influências internas, como a
experiência do sujeito e externa, como as pressões psicológicas e obstáculos.
Se não temos escolhas, então tudo o
que existe é determinado, e tudo o que acontece na natureza é condicionado
pelas forças que existem nela. Será que tudo o que acontece na natureza é
determinado? Será que os animais fazem escolhas e influenciam a natureza? Será
que a escolha de um leão em acasalar com uma leoa modifica a realidade? para
que pudéssemos entender isso precisaríamos saber se os animais fazem escolhas
ou se tudo o que acontece foi determinado por ações anteriores. Se eles têm
escolhas, até que ponto podem escolher? E os fenômenos da natureza, como eles
acontecem? Será que estão determinados? Vai chover, devido a uma massa de ar,
esse foi provocada por outro fato, e assim todo os movimentos da natureza
estariam determinados desde o big bang.
Dividimos aqui três seres, a
natureza, os animais, e o homem. Desses, podemos dizer que o homem escolhe, ou
pelo menos acreditamos nisso. Mas não podemos ter certeza que os animais
escolhem e nem a natureza. Muito provavelmente as forças da natureza agem sobre
os efeitos que provem dela mesma, um vento provoca chuva, a chuva esfria o ar,
etc. Seria um eterno ciclo de fenômenos que vão puxando uns aos outros.
Imaginemos que uma pessoa arrisca a
sorte no cara ou coroa, será que no momento em que a moeda foi lançada o seu
destino já não estava traçado? A forma como ela vai cair, o vento, o chão que
ela toca ao cair, tudo joga para que ela caia numa posição. Talvez um estudo
bastante preciso possa dizer onde e como essa moeda irá cair. E se assim for o
universo, se ele tiver que cair numa determinada posição devido as forças que
agem nele?
Ou assumimos que o universo não tem
escolha e que é determinado, ou existem possibilidades no universo, como um
cometa que bate em um planeta ou não, como a explosão de um planeta ou não,
etc. Prefiro acreditar que o universo não faz escolha, que suas ações são
determinadas por leis.
E os animais? Esses podem fazer
escolha pelo o que parece, pois podem perceber um predador e fugir antes de ser
visto, ou é isso, ou o medo o impede de agir de outro jeito, e assim ele seria
um determinado pela natureza. Mas se escolhemos que o homem tem escolhas,
devemos dar também esse poder aos animais. Eles devem ter um mínimo de escolha,
a questão é conseguir provar como.
Um animal pode escolher caçar um
animal ou não? Ou seria determinado pela fome? E quando ele encontra uma manada
como ele escolhe um para caçar? Talvez a velocidade e o tamanho do bicho, sendo
assim, seria determinado por essas qualidades que lhe chamaram a atenção. Ainda
não conseguimos demonstrar que os animais podem fazer escolhas, até agora,
parece que só agem segundo o que a realidade material lhes ordena, como a fome,
o medo, as necessidades, etc. Tenho a impressão que existe uma pequena faísca
de possibilidade de escolha nos animais, mas ainda não consigo demonstrar isso.
Vamos por enquanto afirmar que eles não têm escolhas e que estão condicionados
pela natureza.
Agora chegou a vez do homem. Esse
deve ter um mínimo de escolha, ou pelo menos parece ter. De outra forma podemos
dizer que tudo o que aconteceu até agora teria sido determinado por foças da
natureza.
Vejamos, vamos ser materialista, e
afirmar que tudo tem que ser produzido a partir de outro elemento, nada se cria
tudo é reutilizado, e todo produto é derivado de outro. Tudo o que acontece é
transformação de produtos pela natureza, um produto se transforma no outro.
Assim, penso ser também as ideias, uma é produzida a partir de outra. Se é
assim as escolhas também devem seguir essa lei. Dessa forma, podemos dizer que
as escolhas são possibilitadas, pois elas são derivadas de outras. Assim, nunca
poderia ter escolhido jogar o pião sabendo que poderia perder, essa ideia e
escolha derivou de outra a partir de outras experiências. Assim, ela foi
determinada.
Mas pensar assim é angustiante, pois
é como assumir que tudo o que eu faço não faço por mim, mas por que existem
forças que me controlam e me guiam. Eu escrevo agora esse texto, e acredito que
faço isso de minha vontade, mas já pensava isso, há muito tempo, e já alguns
meses tenho tido vontade de escrever isso, e me aconteceu algo ontem que
contribuiu mais ainda para escrever esse texto. Por outro lado, eu aprendi a
escrever, se não soubesse, não poderia escrever. Tenho esse notebook que
facilita que coloque minha ideia de escrever em prática.
Acho
que todos esses mecanismos permitem que eu esteja aqui agora escrevendo esse
artigo. Eu acredito que tenha escolhido assim que subi no ônibus hoje, mas
espera um pouco, lembro que estava lendo Sartre no momento em que decidi isso,
e era o livro O Ser e o Nada, que tratava dos possíveis do ser, ou seja, o
futuro. Teria isso contribuído? Eu escolhi chegar em casa e escrever, e fiz, me
senti forte ao conseguir negar o sono e escrever, ainda fui tentado pelo
facebook, mas consegui começar a escrever. Como posso ter certeza de que fui eu
quem fez todas essas escolhas?
Quando comecei a escrever esse
texto, estava alegre em começar, sentir muita dificuldade em colocar as
primeiras ideias no papel, mas agora não quero mais parar. Tenho compromisso
amanhã cedo, mas preciso continuar escrevendo. Minha ideia era escreve duas
páginas, estou na quinta e parece que posso continuar escrevendo. Há pouco
tempo, uns 20 minutos escolhi ficar mais um pouco, pois achava que tinha que
conseguir fechar o artigo. Agora a minha angústia é maior que no começo do
artigo, pois eu não sei até onde vou continuar escrevendo, não sei se vou
dormir muito tarde e perder meu compromisso. Não tenho certeza de que posso
controlar meus atos, pois o que eu escrevi nesse artigo até esse momento tem me
transtornado, tem me deixado perplexo. Até aqui me parece que não temos
escolhas, e que tudo está determinado. Vou escrever tendo uma visão de que
existe escolha, mas não tenho base material para provar isso, parece ser fé
minha. A verdade é que minha ideai inicial era demonstrar que as nossas
escolhas têm uma origem num lugar que não podemos ter acesso. Mas até agora só
conseguir demonstrar para mim mesmo que não existe escolha.
Agora me veio a ideia de que eu na
verdade não escrevo nada aqui, sou um meio usado por essa força para escrever
esse texto. Prefiro acreditar que existem escolhas. A questão é como provar
isso.
Se as escolhas existem elas devem
ser produzidas em algum lugar que não temos acesso. Elas não podem ter relação
com o mundo material, pois de outra forma seguiriam a teoria do caos e na
verdade seriam determinadas.
Mas em alguns minutos de reflexão
podemos perceber que somos livres na nossa mente, podemos pensar chegar a
conclusões. Podemos? Imaginemos que sim. Tudo o que fazemos é com algum
sentido, queremos ganhar dinheiro, ter família, estudar, etc., todas as nossas
ações são voltadas para transformação de nossa realidade, não dá para dizermos
que somos determinados. Mas também não dá para provar o contrário.
Então não podemos dizer “e se Hitler
vencesse a guerra”, pois a história independe de ações humanas ela é
determinada por forças. Provar que não fazemos escolhas para a humanidade
provocaria um desânimo na população, porém se isso acontece é por que minha
ação permitiu isso, ou foi fruto de minha escolha consciente, ou já estava
determinado que isso iria acontecer.
Então estamos numa situação com questões,
ou somos determinados ou fazemos escolhas. Mas se fazemos escolhas então existe
algo que está mais livre que a matéria e o mundo físico, pois mesmo nossas
ideias são determinadas. Então a questão é de onde vem essas escolhas?
Essas escolham estariam em outro
plano?
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