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domingo, 11 de janeiro de 2015

Libâneo e os PCN's: uma análise crítica


 O ensino

O ensino e a aprendizagem constituem uma unidade, devem acorrer ao mesmo tempo. Não há ensino se não ocorre aprendizagem. O ensino é uma atividade que se encontra na figura do professor e a aprendizagem é uma atividade mental do aluno. Para o autor essa relação não deve ser mecânica, onde o professor é quem ensina e o aluno aprende – educação bancária – mas deve haver reciprocidade.
Segundo o autor, existem formas de aprendizagem, sendo uma causal e outra organizada. A primeira constitui as primeiras formas de aprendizagem que se dão no contato com o meio externo, as experiências, as emoções, etc, vão contribuindo para uma formação intelectual primitiva. Esse saber adquirido através da relação com o meio é a base para os próximos aprendizados que são mais elevados. A outra, a organizada, constitui as formas de saber que são adquiridas de forma planejada e intencional, aqui não são acidentes que produzem saber, mas a atividade mental individual dos envolvidos no processo. Essas duas formas de aprendizado precisam ser vistas combinadas.
A partir dessa concepção anterior, Libâneo apontou níveis de aprendizagem, o reflexo e o cognitivo. O primeiro se relaciona com a aprendizagem casual, mas aqui tem que ser vista com uma forma de facilitar a aprendizagem dos alunos a partir de experiências provocadas pelo professor, onde esse conduzirá os alunos ao contato com a realidade, provocando o aprendizado básico. No cognitivo, entra a atividade mental dos alunos, o professor deve possibilitar que os conceitos adquiridos pela experiência se tornem ideias a serem trabalhadas cognoscitivamente. A consolidação desse aprendizado precisa do retorno à prática, fazendo uma combinação das atividades sensorial, mental e práticas.  
Esse processo deve ser encarado a partir da visão de unidade entre ensino e aprendizagem, o professor deve organizar bem as matérias para que o conteúdo possa ser adquirido pelos alunos no processo de assimilação ativa. Para tanto é preciso que se leve em consideração a organização lógica do conteúdo, tendo em vista os níveis de complexidade das atividades; e também a organização psicológica que leva em consideração os níveis mentais dos alunos e suas realidades sociais.
É preciso ter em vista ainda que o ensino é um processo mediador e não apenas de transmissão de conhecimento, é preciso que se observe as condições para que os alunos se tornem sujeitos ativos na aprendizagem. O autor aponta três funções inseparáveis do ensino: a organização dos conteúdos para que os alunos possam ter relação subjetivas com eles; ajuda os alunos a compreenderem as suas possibilidades de aprenderem; dirigir a controlar as atividades para os objetivos da aprendizagem.
Nesse sentido vemos que a atividade mental individual dos alunos é indispensável, porém isso não significa que o professor deva esperar o despertar do aluno, mas sim o de provocar através do aprendizado reflexo as condições do aluno interagir com o assunto dado em sala de aula. Toda atividade do professor deve buscar esse estímulo interno dos alunos, desde a organização sistemática da aula até o momento prático de interação em sala.
Nesse sentido, é importante ver como tarefa do professor o papel de estimular e impulsionar o processo de aprendizagem. Como o ensino tem caráter pedagógico é preciso que os objetivos sejam claros.
A aprendizagem é uma assimilação dos conhecimentos sistematizados deixados pela sociedade.
Ao professor cabe possibilitar o envolvimento do aluno ativo do aluno, para que ele assimile em vez de memorizar. Não se pode cair no erro, também, de achar que o professor deve apenas facilitar, sem fazer exigências do aluno, é preciso que ele esteja ativo nesse processo.
Na entrevista à professora Maria (gravada em vídeo) a entrevistada respondeu que “ensinar é aprender e aprender é ensinar”, afirmando que os dois processos se dão concomitantemente. Além disso, falou que o ensino é uma construção, que muitas vezes precisa ser desconstruído para se reconstruir.
Pensamos que a visão da professora não está distante da de Libâneo, ele coloca que é preciso haver uma reciprocidade no processo, havendo uma atividade de ambos os lados do processo. Ao afirmar que ensinar é aprender, parece-nos que ela identifica que deve haver tal troca recíproca. Claro que ela poderia ter se aprofundado mais na questão, mas acreditamos que ela se encontra segura do entendimento de suas responsabilidades como docente.
Vemos que professora usa de conceitos básicos para explicar sua visão sobre o ensino e aprendizagem, de fato, esse axioma dito pela professor “ensinar é aprender e aprender é ensinar” é verdadeiro, mas é preciso entender como ela lidar com esse conceito, pois na sua fala essa ideia parecia sem vida, sendo portanto uma mera repetição do conceito. Pensamos que o professor que também desenvolve seus métodos de ensino a partir da vida prática, e que isso não foi contemplado na fala da professora. A forma com ela ensina não necessita ser adquirida por cartilha, e sim desenvolvida a partir do que se viu “na cartilha”, nesse sentido a entrevistada colocou muito pouco de sua forma de ensino, sem trazer seus elementos do dia-a-dia na sala de aula. Penso que isso reflete uma falta de envolvimento subjetivo com o processo, se tornando dessa forma o ensino algo mecânico. Tendo em vista essa situação, é notável a deficiência que isso pode resultar no ensino, se o Libâneo coloca a importância a assimilação ativa dos alunos a partir da produção do interesse vinda do professor, como um professor que não interage com a sua própria forma de ensino, que não deposita sua subjetividade na atividade vai provocar interesse em seus alunos? A produção de interesse nos alunos partir da produção de interesse no professor com sua atividade. 


Estudo ativo

Na visão de Libâneo estudo ativo constitui o processo em que o aluno participa ativamente na assimilação do conhecimento. Para tanto o papel do professor é indispensável. O professor deve possibilitar o interesse do aluno. De fato, estudo ativo por parte do aluno só pode se dá com o interesse do mesmo, para que ele possa buscar conhecimento e apresentar a si próprio questionamentos que façam com que ele se desenvolva de forma autônoma.
Libâneo elenca uma série de atividades que podem ajudar o professor a realizar essa tarefa, ele enfatiza que é preciso que haja uma organização efetiva do professor no que diz respeito ao conteúdo, traçar os objetivos para poder pôr em prática.
O aluno deve ser despertado. Ele não despreza coisas como memorização, até mesmo como teste, fala ainda de preparação para o estudo com conversas entre professor e alunos e esses entre si; assimilação da matéria, e as tarefas de consolidação e aplicação, onde entram as revisões e exercícios.
O aluno que desenvolve o estudo ativo passa a se preocupar em anotar coisas no caderno, faz questionamentos, usa os livros didáticos, enciclopédias, dicionários, etc.
O professor precisa provocar esse interesse, apresentar fenômenos fazendo com que o aluno o observe e o interprete. Esse processo depende da assimilação ativa, que corresponde ao aprendizado que tem um papel interno do aluno, diferente da aprendizagem que vem de fora, com experiências.
O professor precisa seguir alguns caminhos para chegar a isso, tais como passar exercícios para serem feitos em casa pelo aluno, organizar tarefas em grupo, fazendo com que os alunos interajam entre si; passar leituras individuais para os alunos, para que eles possam perceber por si só suas questões; realizar atividades de campo, onde os alunos possam interagir com a realidade; estudo dirigido, etc.
As práticas de exigência e constrangimento por parte do professor dificulta o interesse do aluno, por outro a facilitação impede com que os alunos se questionem e se interessem por coisas que não estão no seu campo de interesse. Por isso é preciso que haja um mediador, que é o professor, que deve atuar no sentido de possibilitar que as atividades cognoscitivas do aluno se desenvolva de forma que ele produza uma consciência crítica e autônoma.
Na entrevista, a professora Maria colocou que nas suas atividades de estudo o ensino está ligado a avaliação, onde ela percebe o desenvolvimento do aluno durante suas atividades, conhecendo suas limitações e habilidades. Ela destacou que procura ouvir bastante seus alunos, conhecendo suas realidades. Em outro momento ela colocou que procura trabalhar bastante em grupo, afirmando que essa prática é importante por que o aluno discute com seus colegas e reflete sobre diversas questões que são postas no grupo. Coloca ainda que existe uma dificuldade grande de os alunos se relacionarem e que essa prática contribui para que eles aprendam a trabalhar em grupo.
No que diz respeito às atividades que mais contribuem para o desenvolvimento do aluno, ela destaca que houve um avanço na tecnologia, e que isso possibilita bastante a melhoria do ensino. Coloca que o importante para ela é não ficar numa rotina, e que e preciso ter uma rotatividade do uso de recursos, destacando que uma aula oral expositiva não deve ser descartada e trocado por uma com Datashow. Fala da necessidade de juntar teoria e prática. E que é preciso perceber que para cada turma existem métodos diferentes, e que muitas vezes que é boa em uma não tem funcionalidade em outras.
A aluna July Rocha colocou que as atividades que mais lhes são passadas eram provas, exercício, seminários, enfatizou que raramente existia promoção de debate em sala de aula. Sobre as atividades que mais lhe atrai falou dos debates, e disse que a prova não parecia uma atividade muito interessante, e que como método de avalição não era eficaz.
A aluna Mariana Miranda, disse que muito raramente havia aulas de campo, que haviam diálogos na sala de aula, além de provas, trabalhos e seminários. Ela colocou que as aulas de campo e os seminários eram o que mais lhe atraiam, pois neles podia colocar o que aprendeu para seus colegas e trocar experiências.
O aluno Jonatan, foi num caminho semelhante, falou que eram essas atividades as que mais ocorriam no colégio, seminário, debate, provas, e enfatizou que os seminários eram os que mais lhe atraiam.
Achamos que a visão da professora e dos alunos tem bastante pontos importante, alguns coincidindo com a visão de Libâneo. Mas parece que ainda falta bastante para que haja um avanço de fato. A professora não falou sobre o estudo individual, sobre as tarefas de casa, e os alunos também não destacaram isso. Na fala de ambos, parecia que o ensino se dava apenas na escola. Nenhum dos alunos falaram de atividades de casa, demonstrando que provavelmente não existe muito estímulo nessa questão, o que compromete o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas do aluno.
A questão de estudo em grupo apareceu, e com justificativas plausíveis, mas não se falou da importância de fazer com que o aluno desperte interesse no assunto que ele questione e interprete fenômenos. Nesse sentido, acreditamos que essa escola se encontra parcialmente no processo de ensino e aprendizagem de acordo com a visão do autor.


Objetivos

Libâneo considera que existem os objetivos gerais e específicos, os primeiros devem se pautas nos parâmetros dos órgãos de ensinos, tendo em vista a questão geral da educação, e sua importância na sociedade atual, elencando elementos como democratização do ensino, as lutas da sociedade, e seus vários problemas a serem enfrentados. Coloca que os interesses dos controladores desses órgãos nem sempre coincidem com os interesses da população majoritária da sociedade, mas que sempre existem brechas que são dadas devidos às pressões.
Os objetivos específicos constituem os conteúdos da disciplina, e tendo em vista não apenas a assimilação dos saberes produzidos pela humanidade, mas a mudança de hábitos, desenvolvimento de habilidades, convicções, e atitudes por parte do alunado.
Penso que no ensino de história o objetivo é tornar os alunos mais críticos acerca de sua realidade. A história deve servir para a reflexão de certos valores atuais como a democracia, igualdade, tolerância, etc. Os PCN’s tem se pautados nessas questões, tendo elementos específicos que devem ser desenvolvido em sala de aula.
O PCN a respeito da pluralidade cultural, por exemplo, traz questões de convivência de grupos culturais diferentes. Sabemos que a nossa sociedade é bastante diversificada com suas várias culturas, e que a convivência dessas culturas por vezes, foi conflituosa. Nesse sentido, pontos importantes como o racismo tem sido discutido em sala.
O PCN traz orientações aos professores. Ele deixa o professor bastante livre para interpretar e colocar em prática essas questões, enfatizando apenas que os professores devem tomar cuidado para não tentar homogeneizar, tendo em vistas as diferenças e sabendo lidar com elas.
O texto do PNc na parte de Pluralidade faz a diferenciação entre diversidade cultural e desigualdade social, colocando que o primeiro se refere aos processos de formação histórica de uma dada cultural, enquanto que o segunde diz respeito aos processos de dominação por grupos e classes. Nesse sentido o Brasil seria um país com diversas culturas tendo mais de 200 tribos indígenas cada uma com sua cultura própria, tendo ainda um processo de imigração de diversos nações e etnias, com diversas religiões. O texto propõe que a identidade nacional deva ser justamente a pluralidade, quebrando a ideia de certos elementos culturais dominantes. De certa forma é um tanto contraditório falar de identidade nacional e pluralidade ao mesmo tempo, tendo em vista que esse processo de multiculturalismo contribui para um internacionalismo, penso que a partir do momento em que não se reconhece determinados elementos como identidade nacional dada, então não existe nação, mas um conjunto de culturas. Quando o texto fala de brasilidade é como falasse de pernambucanidade, que é um elemento da nação, sendo dessa forma a brasilidade um elemento internacional? Identidade nacional, penso aparece no texto por que é um projeto de governo, e nenhum governo pode ser anti-nação. Penso que falte sinceridade nessa questão.
O texto aborda as questões de exclusão dos espaços públicos, num sistema em que as escolas reproduzem certos valores que tiram a oportunidade de diversos grupos sociais. Assim, por exemplo, a questão do racismo na sala de aula, como se aborda essa questão no livro didático, como torna as aulas mais inclusivas e interessantes para os diversos grupos sociais, etc. Traz a questão das diferenças regionais, dos valores e das variantes linguísticas, a forma como a escola deve lidar com isso, tendo em vista que todos possam ter a mesma oportunidade de aprender e se inserir igualmente. Numa sociedade democrática é necessário que se leve em consideração essas questões, tendo em vista que a própria estabilidade política só pode se dar se os grupos conseguem conviver com as diferenças existentes.
Uma questão que acho que deve ser trazida é sobre como se consegue valorizar as trajetórias dos diferentes grupos? Tendo em vista a grande diversidade como todos podem ser incluídos? Os grupos tidos como excluídos são bem definidos em certos momentos, são negros, índios, pobres, etc., mas a verdade é que a diversidade é muito maior que isso, numa escola pode se levar em conta a cultura negra, mas qual delas? E os grupos indígenas, será que o que aprendemos pode ser encarado como contemplador? Se fomos mais a fundo veremos as diferenças não param e que no final encontraremos as diferenças individuais, se formos partir de um ponto de vista mais pós-moderno ainda veremos que nem o indivíduo tem identidade única. Penso que não foram dadas as fórmulas eficazes para que todos sejam contemplados por esse modelo educacional. Numa sala de aula podemos ver indivíduos que pertencem a diversos grupos, evangélicos, nordestinos, de origem rural, católicos, gays, homens, mulheres, negros, brancos, etc., como todos poderão ser incluídos do ponto de vista educacional? Ora, a verdade é que o católico vai escutar que sua Igreja matou, torturou e perseguiu, essa será a sua forma de participação na história; o negro que ele foi escravizado, que foi excluído que teve o Zumbi na resistência, etc., como garantir que isso não gere conflitos? A verdade é que o que se pede é que determinado grupo, o dominante, se recolha em sua condição de opressor, na prática ainda não consegui enxergar como a cultura branca pode ser valorizada, penso que o menino branco vai construir uma identidade de diferença em relação aos demais que serão os novos “heróis nacionais”, a questão é que não vi em momento algum do texto isso ser pensado. Na sala falei que os PCN’s pareciam uma cartilha de Antônio Gramsci, fui criticado pelos colegas. De um ponto de vista revolucionário, de fato, o projeto funciona já que não leva em consideração a cultural dominante, mas se a intensão for contemplar as diferenças não tenho tanta certeza.
Mas não é só os valores dominantes que estão em jogo, e sim toda a diversidade. A verdade é que a natureza da escola é tirar o indivíduo de sua cultura, é justamente na comunidade e na família que os valores de grupo se reproduzem, a escola faz um corte nessa reprodução, principalmente a integral. No texto do PCN parece que a escola deve conservar essa cultura ao respeitá-la e integrando-a no processo educacional, nesse sentido o professor vai se adaptando as diferenças a fim de entender a cultura do aluno para valorizá-la, me parece que no final todos os alunos sairiam com suas culturas preservadas e sabendo respeitar as demais, ou será que na verdade ocorreria uma homogeneização da pluralidade? Onde na verdade não existem mais as antigas culturas, mas uma mistura “pós-moderna”, ou seja, o índio seria adepto da umbanda e escutaria rock internacional. Aos olhos de um pós-moderno isso é ideal, mas não consigo ver muita diferença da massificação da modernidade, seria uma massificação pós-moderna. Espero que daqui a 500 anos a humanidade não esteja se lamentado de dar fim as culturas como hoje fazemos em relação aos índios. É nesse sentido que digo que a compreensão sobre os objetivos dos PCN’s não são é tão fácil. Se todos os países estiverem fazendo isso, e sabemos que estão já que isso vem da ONU, então estamos construindo uma civilização de cidadãos do mundo, talvez seja essa a intenção, mas penso que isso deveria ficar mais claro no texto.
Falo isso baseado no argumento de que é preciso fortalecer as culturas, como vemos no seguinte trecho: “Por isso, fortalecer a cultura de cada grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia” (p. 132).
Realmente a alteridade e o respeito são muito importantes, e isso o texto coloca bem, mas a verdade é que estamos nos encaminhando para uma realidade de escolar integrais e públicas, pois o privado não terá condições de suprir as exigências dos governos nas questões de pluralidade e outras coisas. Sendo dessa forma um programa único de educação para que todas as culturas se integrem, caberá aos professores saber lidar com as diferenças que lhes são apresentadas no dia-a-dia. A alteridade sem homogeneização é possível nesses espaços?
Bom, mas isso são questões de reflexão sobre os objetivos e possíveis consequências dos PCN’s, do ponto de vista prático muitas coisas forma colocados em prática.
Algumas leis importantes têm sido aprovadas como a de ensino da cultura Africana. Em história, é preciso ensinar história de forma que os diversos grupos que atuaram nela apareçam como agentes. Não reproduzir a história vista apenas por determinados grupos sociais, apresentar os vários elementos que negros, índios, brancos, e outros grupos que incrementaram valores a nossa cultura.
Além disso, é preciso apresentar como se deram as relações entre as religiões, sem, no entanto, ter como objetivo desenvolver ódio pelos grupos.
A entrevistada professor Maria colocou que história é tudo, que todos são agentes de história, que a ter história é ter memória, e que isso constituía um traço importante da disciplina, a memória.
Para a professora o motivo de se estudar história é o de se conhecer como cidadão. Disse ainda que é com o conhecimento das épocas e momentos históricos que construímos nossas referências, sendo uma espécie de modelo.
A aluna July Rocha afirmou que os objetivos do ensino de história e estudar os fenômenos que ocorreram e como eles se relacionam com o presente. Sobre o porquê de se estudar história ela disse o mesmo do objetivo, de entender o passado.
A aluna Mariana Miranda respondeu como a anterior, ressaltando a importância de conhecer o passado para entender o presente, o mesmo foi dito sobre o porquê de se estudar história. O aluno Jonatan foi na mesma linha, mas pareceu mais preocupado na questão de entender os problemas sociais que existem hoje.
Penso que existe uma produção e reprodução da ideia de que a história serve para “conhecer o passado, para entende o presente, a modificar o futuro”, a repetição disso não têm permitido uma discussão mais profunda do valor da disciplina.
Nas várias vozes escutadas, falou-se dessa questão de conhecer o passado, como se fosse apenas curiosidade, a própria professora falou dessa forma e colocou que fatos serviam de referência.
As questões abordadas anteriormente como compreender os valores de nossa sociedade, como a democracia, a luta pela liberdade, etc., não foram ressaltadas pelos entrevistados. O entendimento também das questões culturais, os choques de cultura, também parece ter sido pouco questionado em sala de aula.
Essas questões faz pensar que história continua sendo uma disciplina desestimulante para os alunos, sem objetivos claros, sem expectativas, sendo repetidas as mesmas questões de tempos atrás. Mais me chamou atenção o fato de a professora ver a importância da memória, tendo a História esse papel de resgata-la. Apesar disso, não apresentou que memórias seriam essas a serem trabalhadas ou respeitadas, como vimos nas questões do PCN’s os diversos povos que compõem o Brasil precisam ter sua cultura, identidade e memória valorizadas. Penso que essas questões não apareceram de forma satisfatória nas falas, nem mesmo da professora. Falou-se de perceber a importância da democracia, mas não se viu como ela deve ser trabalhada diante das diferenças. Isso mostra que as aulas dessa professora ainda estão bastante aquém do que discutimos nos PCN’s, que pouco deve-se falar do respeito a diferença.
É preciso compreender que ainda não foram dadas as condições para que os professores possam trabalhar de forma satisfatória, o trabalho se torna técnico, não havendo espaço para a reflexão da docência e da própria disciplina de História. A fala da professora deixou muito a desejar em relação ao que seria História, percebi que saiu pouca coisa de sua própria concepção, tudo o que ela disse são conceitos bastante repetido. Isso demonstra que existe uma falta de entusiasmo com a disciplina, pois é com ele que os conceitos fluem da mente dos indivíduos. A estrutura da educação contribui para tanto, a falta de prazer no ofício não é mera questão subjetiva, mas sim objetiva, são as condições em que o professor é posto. Isso pode parecer sem importância, mas acaba sendo o reflexo de como ela dá suas aulas, o entusiasmo vindo da identificação dá vida às aulas atraindo a atenção e interesse dos alunos.


Conteúdos

Libâneo coloca que comumente conteúdo é visto como a matéria a ser passada para o aluno, sendo porém isso apenas parte do conteúdo. Ele enfatiza que essa visão é mecânica e que entende o aluno apenas como receptor de ideias, subestimando a capacidade de dar vida a matéria.
O autor coloca que o conteúdo constitui em parte os saberes que foram produzidos em forma de experiência pela humanidade, e que eles não devem ser passados como produtos acabados, e por isso conteúdo deve ser entendido como os próprios hábitos que possibilitem as transformações desses saberes em novos saberes. Para tanto é preciso compreender que certas habilidades como a reflexão, a observação de fenômenos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, leis, regras, hábitos, modos de compreensão, ec., tudo isso faz parte do conteúdo, e o professor deve ter como meta esses elementos.
Penso que em história é preciso desenvolver certas habilidades nos alunos, como a de fazer comparações, analisar determinados fenômenos da vida atual e comparar com fatos do passado. Outra coisa é a habilidade de ter um pensamento abstrato de conseguir imaginar uma vida social a partir de fatos históricos, imagens, frases, etc. Diante a percepção de que a nossa sociedade é fruto de conflitos e que vários fatores como democracia e fim da escravidão se deram através da ação humana, o aluno tomar a convicção de que ele é um agente, e que em todo o momento ele produz história, e perpetua ou modifica certos valores sociais que serão analisados no futuro.
Para a professora as habilidades adquiridas como conteúdo de história são a comparação entre os vários momentos, identificar ideias e concepções de povos. Dos hábitos falou do respeito pelos agentes da história, destacando que seria o povo em vez dos heróis dos livros.
A professora colocou que apesar de falarmos muito em construtivismo, a educação ainda seria tradicional. Destacou que segue a matriz curricular que vai de acordo com a LDB. Falou da interdisciplinaridade, do ensino da África, e cultura indígena. Os conteúdos são os livros didáticos e internet.
Penso que a professora Maria correspondeu em parte às nossas expectativas. Ela viu a questão de comparar, de identificar ideias e concepções de povos. Mas acredito que quanto a convicções do sujeito em relação ao seu papel histórico faltou bastante elementos. Não identificamos que ela tenha percebido a importância de certas conquistas históricas, e como as pessoas devem se posicionar diante delas.
Novamente vemos uma resposta que reflete repetição de conceitos dados, tendo pouca interação da professora com a ideia de conteúdos de história. Como seria essa comparação entre momentos históricos e ideias? Sentimos que faltaram exemplos, isso pode ser reflexo de como ela trabalha essas questões em sala de aula, se ela traz a questão da democracia fazendo relação com outros sistemas políticos ou se apenas tenta ligar com o conceito de democracia grega. A comparação não se faz apenas com o igual ou semelhante, tentando ver qual é a melhor democracia, se a grega a nossa, ou tentando perceber qual das duas é democracia, mas observar como esta se relaciona com as ditaduras e com as monarquias. Um momento histórico não se relaciona apenas com outros semelhantes, mas também com seus contrários, olhar, por exemplo, a filosofia e mitos gregos e comparar com o de outros povos, e até com a filosofia de hoje não é suficiente, é preciso comparar com seus opostos, a filosofia medieval por exemplo, voltada para o cristianismo com Santo Agostinho, e outros. Penso que isso nem deva ser cobrado da entrevistada, pois ainda não foi observado nem pelos elaboradores da educação, as nossas formas de comparar momentos são muitos limitadas ainda, unilateral com certo elitismo de modelos políticos e sociais, com a visão de que a democracia é o saudável para todas as civilizações, e as que não as vivem estão doentes, como a China, por exemplo, que é uma civilização milenar, mas não saber o que democracia.

LEBÊNEO, Carlos. Didática.
Parâmetros Curriculares Nacional - PCN

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