Na universidade que estudo, a UFRPE,
está sendo promovido um debate com o seguinte título: Das jornadas de junho as
eleições, onda conservadora? Os organizadores do evento são militantes do PSTU
e PCB, além de outros partidos de esquerda que participarão do evento. Esse
tema tem sido apresentado nas redes sociais, e é resultado dos números dessa
eleição.
A primeira coisa que preciso deixar
aqui é a seguinte, quando certa afirmação surge na sociedade ela deve ter
alguma base material, ou seja, existe um fundo de verdade na questão. É justamente
a evidência dessa base material ter se apresentado que são necessários por
parte de grupos políticos uma interpretação que negue tal afirmativa. Em outros
termos, a necessidade de combater a ideia de que existe uma onda conservadora
em si já aponta que ela existe, nem que seja em pequeno grau, mas existe. Se
não existisse bastava dizer que isso não é verdade, mas quando há um trabalho
intenso com produções de artigos e eventos é por que de fato algo está
acontecendo com o povo que vai além de ignorância ou de mito. É preciso então
mostrar para conservadores que eles não são conservadores.
Bom, de onde vem a ideia de ascenso
conservador? Um dos candidatos a disputa à presidência da república – cujo nome
não lembro agora – afirmou em meio aos protestos da copa que se retirou da
disputa pelo PSOL por que não se achava apto a disputar a presidência, ele
disse ainda que foi um erro o “não vai ter copa” devido está ocorrendo um
avanço conservador na sociedade. De fato elaborar um discurso contra o PT
diante do que ele via como um atraso seria difícil, penso que por isso tenha
preferido passar para outra pessoa esse trabalho dentro do partido.
Pode-se tentar negar, mas o fato de
negar já constitui uma evidência, por menor que seja.
Nas jornadas de Junho eu tinha
falado para conhecidos que aquilo não passava de uma onda anti-PT. Ali tinha
vários seguimentos da sociedade, mas percebi dois em particular que me chamou
atenção, um foi o de grupos anarquistas, outro foi de uma classe instruída e
“nobre”.
Os primeiros vinham crescendo em
todo Brasil, no ano de 2012 com o aumento das passagens fizeram mobilizações
que reduziram as organizações estudantis a meros observadores patéticos, a
UESPE, a UNE, UEP, os DCE, os partidos todos tiveram que baixar as bandeiras
nos protestos. Eu participei de várias delas e via que não havia espaço algum
para luta organizada.
Esses grupos tinham se reunido nos
anos antes a esses protestos, em 2011 e 2010, eles se aliaram a outros partidos
de extrema esquerda com um objetivo claro, impedir que a UESPE liderasse a luta
contra o aumento. Como a UESPE era dirigida pelo PCR (Partido Comunista
Revolucionário), anarquistas, trotskistas, maoístas, e outros se juntaram no
comitê Contra o Aumento.
Já em janeiro de 2013, essas
organizações foram surpreendidas pelo encabeçamento do PCR através do
DCE-UFRPE, DCE-UNICAP e UESPE no comitê criado por eles mesmo. Mas a perda foi
mais para o PCR que para esses grupos, pois mesmo tendo a direção não levantava
a bandeira das entidades. Assim, a UESPE havia sido substituída pelo comitê.
Os atos feitos pelo comitê contaram
com tudo o que pede anarquistas, pneu queimado, bala da borracha, etc. Isso
ajudou ainda mais esses grupos a crescerem.
Os anarquistas têm a seguinte
questão com o PT, eles acham que são comunistas e que estão fortalecendo o
Estado comunista. O anarquista teme mais o comunismo que o capitalismo. As
jornadas de junho seria o pivô para derrubar o PT. Isso não é bem um
conservadorismo, mas um anti-ptismo.
Outro setor saiu em massa, foi o dia
que eu olhei para os lados – no dia da jornada - e não percebia uma classe
média, mas parecia elite mesmo, a elite foi às ruas. Pessoas que conheço que
estudaram nos melhores colégios, que moram no bairro Graças estavam lá na rua.
Essa outra classe média formada por filhos de profissionais liberais e pequenos
burgueses que cursam cursos noturnos nas universidades públicas também estavam
lá com os mesmos objetivos desse grupo mais “nobre”.
É obvio que existia um sentimento
anti-PT, mas as palavras de ordem eram “educação, saúde, segurança”. Ninguém
iria gritar “abaixo as cotas, etc.”.
Os partidos por sua vez foram por
dois motivos, um para de fato derrubar Dilma, eram PSOL, PSTU, MEPR, PCB, etc.
outros foram tentar fatiar um pedaço das massas, tentar aparecer e crescer.
No meio disso existia, claro, os que
estavam ali por motivos reais e concretos, como era o Movimento Passe Livre.
Essa camada mais instruída tinha
interesse na questão de tirar o PT, tanto os universitários pequenos
aburguesados como os filhos da elite. Era um conservadorismo no que diz respeito
aos avanços que parecem beneficiar as classes mais pobres, como cotas, prouni,
enem, etc. Não é esse o avanço conservador tão temido pelos esquerdistas do
congresso. É preciso separar bem.
Essas pessoas se dividiu em dois
nesse segundo turno de Dilma e Aécio, a elite que continua querendo derrubar
Dilma e que clama por uma intervenção militar. E os demais que perceberam que
Dilma não é de direita como muitos pensavam, e que viam que o que estava em
jogo não eram ganhos materiais para a classe trabalhadora mais as perdas em
relação ao liberalismo cultural.
Mesmo quando a elite deu aquelas
palavras no Estádio na inauguração da copa, as esquerdas não se incomodaram em
ver que elas estavam sendo apoiadas por ela. Muitos acreditavam que as elites
tinham avançado socialmente.
Lembro quando eu tive que trabalhar
a mente de professores e alunos para impedir uma greve dos docentes na UFRPE e
que poderia avançar para nível nacional, alertei os que estavam ao meu redor de
que o PSOL, PSTU e PCB querem apenas fazer uma grande agitação na copa para
manchar a imagem de Dilma. O sindicato tentou com todos os meios convencer os
professores, mas como os professores estavam cansados da última greve
derrotaram o sindicato.
Quando derrotamos a greve pensei
“menos um”, eu sabia que a copa iria ter tumulto. Eu me sentia incomodado em
discutir com vários esquerdistas e ser encarado como de direita por ser contra
greve e ainda dizer que devíamos apoiar a copa. Foram momentos difíceis para
mim.
Próximo as eleições as coisas mudam,
percebe-se que estava em jogo um avanço conservador que ia além dos grupos de
elite que foram para as ruas. Esse na verdade foram massa de manobra de
interesses que não eram os deles. Dos candidatos três eram visivelmente
cristãos. Quando Silas falou sobre o programa de Marina então as esquerdas
caíram em si. Elas viram que o que estava me jogo era muito mais que a vida da
classe trabalhadora, essa para eles não importa, são apenas instrumentos para
conseguir acabar com a moral cristã.
Percebi que Luciana Genro era muito
mais incisiva com Marina do que com Dilma, eu olhei isso com espanto, pois
achei que ela iria bater forte em na presidente. Vi muitos esforços para
derrubarem Marina, enquanto isso Aécio subia silenciosamente.
O resultado do conservadorismo
popular se deu no congresso nacional, onde Russomano, Bolsonaro, e Marcos
Feliciano foram os mais votados. Não estou falando que estão entre os mais
votados, mais que foram os mais votados, sendo que Tiririca ficou em segundo. O
voto em Tiririca é de quem não quer votar, mais o dos demais é voto de opinião.
Os três foram alvos de fortes críticas no congresso, eles foram os que mais
apareceram sendo ridicularizados, qualquer pessoa inteligente diria que eles
estariam fora do congresso esse ano.
É não foi jingle ou campanha rica, a
campanha de Bolsonaro era ele falando de forma séria sem música. Vi vídeos no
you tube de pessoas comuns pedindo voto nele na sala de estar de casa. O Pânico
na Tv detonou a imagem de Bolsonaro, no Jô Soares ele foi visto pela plateia
como um palhaço sem noção. Ele só era apresentado como homofóbico, fascista,
machista etc. e ganhou com muito voto.
No Senado aconteceu o mesmo, Suplici
perdeu para Serra. Quem imaginaria que a ruralista Katia Abreu que foi acusada
de ter escravos na sua fazenda se reelegeria? No congresso nacional o PT perdeu
18 cadeiras e o PSDB ganhou 11, PMDB também ganhou, é obvio que isso representa
um sentimento da população.
Em Pernambuco, um prefeito não
conseguiu se eleger como senador, João Paulo que governou por duas gestões foi
varrido pelos pernambucanos. Mais, não elegeram nenhum deputado federal, na
câmara estadual apenas três.
Querem provar que não existe onda
conservadora pelos números de votos para presidentes. Um artigo da Esquerda
Marxista – uma das maiores tendências do PT – argumenta que as pessoas estão
desiludidas com as eleições burguesas e os votos não válidos tem aumentado.
Mostrou uma tabela que apresentava o crescimento dos votos não válidos, onde na
eleição onde disputavam Lula e Alckimin eles aparecem somados na terceira
posição, em 2010 entre Dilma e Serra aparece em segunda, a agora aconteceu o
mesmo.
Bom, não vamos confundir as coisas,
os votos não válidos são de quem não está animado com eleições, esse número
cresceu por que ouve um aumento no desânimo. Esse pessoal que saiu dos votos
válidos migrando em direção aos inválidos são os que deixaram de acreditar em
mudanças. Isso devido aos escândalos de corrupção promovidos pela mídia. Agora,
percebemos que os votos válidos saíram de Dilma que perdeu em relação à última
eleição mais de 2 milhões de voto. Esse ainda não é fruto do avanço
conservador, mas de um desânimo.
É preciso entender que as classes
populares não olham para Dilma como feminista ou gayzista, mas como uma pessoa
que defende os mais pobres. São poucos que despertaram em suas consciências de
que Dilma é anti-cristã. Desses alguns migraram para os não válidos ou PSDB.
Outros continuam com Dilma, mas combatem o PT nas câmaras.
Eu ainda tenho ousadia para dizer
que muitos decidiram continuar com Dilma mesmo que sendo anti-cristã, mas
resolveram criar seu protetorado nas câmaras, seria um pensamento bastante
articulado das massas.
Pernambuco tem um respeito imenso
pelo PSB, era comum ver alunos da rede estadual com fotos de Eduardo Campos no
caderno. O PSB varreu o PT de Pernambuco. Em outras palavras mesmo numa
democracia o povo escolhe “coronéis”. Aqui quem recebeu mais voto foi Marina,
mesmo ela tendo pouco apoio da família de Eduardo e de líderes do partido que
viam que ela queria dominar o PSB, ou fazer dele mero instrumento. Mas o
simples fato de umas poucas palavras da esposa de Eduardo fez o povo decidir
por Marina.
Meu professor falou em sala que
achava que o PT errou em não avançar com as políticas liberais, ele disse que o
povo pernambucano é muito conservador ainda. E de fato ele está certo, pelo
menos nessa questão moral. Essa luta das classes pequeno aburguesadas são uma
luta contra o povo, querem ganhar o povo para que sejam contra eles mesmos.
Lembro bem que em 2010 enquanto fiz várias panfletagens na porta da faculdade
pelo voto em Dilma via os alunos votarem em Marina e desprezar minha candidata.
Agora é o contrário, vejo toda universidade panfletando para Dilma e eu apenas
recebo os panfletos e falo umas poucas conversas.
Os trabalhadores não estão
conformados com o governo de Dilma e não são conservadores na questão de suas
lutas, pelo contrário querem lutar ter conquistas reais. Quem está ganhando são
classes que tiram das costas dos trabalhadores seus benefícios. Os
investimentos saem do bolso da classe trabalhadora.
Existem avanços conservadores e
avanços conservadores um das elites, outro das classes médias liberais, e outro
da população mais pobre. É obvio que os esquerdistas vão dizer que não houve
avanço conservador por que o povo está em luta nos sindicatos, mas isso é
querer ludibriar as pessoas, ver apenas uma parte da questão.
Outra coisa importante que percebi é
que houve uma campanha silenciosa. Desde o início via pessoas de classe alta
dizer que não iria votar em Dilma, mas quando se perguntava qual era o seu
candidato diziam que não sabiam. Os eleitores do Aécio fizeram uma campanha na
surdina, da classe alta isso era esperado, poucos tinham coragem de afirmar
isso. Mas o mais interessante era notar que entre o povo havia uma “não voto em
Dilma” grande, e se dava da mesma forma que ocorria com as classes altas, ou
seja, não declaravam voto em Aécio.
Sabemos que a elite está contando
com um golpe militar, e que muitos já declararam isso, vemos isso nas passeatas
pró-Aécio. Além de ocorrer aquele fenômeno de algumas dezenas, ou centenas
pedirem intervenção militar. Mas escutar um pedreiro dizer que prefere que os
militares deem um golpe do que ver Dilma no poder é um tanto interessante. Um
amigo meu disse que isso ocorreu com ele numa conversa com um conhecido. É
óbvio que isso é um caso isolado, mas na Marcha da Família com Deus foram mais
de 5 milhões de pessoas nas ruas, numa população que era um pouco mais que a
metade de hoje (200 milhões). Bom, até agora não teve nenhuma passeata que
superasse esse número.
Avanço conservador tem, mas é
preciso saber do que se trata. Se em relação a luta dos trabalhadores então
isso não existe, até por que a classe trabalhadora nunca precisou de Marx para
lutar, sempre fizeram isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário