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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ONDA CONSERVADORA SIM!






            Na universidade que estudo, a UFRPE, está sendo promovido um debate com o seguinte título: Das jornadas de junho as eleições, onda conservadora? Os organizadores do evento são militantes do PSTU e PCB, além de outros partidos de esquerda que participarão do evento. Esse tema tem sido apresentado nas redes sociais, e é resultado dos números dessa eleição.
            A primeira coisa que preciso deixar aqui é a seguinte, quando certa afirmação surge na sociedade ela deve ter alguma base material, ou seja, existe um fundo de verdade na questão. É justamente a evidência dessa base material ter se apresentado que são necessários por parte de grupos políticos uma interpretação que negue tal afirmativa. Em outros termos, a necessidade de combater a ideia de que existe uma onda conservadora em si já aponta que ela existe, nem que seja em pequeno grau, mas existe. Se não existisse bastava dizer que isso não é verdade, mas quando há um trabalho intenso com produções de artigos e eventos é por que de fato algo está acontecendo com o povo que vai além de ignorância ou de mito. É preciso então mostrar para conservadores que eles não são conservadores.
            Bom, de onde vem a ideia de ascenso conservador? Um dos candidatos a disputa à presidência da república – cujo nome não lembro agora – afirmou em meio aos protestos da copa que se retirou da disputa pelo PSOL por que não se achava apto a disputar a presidência, ele disse ainda que foi um erro o “não vai ter copa” devido está ocorrendo um avanço conservador na sociedade. De fato elaborar um discurso contra o PT diante do que ele via como um atraso seria difícil, penso que por isso tenha preferido passar para outra pessoa esse trabalho dentro do partido.
            Pode-se tentar negar, mas o fato de negar já constitui uma evidência, por menor que seja.
            Nas jornadas de Junho eu tinha falado para conhecidos que aquilo não passava de uma onda anti-PT. Ali tinha vários seguimentos da sociedade, mas percebi dois em particular que me chamou atenção, um foi o de grupos anarquistas, outro foi de uma classe instruída e “nobre”.
            Os primeiros vinham crescendo em todo Brasil, no ano de 2012 com o aumento das passagens fizeram mobilizações que reduziram as organizações estudantis a meros observadores patéticos, a UESPE, a UNE, UEP, os DCE, os partidos todos tiveram que baixar as bandeiras nos protestos. Eu participei de várias delas e via que não havia espaço algum para luta organizada.
            Esses grupos tinham se reunido nos anos antes a esses protestos, em 2011 e 2010, eles se aliaram a outros partidos de extrema esquerda com um objetivo claro, impedir que a UESPE liderasse a luta contra o aumento. Como a UESPE era dirigida pelo PCR (Partido Comunista Revolucionário), anarquistas, trotskistas, maoístas, e outros se juntaram no comitê Contra o Aumento.
            Já em janeiro de 2013, essas organizações foram surpreendidas pelo encabeçamento do PCR através do DCE-UFRPE, DCE-UNICAP e UESPE no comitê criado por eles mesmo. Mas a perda foi mais para o PCR que para esses grupos, pois mesmo tendo a direção não levantava a bandeira das entidades. Assim, a UESPE havia sido substituída pelo comitê.
            Os atos feitos pelo comitê contaram com tudo o que pede anarquistas, pneu queimado, bala da borracha, etc. Isso ajudou ainda mais esses grupos a crescerem.
            Os anarquistas têm a seguinte questão com o PT, eles acham que são comunistas e que estão fortalecendo o Estado comunista. O anarquista teme mais o comunismo que o capitalismo. As jornadas de junho seria o pivô para derrubar o PT. Isso não é bem um conservadorismo, mas um anti-ptismo.
            Outro setor saiu em massa, foi o dia que eu olhei para os lados – no dia da jornada - e não percebia uma classe média, mas parecia elite mesmo, a elite foi às ruas. Pessoas que conheço que estudaram nos melhores colégios, que moram no bairro Graças estavam lá na rua. Essa outra classe média formada por filhos de profissionais liberais e pequenos burgueses que cursam cursos noturnos nas universidades públicas também estavam lá com os mesmos objetivos desse grupo mais “nobre”.
            É obvio que existia um sentimento anti-PT, mas as palavras de ordem eram “educação, saúde, segurança”. Ninguém iria gritar “abaixo as cotas, etc.”.
            Os partidos por sua vez foram por dois motivos, um para de fato derrubar Dilma, eram PSOL, PSTU, MEPR, PCB, etc. outros foram tentar fatiar um pedaço das massas, tentar aparecer e crescer.
            No meio disso existia, claro, os que estavam ali por motivos reais e concretos, como era o Movimento Passe Livre.
            Essa camada mais instruída tinha interesse na questão de tirar o PT, tanto os universitários pequenos aburguesados como os filhos da elite. Era um conservadorismo no que diz respeito aos avanços que parecem beneficiar as classes mais pobres, como cotas, prouni, enem, etc. Não é esse o avanço conservador tão temido pelos esquerdistas do congresso. É preciso separar bem.
            Essas pessoas se dividiu em dois nesse segundo turno de Dilma e Aécio, a elite que continua querendo derrubar Dilma e que clama por uma intervenção militar. E os demais que perceberam que Dilma não é de direita como muitos pensavam, e que viam que o que estava em jogo não eram ganhos materiais para a classe trabalhadora mais as perdas em relação ao liberalismo cultural.
            Mesmo quando a elite deu aquelas palavras no Estádio na inauguração da copa, as esquerdas não se incomodaram em ver que elas estavam sendo apoiadas por ela. Muitos acreditavam que as elites tinham avançado socialmente.
            Lembro quando eu tive que trabalhar a mente de professores e alunos para impedir uma greve dos docentes na UFRPE e que poderia avançar para nível nacional, alertei os que estavam ao meu redor de que o PSOL, PSTU e PCB querem apenas fazer uma grande agitação na copa para manchar a imagem de Dilma. O sindicato tentou com todos os meios convencer os professores, mas como os professores estavam cansados da última greve derrotaram o sindicato.
            Quando derrotamos a greve pensei “menos um”, eu sabia que a copa iria ter tumulto. Eu me sentia incomodado em discutir com vários esquerdistas e ser encarado como de direita por ser contra greve e ainda dizer que devíamos apoiar a copa. Foram momentos difíceis para mim.
            Próximo as eleições as coisas mudam, percebe-se que estava em jogo um avanço conservador que ia além dos grupos de elite que foram para as ruas. Esse na verdade foram massa de manobra de interesses que não eram os deles. Dos candidatos três eram visivelmente cristãos. Quando Silas falou sobre o programa de Marina então as esquerdas caíram em si. Elas viram que o que estava me jogo era muito mais que a vida da classe trabalhadora, essa para eles não importa, são apenas instrumentos para conseguir acabar com a moral cristã.
            Percebi que Luciana Genro era muito mais incisiva com Marina do que com Dilma, eu olhei isso com espanto, pois achei que ela iria bater forte em na presidente. Vi muitos esforços para derrubarem Marina, enquanto isso Aécio subia silenciosamente.
            O resultado do conservadorismo popular se deu no congresso nacional, onde Russomano, Bolsonaro, e Marcos Feliciano foram os mais votados. Não estou falando que estão entre os mais votados, mais que foram os mais votados, sendo que Tiririca ficou em segundo. O voto em Tiririca é de quem não quer votar, mais o dos demais é voto de opinião. Os três foram alvos de fortes críticas no congresso, eles foram os que mais apareceram sendo ridicularizados, qualquer pessoa inteligente diria que eles estariam fora do congresso esse ano.
            É não foi jingle ou campanha rica, a campanha de Bolsonaro era ele falando de forma séria sem música. Vi vídeos no you tube de pessoas comuns pedindo voto nele na sala de estar de casa. O Pânico na Tv detonou a imagem de Bolsonaro, no Jô Soares ele foi visto pela plateia como um palhaço sem noção. Ele só era apresentado como homofóbico, fascista, machista etc. e ganhou com muito voto.
            No Senado aconteceu o mesmo, Suplici perdeu para Serra. Quem imaginaria que a ruralista Katia Abreu que foi acusada de ter escravos na sua fazenda se reelegeria? No congresso nacional o PT perdeu 18 cadeiras e o PSDB ganhou 11, PMDB também ganhou, é obvio que isso representa um sentimento da população.
            Em Pernambuco, um prefeito não conseguiu se eleger como senador, João Paulo que governou por duas gestões foi varrido pelos pernambucanos. Mais, não elegeram nenhum deputado federal, na câmara estadual apenas três.
            Querem provar que não existe onda conservadora pelos números de votos para presidentes. Um artigo da Esquerda Marxista – uma das maiores tendências do PT – argumenta que as pessoas estão desiludidas com as eleições burguesas e os votos não válidos tem aumentado. Mostrou uma tabela que apresentava o crescimento dos votos não válidos, onde na eleição onde disputavam Lula e Alckimin eles aparecem somados na terceira posição, em 2010 entre Dilma e Serra aparece em segunda, a agora aconteceu o mesmo.
            Bom, não vamos confundir as coisas, os votos não válidos são de quem não está animado com eleições, esse número cresceu por que ouve um aumento no desânimo. Esse pessoal que saiu dos votos válidos migrando em direção aos inválidos são os que deixaram de acreditar em mudanças. Isso devido aos escândalos de corrupção promovidos pela mídia. Agora, percebemos que os votos válidos saíram de Dilma que perdeu em relação à última eleição mais de 2 milhões de voto. Esse ainda não é fruto do avanço conservador, mas de um desânimo.
            É preciso entender que as classes populares não olham para Dilma como feminista ou gayzista, mas como uma pessoa que defende os mais pobres. São poucos que despertaram em suas consciências de que Dilma é anti-cristã. Desses alguns migraram para os não válidos ou PSDB. Outros continuam com Dilma, mas combatem o PT nas câmaras.
            Eu ainda tenho ousadia para dizer que muitos decidiram continuar com Dilma mesmo que sendo anti-cristã, mas resolveram criar seu protetorado nas câmaras, seria um pensamento bastante articulado das massas. 
            Pernambuco tem um respeito imenso pelo PSB, era comum ver alunos da rede estadual com fotos de Eduardo Campos no caderno. O PSB varreu o PT de Pernambuco. Em outras palavras mesmo numa democracia o povo escolhe “coronéis”. Aqui quem recebeu mais voto foi Marina, mesmo ela tendo pouco apoio da família de Eduardo e de líderes do partido que viam que ela queria dominar o PSB, ou fazer dele mero instrumento. Mas o simples fato de umas poucas palavras da esposa de Eduardo fez o povo decidir por Marina. 
            Meu professor falou em sala que achava que o PT errou em não avançar com as políticas liberais, ele disse que o povo pernambucano é muito conservador ainda. E de fato ele está certo, pelo menos nessa questão moral. Essa luta das classes pequeno aburguesadas são uma luta contra o povo, querem ganhar o povo para que sejam contra eles mesmos. Lembro bem que em 2010 enquanto fiz várias panfletagens na porta da faculdade pelo voto em Dilma via os alunos votarem em Marina e desprezar minha candidata. Agora é o contrário, vejo toda universidade panfletando para Dilma e eu apenas recebo os panfletos e falo umas poucas conversas.
            Os trabalhadores não estão conformados com o governo de Dilma e não são conservadores na questão de suas lutas, pelo contrário querem lutar ter conquistas reais. Quem está ganhando são classes que tiram das costas dos trabalhadores seus benefícios. Os investimentos saem do bolso da classe trabalhadora.
            Existem avanços conservadores e avanços conservadores um das elites, outro das classes médias liberais, e outro da população mais pobre. É obvio que os esquerdistas vão dizer que não houve avanço conservador por que o povo está em luta nos sindicatos, mas isso é querer ludibriar as pessoas, ver apenas uma parte da questão.
            Outra coisa importante que percebi é que houve uma campanha silenciosa. Desde o início via pessoas de classe alta dizer que não iria votar em Dilma, mas quando se perguntava qual era o seu candidato diziam que não sabiam. Os eleitores do Aécio fizeram uma campanha na surdina, da classe alta isso era esperado, poucos tinham coragem de afirmar isso. Mas o mais interessante era notar que entre o povo havia uma “não voto em Dilma” grande, e se dava da mesma forma que ocorria com as classes altas, ou seja, não declaravam voto em Aécio.
            Sabemos que a elite está contando com um golpe militar, e que muitos já declararam isso, vemos isso nas passeatas pró-Aécio. Além de ocorrer aquele fenômeno de algumas dezenas, ou centenas pedirem intervenção militar. Mas escutar um pedreiro dizer que prefere que os militares deem um golpe do que ver Dilma no poder é um tanto interessante. Um amigo meu disse que isso ocorreu com ele numa conversa com um conhecido. É óbvio que isso é um caso isolado, mas na Marcha da Família com Deus foram mais de 5 milhões de pessoas nas ruas, numa população que era um pouco mais que a metade de hoje (200 milhões). Bom, até agora não teve nenhuma passeata que superasse esse número.
            Avanço conservador tem, mas é preciso saber do que se trata. Se em relação a luta dos trabalhadores então isso não existe, até por que a classe trabalhadora nunca precisou de Marx para lutar, sempre fizeram isso.
           

           
             
           
           
           



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