O
propósito desse texto é questionar quem está no direito de julgar quem. Parece
que o entender-se a si Mesmo nunca foi e nunca será superado. Nunca conseguimos
nos colocar no lugar do Outro e compreender seu entendimento. O pior que as
ciências humanas já deu condições da reflexão sobre esse assunto. Foucault, por
exemplo, faz isso em sua História da
loucura. Mas o que parece é que saímos de uma ditadura do Mesmo para irmos
para um determinado Outro. Esse Outro é sempre o pobre que não pode fazer suas
próprias escolhas devido as suas condições; o criminoso que não teve educação
para seguir um caminho de honestidade. Ainda tem um Outro mais Outro ainda. Os
indígenas, os gays, as minorias culturais, que vivem na sua própria lógica de
mundo, não cabendo a nós intervir, por que nossa concepção de mundo não tem
nada a ver com a deles e que por tanto não poderíamos ajudá-los em nada. O
interessante é que está ocorrendo uma defesa de Outro, tanto o pobre e o
indígena, não em detrimento do nosso Mesmo, talvez até esteja, mas principalmente
de outros Outros. Tornou-se comum culpar a burguesia por tudo que ocorre de
negativo na sociedade, ou mesmo os dirigentes do Estado. Agora é assim: os
pobres são o Outro a ser compreendido e os poderosos são determinantemente
opressores.
O
fato é que os poderosos também são um Outro, tanto quanto os outros. E por que
não os compreender como humanos, em vez de determiná-los como meramente cruéis?
Quem é esse homem que dirigi o Estado? Quem é esse homem que explora o trabalho
dos operários? São homens? Ou sou programas bem definidos? É claro que suas
ações afetam alguns, mas beneficia a outros. E como disse Simonides, segundo
Platão, em A republica, justiça é
fazer o bem para os amigos e o mal para os inimigos. Ora, quem faz o bem a uns,
faz o mal a outros. Maquiavel, séculos depois, reafirma essa tese. Assim sendo,
digo que não existe ações neutras. Se os indígenas são beneficiados, outros são
prejudicados, e, não necessariamente os dirigentes e poderosos, podem ser
outros pobres. Talvez seja um pouco anacrônico usar Newton, mas toda ação tem
uma reação. Mas o que acho interessante é que até hoje ninguém tentou
compreender o burguês, e déspota, o homem. Não digo que eles estejam certos em
suas ações, mas sim que os pobres, os indígenas, ou as mulheres também não
estão. Fazemos críticas como Stalin dirigiu a União Soviética, sem dá espaço,
para as minorias não proletárias. Mas não fazemos o mesmo? Por acaso quando um
homem mata sua mulher isso não é apodíticamente machismo. Não precisamos de
psicólogo para entender isso, ele acha que a mulher a posse dele e pronto, não
tem o que discutir. Mas a mulher, essa não, se ela apanha é por que ama demais,
porque é pura e boa. Vários casos há de homens que matam sua mulher e se matam.
“talvez para ter ela como posse no inferno – ah, lembrei, ela vai para o céu e
ele pro inferno”. Mas ninguém tenta explicar esse comportamento de maneira
séria. Se deixam levar pelo senso feminista dominante. Essa a resposta é seguramente
certa? Esse homem não pode ter sido acometido por uma crise psicológica e saído
de si? Claro que ele deve ser julgado. Mas reduzir esse home a um mero machista
é um absurdo.
É
incrível como hoje se defende o criminoso, por ele ser pobre e se condena o
homem por ele ser homem. O ser humano foi mutilado de si mesmo. Mas porque não
compreender o nazista? Ele mata os judeus no campo de concentração e noite
beija sua filha antes de dormir. Nós não fazemos isso? Nós não escolhemos quem
devemos tratar bem e quem devemos tratar mal? E não é isso essa ditadura, das
minorias? A verdade é que não existem inocentes nessa história.
A
defesa dos “indefesos” se dá por que eles são pensados de forma determinista,
ou seja, o pobre que pede esmolas é assim por que não teve escolhas. Mas e o
rico teve escolha? E até que ponto podemos dizer que ele faz escolhas? Por
acaso o burguês pode ter outra lógica de mundo que não a burguesa? Como julgar
sua consciência? Os interesses vem de todos os lados. O pobre tem interesses,
assim como o indígena e o gay. Não é apenas os burgueses que tem interesses. O
que eu vejo é que estamos derrubando um ditadura para impor outra. Não a do
proletariado, a qual eu defendo, mas a dos “indefesos”. Se fosse em detrimento
da burguesia eu poderia até aturar, mas é em cima da exploração da classe
operária que passa 15 horas ou mais para alimenta o pobre, o burguês e mesmo o
indígena.
Eu
tenho minha opinião do que é melhor para a humanidade, mas ela não é
maniqueísta como tem feito boa parte dos intelectuais de esquerda. Não vejo
bons e maus, vejo classe e indivíduos. Para mim o tirânico é bom pra os seus e
maus para outros.
O
meu propósito, porém, aqui é criticar o paternalismo. Principalmente um falso
marxismo, que acha que fazer revolução é tirar dos ricos e dar para os pobres.
Deveriam ler mais, não apenas o próprio Marx, principalmente O Capital, mas
outros inclusive os que fazem crítica aos marxistas. Não sem razão, pois
entenderam o marxismo como um mecanicismo. Deram espaço para o desenvolvimento
do ceticismo e do existencialismo devido a sua alienação intelectual. Não faço
essa crítica a Stalin, até por que é difícil julgar um homem responsável por
uma revolução proletária diante de uma guerra contra o nazismo sem nenhum apoio
das nações democrática. O povo russo sendo trucidado pelos nazistas e a luta
interna contra o liberalismo pequeno burgues. Acho que Stalin cometeu erros,
mas quem cometeu mais erro foram os marxista que se deixaram levar por suas
interpretações pequeno burguesas. Qual é o problema dos Kulaks? Por acaso os
criminosos não tem que trabalhar? É correto sustentar criminosos como fazemos
aqui? Por acaso nos países ocidentais a pena de morte não é permitida em Estado
de guerra? O que fazer diante de contestações internas quando o mais importante
é a proteção da prátria que se ver ameaçada com invasão do solo soviético pelos nazistas? Nós
escolhemos os animais que podemos torturar e matar e os que podemos dar amor e
carinho. Assim também é na sociedade.
Mais
para mim não é o puro paternalismo e maniqueísmo o problema, mas sim o
resultado disso: a falta de compreensão da sociedade. Pois para todos os
fenômenos já tem as explicações bem definidas guiadas por leis mecânicas. Assim
andamos para trás sem perceber. O paternalismo é tamanho entre os marxistas que
alguns chegam a odiar a burguesia. Dizem que todos os problemas da humanidade é
resultado dela. Como se no feudalismo ou na Grécia Antiga não existissem esses
mesmos problemas. Se as pessoas são egoístas e individualistas é por influencia
da burguesia, para eles. É muito satisfatório encontrar um culpado para os
nossos erros. As classes pré-capitalistas não eram individualistas como a
burguesia. Antes fosse, eles eram perticularistas, viam o mundo a partir de
suas experiências individuais. O servo não se importava se a natureza tinha lhe
dado um colheita melhor esse ano se o que tivesse desse para sobreviver. Não se
importava em fazer maiores esforços para ter uma produção melhor, deixava tudo
a mãos de Deus. O resultado era a carestia e a fome nos lugares que ele não
via. A burguesia é individualista, mais não confundir como um mero egoísmo,
apesar de também ser, mas como sendo um pensamento em que o indivíduo é responsável
pela sua felicidade. Claro que também são egoístas, mas seu individualismo
matou a fome de muita gente. Com isso quero dizer que os grupos são apenas
interesses. Os marxistas, tem interpretados como sendo a burguesia a classe
dominante, não existindo nenhuma outra, e do outro lado como uma classe única e
revolucionária o povo. São estúpidos. Quando Karl Marx faz a crítica a Bruno
Bauer por ele acreditar que os responsáveis pelo progresso da humanidade é a
“sagrada família” dos intelectuais, afirmando em vez disso, que o progresso é
resultado do “espírito das massas” ele não quis dizer que eram os pobres os
responsáveis pelo progresso, pois a massa inclui todos na sociedade. Isso quer
dizer que é a vontade do ser humano em alcançar um mundo melhor e mais justo é
que leva a sociedade ao progresso. O termo espírito se encaixou muito bem, pois
há muito tempo que os homens acreditam num lugar onde as pessoas são justas.
Chamam de céu, de orum etc. a própria burguesia quer um mundo melhor, como
todas as classes. Mas por estarem presas a interesses particulares não
conseguem permitir o avanço. Somente uma classe cujos interesses são
essencialmente revolucionários pode dar um passo a mais para a humanidade. Se
fomos defender os interesses indígenas voltaremos a viver dependente da natureza,
vulneráveis a fomes e doenças, o mesmo posso falar dos camponeses. Por isso não
acho justo julgar moralmente a burguesia, nem mesmo os políticos. Vamos
discutir política, não corrupção. Os corruptos são na verdade mais honestos que
muitos cidadãos. Pelo menos a corrupção política se dá em torno de interesses
políticos, em vez de meramente individuais. Mas não são poucos os cidadãos
comuns que não respeitam a fila para pegar o ônibus, ou que dá dinheiro ao
policial para não perder a carteira de motorista. Quem pode fazer esse
julgamento moral aos poderosos? Eu digo que todos, mas que todos também devem
ser julgados. Igualmente, pois o burgues também é determinado por condições
materiais, assim como o batedor de carteira. Não digo que a humanidade é mau
por natureza, nem muito menos que seja assim devido a burguesia. Se a burguesia
não se preocupa com o seu operário, o ladrão não se preocupa com a família do
pai que matou. Por acaso a mulher bonita e atraente se preocupa com o rapaz que
não tem namorada por que não tem dinheiro, e precisa se masturbar quando chegar
em casa devido a propaganda constante que a mulher faz do seu corpo? Todos
estão agindo conforme seus interesses , são guiados por ele. Por esse motivo
não devemos nos posicionar como se os interesses viessem só dos poderosos. Eles
também vem das minorias. Podendo inclusive se tornarem dominantes. Na balança
são apenas interesses. O verdadeiro marxista deve perceber como as ações
favorecem o progresso da humanidade, pois se a burguesia explora o proletariado,
ela faz ações favoráveis não só a ele, mas a humanidade. Como podemos acabar a
fome dos que ainda não tem o que comer? Será dando terras aos sem terra? Sim?
Porque? Por acaso precisamos explorar mais terrenos para produzir mais
alimentos? Claro que não. O agronegócio, na verdade, permiti produzir cada vez
mais em terrenos cada vez menores. Mas se por acaso só pudéssemos aumentar a
produção de alimentos explorando mais territórios e atingindo a vida de várias
espécies, então não hesitaria em dizer que esse era o caminho, pois o homem é
mais importante que a natureza. Não existe nenhum juiz superior que possa dizer
quem está certo no universo, o homem vive pra si. Os seus conceitos sobre a
natureza e universo só tem sentido para
o próprio ser humano. Por esse motivo não devemos ser paternalistas e nem
maniqueístas, devemos agir em favor da revolução. Não vamos “passa a mão na
cabeça” de pequenos grupos. Na verdade, as velhas classes já deram a sua
contribuição para o progresso da humanidade. Pouco elas podem contribuir mais,
pelo contrário tendem a fazer “girar para traz o moto da história”. É preciso
entender quais são as ações da burguesia para o progresso. A melhora do
processo produtivo. O desenvolvimento da ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo observar
e atuar na luta do proletariado, pois a sua luta trazem avanços para toda a
humanidade. Não digo que devemos negar políticas assistencialistas por
completo, pois uma lei que de acesso a negros a universidade possibilita que
pessoas da classe trabalhadora possam se tornar intelectuais em defesa do
progresso, além é preciso acabar com o privilégio dos brancos, pois onde
existem privilégios a luta de classe é camuflada. O mesmo com a mulher, é
importantíssimo que existam leis que facilitem que as mulheres ingressem na
política, não por que ela tenha sido excluída, na verdade ela mesmo se exclui
por que não ver necessidade de atuar nela, mas porque é preciso acabar com as
diferenças entre homens e mulheres. Mas essa reforma não pode ser apenas na
superestrutura, mas também no chão de fábrica, elas precisam sentir o mesmo que
sentem os homens operários. Claro que muitas mulheres estão trabalhando hoje,
mas está ocorrendo uma nova divisão sexual do trabalho, as mulheres ficam com
os serviços leves do terceiro setor e homens nos serviços pesados sejam
operários ou não. Por que isso é justo? Na verdade isso é só mais um
privilégio, e eu já disse o que penso dos privilégios para a luta de classes.
Só com a inserção da mulher tanto na superestrutura como na estrutura é
possível haver igualdade de fato. Deve haver políticas para os mais pobres como
o bolsa família, mas no sentido que possa possibilitar a eles a estudarem e ter
uma formação para servir a sociedade, em outras palavras eles precisam ser
cobrados de responsabilidades, a dedicação escolar já é um bom começo. Não digo
que eles não tenham responsabilidade nas suas condições de vida, pois eles tem,
mas não vejo mal algum em conceder alguns benefícios desde que tenha por
objetivo o progresso. Sobre o homossexualismo, penso que deve haver políticas
contra o preconceito. Não devemos dar valor a homossexualidade como se fosse
mais avançado que a heterossexualidade. Não devemos cair no erro de que seja
uma doença, mas também não uma mera orientação ou escolha. Claro que existem
sociais e psicológicos que atuam nesse sujeito, e mesmo biológico. É preciso
lembrar também que vivemos numa sociedade e que devemos respeitar as regras que
foram construídas para o melhor convívio. Por isso os homossexuais não podem
fazer tudo o que quiser nos espaços públicos só por que são homossexuais, não
falo do beijo, mais de comportamentos. A sociedade reprova qualquer
comportamento que inflija os seus costumes comuns, se não concordamos com esses
costumes podemos combate-los no campo das idéias. Finalmente queria falar dos
deficientes físicos. Existem milhares de tipos de deficiência. A maioria delas
impedem os homens não apenas de ter oportunidades iguais no mercado e livre
locomoção pelos espaços urbanos, mas também de viverem as coisas mais comuns
aos homens o amor, a amizade, etc. Como acabar com esse problema? Claro que um
anão também quer namorar e viver normalmente. Primeiro devemos acabar com as
diferenças materiais, a medicina precisa ter esse propósito, também a
tecnologia. Infelizmente, enquanto essas áreas forem monopólios dos ricos haverão
poucos profissionais e conseqüentemente poucos indivíduos que se dediquem ao
progresso em favor da humanidade. O desenvolvimento do capitalismo ajuda com a
tecnologia, temos que pegar “carona” nesse progresso. A outra coisa que precisa
acontecer para acabar com o sofrimento espiritual desses indivíduos é a mudança
de nossa concepção de mundo. Somos muito interesseiros, nos aproximamos de quem
nos favorece, e isso não tem início no capitalismo, é muito mais antigo.
Sexualmente somos guiados pela beleza, pelo poder, pelo dinheiro. O amor pleno
é raro, sempre está associado a algum interesse. Mas haverá um dia em que os
homens serão apenas homens. Os relacionamentos serão guiados pela identificação
dos indivíduos. O homem não vai olhar a mulher pelo seu corpo, nem a mulher o
homem pelo seu dinheiro, mas coisas que eles tem em comum, pelo conteúdo deles.
Em outra palavras será valorizado o espírito do homem. Será na convivência de
suas práticas que os homens se conheceram e se apaixonaram, o sexo será
conseqüência dessa aproximação. Não sei se o fim das diferenças entre homens e
mulheres levem os homens a práticas hemofílicas, mas tenho certeza que os
diferentes serão incluídos.
Essa
sociedade ainda está longe, mas somos nós que a construímos, e a cada passo
estamos mais próximos dela. É por isso que não devemos cair no erro de
consolidar o passado achando que estamos sendo revolucionários. Sei que essa
não é uma tarefa fácil, para os militantes, mas uma boa alternativa para acerta
é ouvir, todos os lados, os que consideramos opressores e os que consideramos
oprimidos, e depois pensar por si mesmo. O dialética é um método excelente, mas
não podemos reduzi-lá a uma lei mecânica, senão retornaremos a ser idealista,
quando precisarmos explicar a finalidade dessas leis.
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