A fé consiste em acreditar em
enunciados já pronto, ou como dito pelos religiosos, acreditar naquilo que não
se ver. Mas essa última, ganhou mais força na era da Razão, pois os homens da
ciência faziam descoberta que contradizia a bíblia. Com a descoberta de
existiam outros corpos celestes que não a terra e que a terra era redonda e
girava em torno do sol, como relacionar essas descobertas com os escritos no
livro de Gêneses, que dizia que a terra era vazia e sem forma, e “disse deus e
haja luz e houve luz”. Ora vimos que a terra era só mais um corpo no espaço, se
Deus criou a terra como no Gênese então esses outros corpos, onde eles estavam
na criação? Eles não eram sem forma eram “redondos”. Para manter o seu
prestígio a Igreja precisava dizer que a fé era superior a ciência, por isso
era preciso acreditar no que não se pode ver. Mas a religião já foi outrora uma
forma seminal da ciência, que procura explicar a realidade, porém tinham poucos
materiais que contribuíssem para uma melhor compreensão, não era mera fé era um
saber. Se torna fé quando os homens que viviam daqueles saberes já não podem
enfrentar as evidências dos fatos.
O saber é ter conhecimento de
enunciados produzidos. Assim, por exemplo, sabemos que a soma dos quadrados dos
catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Esse conhecimento foi adquirido por
Pitágoras e transformado em saber. A maioria das pessoas fazem aplicações
técnicas desse saber sem contestá-lo. Ora, isso também é fé. A diferença é que
as pessoas dão credibilidade por esse saber ter comprovações práticas e ter
sido elaborado por uma pessoa que se dedicava a ciência. Não é diferente da
antiga religião que servia como saber. Ou seja, o que ocorre hoje é uma troca
de uma fé por outra. A morte, por exemplo, não tem nenhuma prova científica de que
seja inevitável, apenas morre-se como
disse Heidegger. Acreditamos que ela é inevitável por que vemos as pessoas
morrerem, ou seja, pela experiência, mas existe diferenças entre o acontecer e o acontecido, para David Hume, não existe nenhuma prova de que todos
os fenômenos sejam iguais, assim sabemos que todos os dias o sol nasce, mas
qual a certeza de que ele vá nascer de novo. Por isso ele propõe o estudo do acontecer, do fenômeno a se realizar,
sem dar explicações com base em fenômenos já vividos. Não penso que devemos ser
tão radicais, mas de fato cada fenômeno é um fenômeno. Sendo assim podemos
pensar, e se existir algum triângulo onde essa lei não possa ser aplicada. O
não pensar nessas questões constituem uma fé só que mais elabora.
Com isso, digo, a fé já foi saber.
Em algum momento os homens produziam enunciados que eram mais científicos que
místicos. Eles foram “engessados” em saber, quando surgem novos enunciados
ocorre uma contradição com o saber anterior, essa luta transforma o antigo
saber em fé. De fato, a existência dessas fé ocorre por que os homens preferem
se conservar em suas zonas de conforto. Não querem fazer esforços para
compreenderem novos enunciados, os que aceitam por outro lado, só o fazem por
que eles trazem vantagens econômicas, é o caso em que para a burguesia a Razão
acabava com a influência da Igreja que impedia o lucro, e dos nobres que viviam
dos impostos pagos pela plebe, onde a burguesia se situava.
Mas a fé só ganha o significado
atual quando aquele velho saber se torna absurdo e não comprovável. Como ocorre
hoje com a fé cristã. Assim o saber hegeliano se contrapõe ao saber marxista,
mas aquele não mera fé ainda, pois se encontra no campo do saber.
Ocorre hodiernamente um fenômeno
interessante. Os cristão tem feito uso da ciência para fortalecer a fé. Existem
teólogos que tentam provar os acontecimentos bíblicos através de fatos
históricos. Ora, se os fiéis aceitam esses novos enunciados não são mais fiéis
de acordo com a visão religiosa, ou seja, fé pura, são já sabedores, portadores
de saber. Assim, o pastor não precisa mais falar “eu creio, irmão”, mas sim “eu
provo, irmão”. Isso prova que o misticismo tende a se acabar, já que mesmo
nesse campo ideológico se faz uso da razão, ainda que de forma errônea, mas
precisa delas para sustentar suas ideias. Porém, veja que contradição, para que
o homem possa ter direito ao “reino do céu” é preciso ter fé em Jesus e aceitar
ele como seu salvador. Como os homens não têm certeza da existência da vida após a morte, não fazem esse ritual
para terem esse direito, preferem viver na vida que comprovadamente existe. Por
esse motivo a bíblia diz que o caminho do céu é estreito. Ora, se é a fé que dá
essa condição de “subir aos céus” então se alguém me convence que todo esse
discurso é verdadeiro através de evidência, então não sou digno dos céus pois
tive que ver para aceitar o discurso. Ora, se eles conseguem provar com a ajuda
da ciência a existência de Deus então toda a humanidade será salva, pois todos
acreditarão pela evidência dos fatos. Logo o inferno é um lugar para aqules
homens do passado que não tiveram acesso a ciência, veja que injusto isso é.
Porém, não devemos pensar que
sairemos do campo do misticismo de uma hora para outra, pois a humanidade na
sua zona de conforto, aceitam os saberes como se fazia ainda na pré-história e
acabam transformando esse saber numa fé. Com isso, mesmo ser ateu pode ser uma
fé se for apenas um saber sem reflexão, ou pura não aceitação do discurso do
cristianismo. É preciso que se saia do campo do saber para migrar para o do
conhecer, ou seja, pensar por si só. Claro que não podemos conhecer todas as
coisas que nos são apresentados, mas podemos refletir sobre esses enunciados.
Se fizermos isso podemos enxergar que 3 x 0,333... não é 1 e entre os números 1 e 0 existem uma
infinidade de outros números. Não devemos aceitar enunciados é preciso
pensa-los.
Ivson
Carlos, 2014.
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