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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

VOLTAIRE E OLHAR DO OUTRO NA HISTÓRIA: INOVAÇÕES E LIMITES



Ivson Carlos Barros Nunes. História, UFRPE.


            François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, foi um personagem de grande contribuição para a historiografia. Suas contribuições para essa disciplina são inúmeras, pois seus escritos pontuam elementos que só se tornarão importantes para essa profissão no século XIX. Antes desse filósofo a história ainda era vista como uma extensão da providência divina, escritores como Bossuet, por exemplo, atribuíam os fenômenos e fatos históricos as intervenções de Deus. Assim, a história não era vista de forma racional.
            Segundo José da Assunção Barros, em seu artigo “Voltaire: Considerações sobre a Historiografia e a Filosofia da História”, escrito em 2012, o filósofo foi o divisor de águas na questão de introduzir a cientificidade na História.
             A verdade é que esse autor poderia ser considerado o pai da historiografia, pois contribuem com elementos como o dever do historiador e da história para a sociedade, teoria sobre as fábulas e gêneses dos povos, teleologia da história, metodologia, a importância das fontes, modalidades e campos da história, etc. Em todas essas questões Voltaire pode ser visto como um pioneiro, inclusive foi ele o primeiro a usar o termo “filosofia da história” (José da Assunção Barros), e a falar de uma rede historiadores, fazendo dessa disciplina uma profissão.
            Aqui, porém, irei me ater apenas a questão da alteridade introduzida por esse autor no âmbito da historiografia, pois essa questão ainda foi pouco explorada. Em autores como Barros ou Geraldo Magedo Machado entram em discussão diversas questões, como por exemplo, em Barros, Voltaire poderia ser encaixado em três épocas para a historiografia vistas nesses três títulos: O VOLTAIRE “HISTORIADOR DE TIPO ANTIGO”; O VOLTAIRE MODERNO, EM SUA CONEXÃO COM UMA NOVA HISTÓRIA EM FORMAÇÃO; e INTUIÇÕES PARA UMA HISTÓRIA FUTURA. Mas sobre a questão da alteridade para a produção historiográfica, apesar de ser citado em diversos momentos por esses autores e outros, ainda está muito aquém das necessidades intelectuais dos historiadores.
            Mas não basta analisar como o Voltaire poderia ter contribuído para trazer o olhar do outro para a historiografia, é preciso também perceber os limites que existiam dentro de sua concepção de mundo para que esse método fosse implantado pela História, e como a sociedade de época também pode ter interferido para que ele tivesse esse limite. Não sentido, não apresentarei apenas as coisas construtivas de Voltaire para a disciplina em questão, mas também o que seria, visto pelo historiador de hoje uma, uma aberração. Penso que se algum autor trabalhou a contribuição na alteridade de Voltaire, não tenha ido ao ponto de mostrar suas contradições nesse mesmo aspecto.
            Voltaire mostra uma grande preocupação em conhecer os fatos históricos, porém percebe que muitos deles podem ser falsos, e que além disso a história sempre é vista apenas do ponto de vista da guerra, deixando de lado outras questões importantes. Ele acreditava que para se compreender a história seria preciso estudar os documentos de outras nações, pois elas trariam elementos que a nação de origem do historiador não saberia. Nesse momento ele dá a importância de ver o ponto de vista de outros povos, em vez de levar em consideração apenas o que é dito pela nação de origem.
            No entanto, ele vai ainda mais fundo nessa questão de entender o outro, ele transcende a importância do documento de nações estrangeiras que revelem coisas que o historiador não sabe, e passa a perceber que também é importante conhecer os usos, costumes e crenças de outros povos. Vejamos o que ele diz no trecho a seguir:
Temos vinte histórias do estabelecimento dos portugueses nas Índias; mas nenhuma delas nos deu a conhecer os diversos governos desses países, suas religiões, suas antiguidades, os brâmanes, os discípulos de São João, os guebros, os baneanes. Conservaram-nos, é bem verdade, as cartas de Xavier e dos seus sucessores. Deram-nos histórias da Índia, feitas em Paris, baseadas nesses missionários que não sabiam as línguas dos brâmanes. Repetem-nos em inúmeros escritos que os indianos adoram o diabo. Capelães de uma companhia de mercadores partem com esse preconceito; e desde que veem nas costas de Romandel umas figuras simbólicas, não deixam de escrever que são retratos do diabo, que estão no império dele, que vão combate-lo. Nem lhe passa pela cabeça que nós é que adoramos o diabo Mamon e que vamos levar-lhe nossos votos a seis mil línguas da nossa pátria para ganhar dinheiro”[1] (grifos meus)
            Podemos encontrar nesse pequeno trecho elementos de uma alteridade do historiador para com o povo estudado. Logo no início da citação vemos que ele se preocupa em conhecer através da história outros povos, e faz, dessa forma, uma crítica aos relatos feitos por viajantes e mercadores que, apesar de terem escrito diversas história, forma limitados no que diz respeitos as instituições que existem em outros povos.
            O mais interessante é quando ele diz que as histórias da Índia parecem que foram feitas em Paris, nesse momento ele parece compreender a importância do “lugar do historiador”, que será usada mais tarde pelos historicistas. É verdade que o Voltaire tem muito mais proximidade com o que viria a ser no futuro o positivismo, não apenas por ser Francês, mas por que é iluminista, e teria feito uma espécie de teleologia da história. Porém esse pequeno elemento, a percepção de que quem escrevia de Paris sobre a Índia, teria uma visão limitada, pode ser encarado, no meu ponto de vista, como um precursor do historicismo.
            É bem verdade que essa ideia não foi desenvolvida o suficiente por Voltaire, e que talvez ele não tenha dado tanta importância a essa questão, já que é somente nesse trecho que vemos essa característica do autor, e talvez seja por isso que outros autores não tenha se atentado para essa questão no filósofo.
            O que vemos nesse trecho é algo que vai além da questão da alteridade, é a percepção de que o historiador tem lentes que são formadas pelo o seu “lugar”[2] de origem. É verdade que o fato de perceber que a história estava sendo escrita pelo o olhar do Mesmo e não do Outro, tem muito mais relação com a alteridade, porém quando ele afirma que esse Mesmo é Paris, é o mercador, que não sabe a língua dos brâmanes, ele pode estar dando as bases da questão da “lente” e do “lugar” do historiador, contribuindo dessa forma para o historicismo.
            Talvez seja muita ousadia dizer que quem contribuiu para o historicismo alemão tenha sido um precursor do positivismo francês, e dessa forma colocar o Voltaire como precursor de Claudênius, porém acho que esse questionamento se faz necessário.
            A questão da alteridade é vista, ainda no trecho, quando ele fala que os mercadores partem com preconceitos. É sabido que o filósofo escreveu sobre a tolerância, o que contribui enormemente com a alteridade, porém aqui vemos a tolerância sendo aplicada para a compreensão da mentalidade de outros povos.
            Voltaire critica os mercadores que diziam que os indianos adoravam ao diabo, então ele argumenta que quem adora o diabo Mamon eram os europeus, e por isso acabavam vendo o diabo em outros lugares. Aqui vemos mais uma vez a questão do lugar, pois o filósofo percebe que a condição de cristão, e conhecedor da entidade maligna denominada diabo, faz com que se veja em outros povos elementos que na verdade são da cultura de origem do observador. Assim toda a descrição feita é com base no “lugar”.
            Penso ainda, que o interesse em entender o outro tenha contribuído para modalidades da história que só se desenvolverão no futuro, como a história “vista de baixo”, e outros elementos da história Cultural.
            A primeira contradição que se apresenta nesse autor em relação a alteridade é que ele teria uma visão universalista, como diria José da Assunção Barros:
“Entre o historiador que se rende à clara percepção das diferenças e o filósofo iluminista que anseia pela apreensão da unidade da natureza humana, Voltaire tendeu, como se vê, a acompanhar a tendência universalizadora predominante entre os filósofos do século iluminista. Neste aspecto em particular, ele é um filósofo bem sintonizado com o movimento das ideias iluministas, e afasta-se da valorização da diversidade historiográfica que logo seria tomada como um fio condutor pelos historicistas do século seguinte[3]
            Barros teria visto que a falta de importância dada às festas populares, e as estátuas que simbolizavam acontecimentos, como o de Ceres ter ensinado agricultura aos homens, seria um elemento do universalismo iluminista de Voltaire. Ele estaria desconsiderando a forma de pensar do povo, e seu imaginário. Porém, vemos que essa visão sobre o Voltaire vai de encontro ao que vimos dele até agora nesse artigo.
            A verdade é que Voltaire vai ser contra o uso de monumentos, festas e outros elementos como fonte histórica, pois elas não representavam a verdade. Nesse sentido, penso que ele esteja certo, ao fazer crítica às festas, e outras fontes, porém seu erro seria o de não perceber que esses elementos poderia servir para a compreensão dos costumes dos povos. E é aqui que ele se contradiz, pois se ele percebia a importância de ser ver sem preconceito, de analisar tendo em vista seu lugar, não percebeu a importância das festas, e estátuas para essa compreensão. Vejamos esse trecho:
Somos naturalmente levados a crer que um monumento erigido por uma nação com o fim de celebrar um acontecimento atesta a certeza deste. No entanto, se esses monumentos não foram elevados por contemporâneos, se celebram alguns fatos poucos verosímeis, provam acaso outra coisa, a não ser que se quis consagrar uma opinião popular?” (Voltaire, p. 19)  
            Perceba que o questionamento é em cima da veracidade do fato apresentado pelo monumento. Será que devemos considerar as pinturas de Napoleão, ou as de Dom Pedro I como fontes históricas inquestionáveis? É esse o questionamento feito pelo autor.
            O filósofo iluminista consegue revolucionar no que diz respeito a questionar fatos consagrados em imagens, monumentos, e festa, e até mesmo nas fábulas. Mas põe um limite no que ele mesmo teria dado início, que a compreensão da mentalidade de outros povos. Vejamos o que ele fala da pintura:
Os retratos ainda denotam, muitas vezes, mais vontades de brilhar que de instruir. Os contemporâneos têm direito de pintar o retrato dos homens de Estado com os quais negociaram, dos generais sob cujo comando fizeram a guerra. Mas como é de se temer que o pincel seja guiado pela paixão! Parece que os retratos que encontramos em Claredon são feitos com mais imparcialidade, gravidade e sabedoria do que os que lemos com prazer no cardeal de Retz” (Voltaire, p. 21) 
           
       Vemos nesse trecho que ele reconhece que as pinturas podem ser feitas com o intuito de passar algo, e assim não representariam o fato.
            Essas contradições talvez fossem impercebíveis naquele momento, a verdade é que apenas na atualidade é que se pode falar de alteridade, de historicismo, etc., mas naquele momento essas coisas estavam ainda nos seus embriões, e aqueles que portavam essas características não sabiam que eram precursores das ideias que hoje conhecemos claramente.  
            Um exemplo dessas contradições pode ser encontrado ainda no que diz respeito ao universalismo iluminista de Voltaire. Nesse pensamento todos os homens são iguais, e inclusive se desenvolveria de forma parecida, isso seria a base dos Direitos Humanos que viriam mais tarde.
            Parece, no entanto, que os povos da África são considerados diferentes no que diz respeito a suas inteligentes, como conciliar isso ao universalismo? Vejamos esse trecho:
“(...) e de humano só têm (os albinos da África) a estatura do corpo, com a faculdade da palavra e do pensamento, num grau muito distante do nosso” (Voltaire, p. 43)
            Vemos que nem todos são iguais como se pensa na universalidade iluminista. E o autor ainda deixa uma reflexão sobre a possível origem dos negros:
Fala-se dos sátiros em quase todos os autores antigos. Não me parece que a existência deles tenha seja impossível; ainda sufocam na Calábria alguns monstros postos no mundo pelas mulheres. Não é impossível que, nos países quentes, macacos tenham subjugado mulheres. Heródoto, no livro II, diz que durante sua viagem ao Egito, uma mulher se acasalou em público com um bode, na providência de Mendes; e invoca em testemunho todo o Egito. O Levítico, no capítulo 17, traz a proibição de se unir com bodes e cabras. Portanto esses acasalamentos devem ter sido comuns; enquanto não somos mais bem esclarecidos, é de se presumir que espécies monstruosas podem ter nascido desses amores abomináveis. Mas, se existiram, não podem ter influído sobre o gênero humano; e, como as mulas, que não geram, não puderam desnaturar as outras raças” (Voltaire, p. 44)
            Aqui ele parece acreditar que monstros podem ter surgidos de transas de humanos e animais, ele não afirma que os negros nasceram disso, porém perceba que ele entra nessa discussão justamente quando fala das diferentes “raças” – ele usa o termo raça, pois naquele momento era assim que se via – e quando ele diz que talvez um macaco tenha subjugado uma mulher nos países quentes, o que ele quer dizer? No final ele diz que se isso aconteceu é impossível que tenha dado origem a gerações de homens pois como as mulas deveriam esses monstros serem estéreis. Por mais que ele afirme isso no final, qualquer pessoa que lesse essa parte do macaco e da mulher diria que os negros seriam produtos dessa mistura na visão de Voltaire. Se ele não acreditava nisso, parece que sentiu uma certa tentação em acreditar.
            Vimos que o autor tinha os elementos da alteridade na historiografia, e que também tinha elementos do historicismo, porém penso que tudo isso estaria no seu embrião, estaria num “corpo sem órgãos”[4]. Se os autores não beberam em Voltaire para desenvolver essas concepções, porém nele já estavam presentes esses elementos. Outros estudos poderiam ser feitos no sentido de encontrar ligações entre os futuros historicistas, como Claudênius, Vicco, Herder, e outros com as ideais de Voltaire. E dessa forma traçar uma linha para a alteridade e o historicismo.  


Referências:
VOLTAIRE. Filosofia da História. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BARROS, José da Assunção. Voltaire: considerações sobre a historiografia e a filosofia da história. Revista de Teoria da História Ano 3, Número 7, jun/2012 Universidade Federal de Goiás.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: vozes, 2008.





[1] Voltaire. Filosofia da história. P. 27.
[2] Ver Michel de Certeau.
[3] BARROS, José da Assunção. Voltaire: considerações sobre a historiografia e a filosofia da história.
[4] Deleuze usa esse termo para designar o que estaria numa fase embrionária, como o ovo, sendo portanto apenas potência. 

sábado, 31 de janeiro de 2015

O Homem Honrado: reflexões sobre as diferenças entre luta política e luta individual


Realmente é difícil de se entender a origens do feminismo, mas de fato não nasceu há 30 anos, e nem com o marxismo, se olharmos a sociedade e tentarmos analisar as lutas que se deram no seu interior veremos que as mulheres sempre lutaram para tirar o homem do poder. A Bíblia representa a luta que o homem travou para impedir a volta ao matriarcado. Essa é a outra questão, se o matriarcado existiu, se se pensa o matriarcado como um parlamento lotado de mulheres, de fato isso não existiu, mas se pensarmos num mundo onde a moral não existe, mas apenas os valores misticos da mulher, então entenderemos o que o matriarcado. O matriarcado se difere do "patriarcado" não pelo fato de serem mulheres que estão no poder, mas também pela própria lógica de organização do poder. No matriarcado a intuição e a emoção impera sobre a razão, é um sistema inverso ao dito patriarcal. 
O feminismo como ideologia organizada surgiu recentemente, mas a Igreja enfrentou as tendências de retorno ao matriarcado desde de seu início. Nos apócrifos é possível se ver coisas como a mulher por ser intuição está mais próxima de Deus, o Espírito Santo é uma mulher, é a mãe, etc. etc. Tudo isso foi combatido pela Igreja. Uma das maiores lutas da Igreja foi contra o Amor Cortês organizado pela rainha da França. Os poetas faziam das mulheres suas inspirações, afirmando que o homem deve fazer todos os sacrifícios pela mulher, etc. A Igreja logo percebeu que queriam derrubar o patriarcado e colocou diversos poetas na fogueira. 
Essa questão leva a uma reflexão, como o feminismo se desenvolveu? Bom, ele tem sua origem na sociedade ginocêntrica. Autoras como Nazareth Barros argumenta que o homem ao tentar tirar poder da mulher só fez aumentar o seu poder. Ela afirma que a mulher virou uma espécie de deusa que os homens admiravam e se tornaram cativos. E eu concordo com esse ponto de vista da autora, devido ao fato de a mulher se sentir segura nessa sociedade que a protege, ela viu condições de barganhar mais privilégios. O feminismo nasce da ideia que o homem tem que elas merecem mais cuidados. 
Se formos para o Oriente Médio, veremos que as mulheres não são tão poupadas das penas quanto as do ocidente, se uma mulher comete um erro ela vai perder a cabeça, será punida como qualquer cidadão. Isso faz com que as mulheres saibam que elas não devem tentar barganhar privilégios, pois a lei não ameniza para o lado dela. Isso é semelhante ao pensamento do Olavo de Carvalho, de que os rebeldes só são rebeldes contra aqueles que os protegem e querem seu bem, assim, um menino que apanha na escola, desconta todo o seu ódio em quem quer seu bem, nos seus pais, e se torna um rebelde, mas os que de fato o oprimem ele tentar ser igual, e não o combate. Acho que essa foi uma das palavras mais sábias do Olavo. E de fato a mulher só pode protestar por que sabia que a sociedade sempre pegaria leve com ela, sabendo que mesmo que cometa os piores crimes ainda será protegida pelos homens, se sente vontade para fazer suas "choradeiras". 
O engraçado, e que muitos homens conservadores conseguem ver que os bandidos agem por que a lei da brecha, e que sempre terá alguém para vê-lo como coitado, e outros ainda como herói, porém não conseguem enxergar que isso ocorre com todos os grupos, a mulher também ao se sentir segura pode exigir mais. 
Muitos desses conservadores, acreditam que a culpa é do homem por o feminismo ter avançado, pois o homem foi degenerando, desvalorizando a família, etc., de fato a culpa é do homem, mas não por isso, e sim por que seu cavalheirismo colocou a mulher numa situação de poder que só fez ela aumentar seus interesses. 
Assim, surgem as ideias de que se homem se tornar honrado vai atrair uma mulher honrada, uma ideia repleta de misticismo, do tipo de eu vestir verde atraiu dinheiro, se eu comprar uma gatinha que balança a pata esquerda vou atrair amor, etc. etc. 
Parece até que as mulheres resolveram sair e protestar devido aos homens terem deixado de ser honrados, por terem saído para beber, por terem deixado de trazer o pão de cada dia, etc. E aí criam o postulado de que se o homem se torna um poderoso, aparece como grande, se torna honrado, ganha dinheiro conseguirá uma mulher honrada. E assim, se o homem individualmente fizer isso, todas as mulheres saião da putaria e se tornarão santas novamente. 
Esse tipo de coisa me lembra uma discussão que tive numa página, onde os homens colocavam seus problemas com mulheres, dizendo com elas são interessas e tal, e então aparece uma evangélico que amava uma mulher que não queria nada com ele, então ele se esforçou e virou um pastor, cresceu na igreja, enquanto a menina namorava com um bandido. Aí ela se interessa por ele, e eles namoram, ele contava cheio de orgulho que tirou ela de uma vida difícil, na qual ela apanhava e sofria na mão do bandido e tal. E ele a salvou. Então ele dizia que se todos fizessem o mesmo que ele seria felizes, teriam uma boa esposa como ele tinha. Aí uma mulher aparece e xinga todo mundo e diz que só que merece ter uma mulher era o pastor. Pois é, esse ideia de homem que se esforça para salvar as "putas", é papo de mulher "rodada". Nos grupos de debate, as mulheres que exigem um homem responsável normalmente são mães solteiras. 
Num mundo onde as mulheres cada vez mais se tornam mais "rodadas", como dizer que ser honrado atrairá mulheres honradas? A matemática não permite isso. Mas isso não é ser contra a família, pelo contrário, é valorizá-la, pois a mulher que sabe que sempre terá um "otário" que a salve de bandidos e cuido dos filhos que teve nas visitas íntimas, nunca sentirá necessidade de ser honrada. 
O homem deve ser honrado, mas fazer de sua vida uma luta por mulheres só facilita mais a vida delas. Imagine um comerciante que sabe que os clientes estão brigando por suas mercadorias, ele sem dúvida vai vender ao preço que quiser, mas se não tem muitos clientes, então vende como pode. Assim, a mulher segue essa lei de mercado, se os homens estão lutando como feras para conseguir ter uma mulher, elas, sabem que podem esperar mais um pouco para que apareça melhores oportunidades. A mulher só terá valor pela família quando souber que os homens não estão rastejando que eles se valorizam, e não se importam em esperar mais pouco pela mulher certa. Assim, elas sabem que é melhor estruturar uma família, pois os homens não tem tanta disposição em sustentar a primeira que vier. 
Parece ser difícil de perceber que as mulheres se aproveitam da necessidade que os homens tem de ter famílias para ter filhos de diferentes homens e ainda ter sempre um que tope ser pai dos filhos de outros, pois sua necessidade de formar família é tão grande que aceita tudo. E então a família vai se destruindo, as mulheres têm filhos com três homens diferentes, todos sonhadores em formar família, e ainda consegue outro só para bancar enquanto mora na casa tomada de outros. Como isso pode sustentar o modele de família cristã?
Esse discurso só serve para dispersar homens que reconhecem que o problema é político e não individual, que sabem que são as políticas dos governos que facilitam para a mulher e destroem a família. Assim, vivem repetindo que se os homens individualmente se tornam honrados tudo será solucionado, mas e a política. É nela que temos que agir, e não dizer que o homem deve ser esforçar para ter uma família. Se a questão fosse individual seria mais fácil, mas lutamos contra organizações que são bem preparadas, e somente as lutas políticas resolverá o problema. Achar que o bolsa família, e a Maria da Penha, em nada influenciam no quadro atual é estupidez, de nada adianta ser esse "cavalheiro salvador de putas" se é Dilma e Maria do Rosário que fazem as leis. 
Quem tem esse discurso deve ser defensor do feminismo, pois o feminismo se aproveita de toda a concepção de honra masculina para aprovarem o que querem. Lembro que Lola Aranovith disse numa artigo que os homens que entram para o masculinismo são os que não conseguem namorar, e aí se tornam alvo fácil dos "machistas". Se ela reconhece isso, deve ter bolado um plano para combater o masculinismo, desmoralizar essas pessoas "fracassadas", a acho que esse pensamento conservador de que o homem deve fazer grandes esforços e assim terá uma mulher só serve para desmoralizar os homens que se encontram na situação que a Lola falou, desmoralizando eles, ao se sentirem humilhados em ver que não tem namoradas por que são homens desprezíveis acabam deixando de querer lutar, até por que os masculinistas são todas dotados do discurso "que vença o melhor", "se você não consegue é problema seu", sem a base do masculinismo visto pela Lola o feminismo tem amplos poderes. Penso que a Lola deva ter começado a mandar pessoas para promoverem esse discurso do macho de sucesso, e assim desmoralizar os "desprezíveis". Se você troca os homens que lutam na política por uma bando de brutamontes que ficam se vangloriando por tem uma bela mulher, então o movimento se torna igual ao grupo de homens que bebem na esquina, e como esses nunca mudaram nada o movimento já nasce morto. E assim o feminismo vai crescendo. Escultar esse discurso é como escutar um bêbado na esquina, é o mesmo discurso, se isso mudasse algo, então os bêbados já nos tinham salvado. É a luta política que muda, e a ação no governo, e a auto valorização que vai nos salvar de destruir a família, e não a desmoralização de companheiros e competição para vê que é mais macho que irá nos salvar. 


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

REFLEXÕES SOBRE O FILME “IDIOCRACIA”





            O filme Idiocracia foi produzido por Michael Craig Judge, ele é criador de outros trabalhos como Beavis and Butt-head e King of the Hill. O ano que foi produzido foi o de 2004, e apesar de já ter um tempo razoável de circulação ainda não é muito conhecido pela população. O filme é quase um trabalho de “artista marginal”, não pelos métodos artísticos populares de produção, mas pela inserção que consegue ter nos meios midiáticos, ou seja, quase nenhuma. Quem conhece o filme normalmente são pessoas que se envolvem em meios de cultura mais elevada, e conseguiu ter conhecimento da produção pela informação de algum amigo, parece que esse é o melhor jeito de disseminar boas produções.
            A maioria dos atores do filme são desconhecidos, pelo menos fora dos EUA, mas tem um ator famoso, que é o Terry Crews, conhecido principalmente por interpretar o pai do Chris, no seriado “Todo Mundo Odeia o Chris”. Diga-se passagem, a atuação desse ator no filme foi fundamental, pois ele conseguiu representar a essência do filme, que é a estupidez. Ele aparece como presidente da Idiocracia, e se comporta como um rapper musculoso, que antes de se eleger tinha sido ator pornô. Quando ele surge no palanque dá “dedo” para os cidadão, e faz danças no meio do discurso. Sem a atuação dele, incorporando todos os defeitos do ser humanos, todas as degenerações, talvez o filme tivesse ainda menos sucesso do que teve.
            O filme, conta a história de um homem e uma mulher que foram usados para fazer uma experiência secreta para o exército americano, o homem era um militar bem adaptado a sua vida rotineira que nada tinha a lhe exigir; a mulher era uma prostituta, e tinha sido a única pessoa do sexo feminino que o exército tinha conseguido mediante pagamento, e um contrato feito com o seu cafetão. A experiência deveria ser de um ano, na qual os dois seriam dopados e colocados num caixão durante todo esse tempo. Mas os responsáveis pela experiência tinham se envolvido com tráfico de drogas e prostituição ao se relacionarem com a cafetão da prostituta no momento das negociações, então são presos, e a atividade secreta para, não tendo mais ninguém que pudesse continua-la.
            O narrador do filme explica como a população vai se desenrolando durante o tempo em que esses dois ficaram no caixão, que foram mais de 500 anos. Nesse sentido, as pessoas inteligentes teriam parado de se reproduzir devido aos cuidados em evitar uma gravidez indesejada, e enquanto isso as pessoas imbecis foram se multiplicando sem regras que lhes impedissem a procriação. Assim, os inteligentes foram sumindo e os imbecis tomaram conta de tudo.   
            Quando os dois acordam se deparam com um mundo totalmente diferente, onde as coisas estão todas desorganizadas, prédios caídos e outros remendados, lixo em toda parte, problemas com a fome etc. As pessoas eram identificadas com uma marca na mão que era como um código de barra, por onde fossem poderiam ser reconhecidas pelo código – interessante notar aqui que esse filme sempre apresenta elementos de um futuro da Nova Era, e essa marca poderia muito bem ser vista como a marca da besta descrito na bíblia. O rapaz comete uma infração, sem querer, óbvio, é julgado, tendo como advogado o homem que tinha incomodado ai cair dentro de sua casa na avalanche de lixo, e vai preso. Na cadeia faz um teste de Q.I. onde descobre que é o homem mais inteligente do mundo. Como todo mundo é burro ele consegue enganar todos e fugir da cadeia.
            Consegue encontra a mulher, e começam a procurar uma máquina do tempo a fim de voltar para o passado e reverter as coisas, no caso a reverter a estupidez, tendo em vista que ele percebeu que suas ações no passado tinham contribuído para esse estado atual. Quem o ajuda é o rapaz que ele tinha incomodado sem querer ao cair em sua casa, que foi seu advogado, e que nessa posição o tinha incriminado -  é interessante notar que no julgamento a emoção tanto do jurado quando do público e dos advogados era o que determinar as sentenças – no começo ele não queria ajudar, mas quando o militar disse que voltaria ao passado e depositaria dinheiro na conta dele e que com os juros chegaria num valor exorbitante passou a ajudar. Essa é uma característica das pessoas da época, elas gostavam muito de dinheiro, e deixavam de fazer qualquer coisa para ter dinheiro, o dinheiro era o principal elemento da sociedade. Esse argumento de que iria ao passado depositar dinheiro na conta do advogado é um tanto interessante, para qualquer pessoa poderia ser algo a refletir, mas o advogado só se interessava no efeito ou nos fins, os meios não lhe interessavam, saber como esse dinheiro ira aparecer de uma hora para outra na sua conta não lhe interessava.
            Eles então fazem essa aventura em busca da máquina do tempo que somente o advogado sabia onde ficava. Eles então chegam no lugar onde estava a máquina do tempo, era um parque de diversões, e tinha sido onde o advogado tinha se formado. O militar ficou surpreso em saber que ali formava advogados, e o advogado disse que nem ele acreditou no começo que iria estudar ali, só conseguiu por que seu pai tinha muito conhecimento e “mexeu uns pauzinhos”. Ou seja, ali era uma das maiores universidades da época.
            Foi reconhecido pela polícia e foi preso, dessa vez, foi solto pelo presidente, interpretado por Terry Crews, que queria que ele resolvesse o problema da fome, já que era o homem mais inteligente. Ele ficou surpreso e disse que não conseguiria resolver o problema, mas o presidente disse que era a única forma de continuar livre. Ele então concordou.
            Os ministros usavam um medalhão do tipo dos rappers americanos, esses medalhões designavam suas funções. Todos os ministros eram completamente estúpidos, não conseguiam produzir uma gota de pensamento. Penso que esses medalhões grandes e vistosos representam o caráter da sociedade atual, que vive de aparência em vez de essência, se apresentar de forma especial parece ser o ideal, por isso esses ministros precisavam de algo que chamassem a atenção que denotassem riqueza.
Lhe deram o papel de resolver o problema que estava impedindo que as plantas crescessem. Ele então viu que o problema era que em vez de agua se dava um produto que continha eletrólitos, ele disse que era preciso dar água às plantas. Todos acharam estranho, um dos ministros disse que se agua fosse bom tinham plantas na privada, essa era a única função da água naquele momento, a de dar descarga. Parece que tudo tinha sido substituído por algo industrializado. Essa parte é interessante, pois ele ao tentar convencer os ministros a darem água para as plantas pergunta por que eles dão o produto em vez de agua, então tem como respostar que era por que o produto tinha tudo o que as plantas precisavam, então perguntou o que as plantas precisavam, teve como resposta eletrólitos, então perguntou por que as plantas precisavam de eletrólitos, e teve como resposta por que é bom para as plantas. Percebeu que pelos meios convencionais não se poderia convencer aquelas pessoas. Isso me lembra a situação dos intelectuais, que tem se limitado a repetir outros intelectuais, aplicando conceitos gerias a planos específicos, e os estudantes que apenas repetem os professores e intelectuais, sendo que nada sai de suas cabeças.
            Ele então apelou, afirmou que as plantas tinham dito a ele que queriam água, foi então que o governo cedeu água às plantas. As plantas não cresceram, e houve uma grande demissão da empresa produtora do produto que aguava as plantas, então ele foi preso, e foi condenado a reabilitação devido ter demitido muitas pessoas com sua ação. Essa era outra característica das pessoas, não sabia esperar, as plantas seguiam as leis da natureza, e precisavam de tempo para crescer, mas ninguém sabia esperar nada, penso que isso seja efeito do mundo tecnologizado de hoje. A reabilitação era um jogo onde carros de batiam, ele teria um carro pequeno e enfrentaria os maiores, se sobrevivesse estaria livre. No meio do jogo, já perto de morrer, a mulher consegue filmar as plantas que tinham crescido, e isso o salva da morte.
            Depois disso descobre que a máquina do tempo era um brinquedo no qual as pessoas passeavam num carro e conheciam as épocas da história. O militar perguntou ao advogado se ele sabia disso, ele disse que sabia e que o militar era muito estúpido em acreditar que uma máquina pudesse voltar no tempo, mas como gostava muito de dinheiro escondeu isso para receber a grana, aí vem uma das partes mais engraçadas, o militar disse “mas se ela não volta no tempo, então não poderia depositar o dinheiro na sua conta”.
            O interessante dessa máquina era como ela representava a história, onde Charlie Chaplin aparecia como Hitler, e a ONU com um dinossauro que acabou com o Nazismo, penso que isso seria devido aprenderem história apenas pelos filmes, viram o filme de Chaplin e tiveram essa conclusão.
            O filme retratada uma visão inversa da que temos sobre o futuro, em vez de ficarmos cada vez mais inteligentes, ficamos cada vez mais estúpidos. Mas penso que esse futuro não tenha se dado apenas pela multiplicação dos “burros”, mas por que com as tecnologias que temos a mente humana tem ficado cada vez mais limitada. A televisão pensar pelas pessoas, as escolas trabalham com imagens como se fosse algo sagrado, tudo de forma a facilitar o aprendizado, mas na verdade estão apenas impedindo o raciocínio abstrato. Perceba que no filme a tecnologia é muito avançada, mas as pessoas são burras, mesmos os líderes eram assim. O face book e outras mídias sociais tem tomado toda a inteligência das pessoas, são tantas informações que as pessoas as consomem sem “degustar”, sem refletir, pois não há tempo, já que sempre tem outra informação. Os intelectuais têm se adaptado a escrever pequenos ensaios para serem lidos, não mais escrevem grandes artigos repletos de reflexão, eles se adaptam as massas, se tornam eles próprios massas, facilitam o entendimento, em vez de as massas se elevarem, os intelectuais se rebaixam. A onda é escrever o que as massas entendam, de outra forma é ser arrogante. E cada pessoa tem os seus gurus, se voltam para a produção de um grupo de autores que escrevem seus artigos e os põem na internet, mesmo que haja outros pensamentos, só conseguem encontrar aqueles que já estão nas suas listas. Os celulares têm acabado com a vida privada e com a reflexão individual, todo instante chega uma mensagem de algum amigo, e as pessoas vão se acostumando a não estarem sozinhos, mas sempre com alguém, sempre conversando com outros. O caminho é o da massificação, as pessoas passam a viver apenas a realidade material, voltadas apenas para fora, para conversas, para fatos, etc., mas o eu interno é morto, e a reflexão vai se tornando algo obsoleto.
            A diferença dessa realidade para a feudal, é que naquela as pessoas ao se verem e se tocarem reprimiam ações e comportamentos, nessa outra a repressão se dá nas ideias, são elas que são massificadas, criando um mundo massificado de ideias e de ideias massificadas, talvez sem uma moral e costumes controladores, mas com uma penetração e controle do pensamento. A coisa se inverte, liberdade no mundo material e prisão do espírito. Era assim que se comportavam as pessoas da idiocracia, eles eram livres sexualmente, e tinham costumes grotescos que não eram reprimidos, mas as suas mentes eram como uma pedra, sem nenhuma capacidade de reflexão. Quando o militar fazia qualquer reflexão as pessoas se sentiam mal, e sentiam dor de cabeça e tontura. O cérebro é como um musculo, se não trabalhado atrofia. A sociedade era toda voltada para o consume e prazeres, o que transformou todos em massas falantes ou animais.
            Mas não é só a tecnologia que faz isso, penso que outro fator é o politicamente correto, que impede qualquer tipo de ofensa ao que é considerado atrasado, assim eu, por exemplo, escrevi aqui as palavras estúpidos, burro, etc., esses nomes tendem a desaparecer do nosso vocabulário, pois o controle do pensamento através do politicamente correto impede toda crítica a grupos e práticas sociais, e assim aos poucos o que é estúpidos deverá ser tratado como diferente, e interessante, impedindo qualquer crítica.
            Outra coisa é a moda de levar ao poder representante de grupos sociais, e isso é visto como uma evolução, no nosso caso, um Tiririca, um Lula, que fala de boca cheia, e comete os piores erros de português, o Romário, etc. Vemos prostitutas se candidatarem e por apenas sua bunda nas fotos para campanha, todo tipo de palhaço se apresenta, a dizemos que isso é democrático. Aos poucos o grotesco se torna lindo, e teremos presidentas que subam no palanque apenas de fio dental e sem sutiã. Penso que essa valorização do grotesco, de prostitutas, de operários, de bandidos, de malandros, etc., tudo isso inverterá todos os valores da sociedade, e aos poucos ser herói é ser o desprezível, e atrasado. Isso fará com que a intelectualidade perca seu valor, o saber será ridicularizado, e o grotesco será exaltado.
            Fico imaginado como serão os professores universitários, nas orelhas dos livros as fotos dos autores, serão bundas, serão professores com um copo de cerveja, ou abraçado a mulheres gostosas, imagino até professoras mostrando a vagina na capa dos livros e isso será tipo como revolucionário, como uma quebra dos valores e da moral, etc. Tive essa visão quando reparei nos rostos dos intelectuais do passado, percebi que os primeiros sorrisos aparecem com os intelectuais materialista, autores como Stuart Mill, Rousseau, Engels, etc aparecem com um semblante de alegria típicos da plebe. Marx aparece com uma impressão de “ódio”, mas dá no mesmo, são expressões da plebe, imanentes. Enquanto que intelectuais idealista não sorriam, Hegel, Bruno Bauer, Stiner, etc. aparecem com uma espiritualidade avançada, como se eles não vivessem aquela realidade imanente, mas uma transcendente. Hoje vemos autores com um sorrido de uma ponta a outra, como Hobsbawn, outros aparecem fumando, e assim penso que o destino é degenerar.

            Imagino um mundo onde um intelectual do passado acorde dentro de um caixão, como ocorreu com os personagens do filme, e então no futuro vai procurar livros para ler. Lê então, um livro que usa termos como “lixo social”, “sucata”, “restos de produção”, “avarias”, e o autor se atormentar ao não conseguir entender o que está escrito ali, ele pensa que os termos ali empregados são muito evoluídos e procura uma pessoa que lhe explique. Então percebe que “lixo social” é lixo deixado pela sociedade, que sucata é sucata, etc. então ele percebe que os termos designam apenas coisas no mundo material, não existe abstrações, a linguagem se limita ao mundo mecânico. Uma sucata não é uma sucata de Certeau, é sucata mesmo, e quem leu Certeau nessa época levou todos os seus termos ao que seriam no mundo imanente. Realmente é assim que imagino a evolução da humanidade, estamos perdendo a capacidade de interpretar coisas, a abstrair, estamos cada vez mais animalizados. Mas esse é o papel da Nova Era, trocar a Razão pela Intuição ou emoção. 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Reflexões sobre as origens de classe dos fenômenos



            Certas organizações, como é a Esquerda Marxista, acredita que toda manifestação social tem por base a luta de classes, falo, óbvio, da luta das classes econômicas burguesia e proletariado. Assim, os costumes, ignorâncias, crenças, moral, etc., nada mais são que a ideologia da classe dominante.
            Mas há aqueles que olham tudo como luta de classe, porém percebendo que ambas classes produzem cultura e valores, e assim, tudo o que está em jogo na sociedade seria uma manifestação da luta entre essas classes, nesse sentido, nem tudo o que é dado na sociedade é burguês, mas é parte de um conflito de classes.
            Outros conseguem ver que existem mais de uma classe, e que elas em luta disputam a moral da sociedade e seus valores. Perceba que nos três exemplos, tudo o que ocorre é fruto da luta de classes.
            Existe mais um ponto interessante, um mesmo ponto pode ser visto como manifestação de classes diferentes, assim, cada organização ver se posiciona de forma diferente para com o mesmo ponto. Esse é o exemplo do homossexualismo, e das drogas. Para muitas organizações ambas manifestações têm origem na burguesia, mas elas podem ter origem de formação diferente para organização diferentes, porém vidas da mesma classe. Por exemplo, para algumas o homossexualismo pode ser burguês por que é fruto da liberdade burguesa, o liberalismo, para outro por que burguesia como dona dos meios de comunicação influenciam, para outros por que a burguesia cria uma sociedade onde as pessoas se degeneram. Perceba que são formações diferentes, porém vêm da mesma classe.
            Temos o exemplo das drogas, podemos dizer que uma parte dos que acham que a burguesia é a responsável assim pensa por acreditar que a burguesia que degenerar os trabalhadores, outros vêm como um fruto do liberalismo burguês. Ainda tem aqueles que vêm como forma de ganhar dinheiro. Mas uma vez vemos várias explicações, mas todas elas culpabilizam a burguesia pelas drogas.
            Outras organizações conseguem fazer o inverso, são aquelas que acham que a burguesia quer manter todo mundo de baixo de uma moral para que sirvam aos seus interesses, defendem que o cristianismo e ideologia burguesa, e que serve para que a burguesia explore o proletário. Nesse sentido, as drogas se tornam um meio de libertação burguesa, e o homossexualismo também, dizem então que o burguês não gosta de quem fuma e de que é homossexual, assim, toda a moral que impede essas práticas é da burguesia. Vemos aqui que as coisas podem se inverter se vistas por diferentes organizações, se para a EM as drogas é manipulação burguesa, para anarquistas é libertação da burguesia, para outros é a própria ideologia burguesa.
            A diferença entre ser criado pela burguesia para dominar o proletário e ser da ideologia burguesa são coisas diferentes, no primeiro caso a burguesa maquina uma ideologia a fim de dominar, ou seja, ela mesma não segue tel pensamento, ela o cria e o transmite, no segundo caso, a burguesa é portadora de determinada moral, e pratica tais atos por se identificar com eles, aqueles que não são burgueses e adotam esses atos são influenciados pela ideologia burguesa. Perceba que a ideologia burguesa pode ter mais de uma conotação, a maquinada, e a essencialista.
            Bom, mas existem aqueles que negam toda influencia de classe, seja positiva ou negativa, e transforma numa questão de moral, assim, percebem que certos valores são pré-burgueses e que por isso não tem origem nessa classe. Existem, nesse sentido, os que acham que são valores de classes anteriores e que ficaram no imaginário, essa visão é apenas uma forma diferente de dizer que as classes têm influência; tem os que acham que essas classes ainda existem e que tem poder e por isso tais valores ainda vingam, mas uma vez é uma questão de classes.
            Mas há os que acreditam que são apenas questões humanas desligadas de classes, e que tendem a ser superadas conforme a sociedade fique mais instruída.

            A verdade é que poderíamos enumerar as diversas formas de er ver uma mesma questão, porém, as interpretações são limitadas pela psique humana, ou seja, não tem limites. 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

RESENHA DO TEXTO “ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DOS NÍVIEIS E MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO







            A educação brasileira tem uma estrutura que se divide em níveis e modalidades, na divisão de níveis se encontra a educação básica e a educação superior, a primeira tendo sub níveis, que são a educação infantil, o ensino fundamental e ensino médio; ela também engloba as modalidades profissional, educação de jovens e adultos, e educação especial. O ensino superior é composto pelos níveis de graduação, de cursos sequenciais e extensão universitária, e o nível de pós-graduação, na modalidade lato sensu (especialização) e strictu sensu (mestrado e doutorado), existe ainda como modalidade o ensino a distância e o mestrado profissional.
            A educação básica tem como objetivo forma o indivíduo para que goze de plena cidadania, além disso fornece os meios necessários para o desenvolvimento no mundo do trabalho, e conseguir dar continuidade aos estudos ingressando nos cursos de nível superior.
            Esse nível educacional pode ser dividido em série anuais, em ciclo, período semestrais, e outras formas, além disso pode levar em consideração a idade dos alunos ou competência, segundo o autor essas formas de divisão necessitam de bastante debate.
            Essa forma de divisão em ciclos tem sido adotada por alguns municípios, e seu processo de avaliação tem apresentado alguns problemas. A forma de avaliação deve ser periódica, dando condições do professor perceber como os alunos estão se desenvolvendo. As formas de reocupação podem ser permanentes ou oferecidas paralelamente ao ano letivo que o aluno frequenta.
            Na forma não seriada baseada em idade, existe um mecanismo de Classe de Aceleração, esse método pretende fazer com que alunos consigam terminar seus estudos no menor tempo possível. Existe porém a questão sobre a eficácia desse método tendo em vista que produz uma facilitação que pode prejudicar o desenvolvimento dos alunos. O mecanismo de acelerar, não tem demonstrado um bom resultado no sentido de o aluno apreender os conteúdos em menos tempo que normal, o questionamento é sobre a condição de se aprender em menos tempo o que não aprendeu em tempo normal. Essas questões são de extrema importância para o desenvolvimento da educação.
            Outra questão são as facilidades dadas para que os alunos passem de uma série ou ciclo a outra, esse mecanismo tem se mostrado uma mera forma de promover um avanço do aluno, o que o autor chama de “promoção automática” e que deveria ser “progressão continuada”.
            A educação básica possui uma série de regras que devem ser obedecidas pelos estabelecimentos de ensino, são elas os mínimos de 200 dias de aulas no ano letivo, 800 horas aulas distribuídos por esses dias previstos.
            Na passagem do ensino infantil para o fundamental não pode existe nenhuma forma de seleção, tendo em vista que esse nível de educação não deve ser restritivo.
            Outra regra é que os estabelecimentos de ensino fundamental e médio que optarem pela forma de progressão regular, devem oferecer a progressão parcial, que no caso seria o que se chamava de “dependência”.
            Também é permito que nos ensinos de língua estrangeira e artes, possa-se juntar alunos de acordo com níveis, ou outras formas variáveis.
            Essas regras, juntamente com outras, trazem questões que ainda precisam de muita discussão para a consolidação de uma educação efetiva. Por exemplo a questão do ensino de educação física, que é feito em horário diferente do realizado pelas demais disciplinas, onde, nesse sentido os alunos que estudam no período noturno não conseguem realizar tais atividades, e justamente por isso constitui disciplina optativa. O mesmo pode-se falar da quantidade de horas aulas, já que no horário da noite não se consegue efetivar a mesma carga horário do período diurno.
            A questão do ensino de religião também é de grande importância, tendo em vista que somos formados por diversas crenças, nesse sentido é preciso perceber como se trabalhar com essa disciplina. Isso inclui a questão de ser optativa.
            Essas questões e outras, demonstram que na prática temos um sistema de educação básica se dividem em dois, um com mais conteúdos e por isso mais rico em aprendizado, o diurno, e outro com diversas dificuldades, ou seja, o noturno.
            O autor fala da questão da importância das disciplinas e como elas devem ser trabalhadas, no caso de História, fala da importância de levar em consideração os diversos grupos sociais que existem no Brasil, no sentido de tentar contemplar a todos, isso inclusive são questões discutidas no Parâmetros Curriculares Nacional (PCN).
            A educação básica deve promover a cidadania, nesse sentido, deve zelar pelo ensino dos direitos dos cidadãos, os trabalhistas, humanos e outros, ensinar sobre o nosso sistema democrático, orientando os alunos a serem cidadãos críticos. É também preciso promover a prática de esporte, isso é uma questão, como vimos anteriormente que necessita de bastante discussão.
            Outra questão importante é o trato da educação para com grupos indígenas e quilombolas, nesse sentido o autor se questiona sobre a questão de uma necessidade de ensinar o que ele chama de educação do homem branco ocidental para esses grupos, no sentido de isso não ser na prática uma forma de dominação ou de aculturação. Sendo assim, ele defende que é preciso muito cuidado com a forma de trabalhar essas questões, inclusive tentando fazer com que os professores sejam da própria comunidade. Fala ainda que uma educação infantil teria apenas como pretensão aculturar, por isso não seria preciso que os indivíduos desses grupos passassem por elas, e sim apenas pela fundamental. O meu questionamento nesse sentido é, se a educação infantil não é necessária para os índios, tendo em vista que tem papel apenas de formar e preparar para o fundamental, e nesse sentido ela acultura, então por que ela seria necessária para os demais cidadãos? Será que nos demais não tem o efeito de aculturar? Penso que mesmo numa grande cidade existem formas de educação que se diferenciam de acordo com tradições e costumes familiares, é óbvio que a educação infantil tira a educação familiar e promove uma de âmbito geral, nesse sentido surte o mesmo efeito que tem nos grupos indígenas e quilombolas, se para eles isso merece certa discussão, para nós penso não ser diferente.
            No ensino fundamental o ensino a Distância é outra questão que deve ser pensada, o autor afirma que ele só pode ser usado para complementar aulas que foram prejudicadas em situações emergenciais.
            O autor defende a luta para o aumento do tempo do aluno na escola, nesse sentido defende que a escola seja integral.
            No ensino médio, é necessário que se ensino os processos de transformação histórica, a compreensão do significado das ciências, das letras das artes, as diferentes culturas do nosso país, etc. Aqui deve se ter em mente o binômio exercício da cidadania/preparação para o trabalho. A educação profissional pode ser ensinada nos próprios estabelecimentos de ensino médio.  
            Na educação de jovens e adultos deve-se pensar os exames supletivos tendo em vista os conteúdos das séries ministradas. Esse processo tem como perspectiva a aceleração de alunos no término dos estudos básicos, e tem os mesmos problemas da promoção automática, tendo em vista que propõe uma certa facilitação. Um questionamento é sobre a idade que se pode fazer o EJA, tendo em vista que muitos jovens que estão atrasados poderiam fazer para retornar ao mesmo nível de seus colegas não repetentes, é nesse sentido que o EJA pode representar uma facilitação do progresso e até desestimularão do aprendizado, tendo em vista que a facilidade não educa.
            A educação profissional, além de poder ser ministrada em paralelo com o ensino médio pode ser ensinada de forma continuada, ou nos locais de trabalho. Nessa modalidade, a progressão continuada se faz mais presente, tendo em vista que a “promoção automática” prejudicaria o aprendizado que será necessário na vida do trabalho.
            Na educação especial se faz necessário professores que sejam capacitados para atuarem nesse trabalho, essa modalidade deve levar em consideração a inserção dos alunos deficientes no meio social. Uma separação se faz necessário quando não é possível ainda uma integração, nesse sentido é preciso que haja instituições especializadas, mas é preciso trabalhar na expectativa de integrar esses alunos aos demais alunos, assim é preciso professores que consigam promover essa inserção e acabar com os preconceitos existentes.
            Essa modalidade pode receber auxilio do governo se forem ministradas em escolas privadas, sendo porém a principal opção as instituições públicas.
           
            Na educação superior o objetivo é forma profissionais e promover produtores de conhecimento, além de espírito crítico e reflexivo.
            Nesse nível existem os cursos sequenciais por campo de saber, que podem ser por de complementação ou de formação específica. No primeiro caso não se faz necessário um reconhecimento do MEC, tendo em vista que não emitem diplomas, porém no segundo caso, se faz necessário que se siga as normas do MEC para que haja reconhecimento, pois essa forma de ensino é de caráter de formação profissional.
            Os cursos de graduação, diferente do caso anterior devem ser feitos através de um processo seletivo, e exige a conclusão do ensino médio. Alguns estabelecimentos têm feito o processo de forma diferentes da do vestibular tradicional, como é o caso do vestibular seriado.
            Os cursos superiores são avaliados pelo Exame Nacional de Cursos, realizado pelo Conselho Nacional de Educação. As provas que foram realizadas mostraram que existe uma deficiência grande no ensino superior, porém nenhuma das universidades que foram reprovadas foram fechadas. Mesmo com a medida de FCH que transferiu o poder de fechar esses cursos para o Ministério da Educação não foram efetivados fechamentos de universidades que tem mau desempenho.
            As regras são as de 200 dias letivos, sistema de crédito de 15 horas aulas, obrigação de apresentar a grade curso aos que nele pretendem ingressar, entre outras.
            A questão do não reconhecimento do curso pelo MEC tem gerado grandes problemas, tendo em vista que muitos alunos se prejudicam com isso, nesse sentido o poder público deve atuar em fechar esses cursos, ou a instituição terá que devolver o dinheiro ao aluno.
            As universidades gozam de autonomia, devendo dessa forma ter seus conselhos, que integrem as três categorias da comunidade acadêmica, estudantes, funcionário e professor, além disso pode fazer os seus próprios estatutos. Isso torna as universidades, menos dependente da autoridade estatal, no caso da ´públicas isso é primordial para que exista uma democracia dentro das universidades. Nesse sentido o autor reflete sobre a questão da paridade, não fazendo uma crítica ao modelo de desproporcional, mas criticando as formas de tirar totalmente o poder dos servidores e alunos.
            Ele discute uma questão interessante que é a das condições da docência universitária. Colocando as dificuldades impostas aos professores. No caso, os professores têm obrigação de darem 8 horas semanais de aula, o que na visão dele não é ruim, porém ele fala que as medidas de cobrança dos deveres dos professores são diferentes das medidas em relação aos deveres do Estado.
           
            Na educação indígena, é preciso levar em consideração a questão da língua dos alunos, devendo ser oferecida uma escola bilíngue. De forma que a escola reafirme a identidade desses alunos em vez de suprimi-las. É preciso ter todo plano de nível nacional com o trato nessa educação.
            Sobre a educação a distância, conta que é preciso incentivo do poder público, e que devem ser ministradas em todas as modalidades e níveis, os estabelecimentos devem ser credenciados a união. Essa modalidade goza do direito de veicular seus cursos nos meios televisivos sem custos. Ele ressalta ainda que essa modalidade não pode passar dos 20% do conteúdo curso.
            Penso que existem muitas questões importante que ainda devem ser discutidas, tais como a educação integral, a educação a distância, os métodos de aceleração, etc. Tendo em vista que todos eles são de forte impacto para a sociedade, se esse é o caminho da civilidade e do progresso, não sei, mas acredito que falta muita discussão.
             
 

             

Hermano Viana – Elite Brasileira e Música do Povo: pequena análise





O autor começa falando da modinha, que começa a se popularizar já no século XVIII, usa para tanto as impressões de Thomas Lindney para demonstrar como a elite, apesar de prezar por valores europeus, se entregava a musicalidade negra, como vemos no trecho a seguir do viajante:
“Em algumas casas de gente mais finas ocorriam reuniões elegantes, concertos familiares, bailes e jogos de cartas. Durante os banquetes e depois da mesa, bebia-se vinho de modo fora do comum, e nas festas maiores apareciam guitarras e violinos, começando a cantoria. Mas pouco durava a música dos brancos, deixando lugar a sedutora música dos negros, misto de coreografia africana e fandangos espanhóis, e portugueses” (citado em Pinho, 1959: 27)”
            É difícil dizer como era de fato a relação da elite com a música popular, onde alguns autores afirmam que a elite baiana não aceitava as músicas populares, e outros como Tollenau dizia que nos salões Pernambuco só se ouvia lundum. Gilberte Freire falou de um certo isolamento da colônia, o que teria permitido esse cenário no Brasil. O autor, porém propõe que o isolamento é relativo, tendo em vistas que a elite portuguesa tinha certo apreço as músicas vidas de além mar.
            A modinha teria tido como expoente no séculi XVIII o padre Domingos Caldas Barbosa, que teria tocado na corte em Portugal, sendo mal visto por personalidades como Boccage, e Antônio Ribeiro Santos que havia afirmado que o fato de se tocar tal música na corte representava a começo do fim do império.
            Vários nomes da literatura são citados em seu texto, como Machado de Assis, por exemplo, que frequentavam lugares, como a tipografia de Paulo Brito, onde se tocava a modinha e outras músicas populares. O autor fala em uma re-popularização da modinha, que tinha se hibridizado com elementos italianos e ciganos (Tinhorão), citando o Melo Moraes Filho. Em outras palavras, depois de ouvida na corte e na elite brasileira, volta a ser ouvida no povo com frequência. Já o Gilberto Freyre vê em outro momento mais tarde uma re-europeização da música.
            É importante salientar que essa música, que teria sido trazida novamente na vinda de Dom João, era tocada de forma diferente entre a elite e o povo, numa se ouvia o piano, noutra o violão (Freyre).
            Um dos cantores de sucesso citado pelo autor foi o Catulo da Paixão Cearense, que tinha cantado para personagens como Rui Barbosa e Floriano Peixoto. Outro seria o Afonso Arinos, que apesar de viajar pelo exterior cantando para pessoas importantes, tinha um apreço peculiar pelas coisas da terra.  
As tensões com a música popular se deram cedo no Brasil. Sendo importante destacar as contradições da cultura da elite para com o samba. Essa música tem origem na Bahia, e é trazida para o Rio de Janeiro. Logo se adaptou à região tomando os morros favelas, e dando as características de uma música urbana e periférica.  
Essas questões vão trazer significativas lutas culturais, com discriminação, e por vezes perseguição, no Brasil do século já no início do XX.
A elite brasileira tinha feição pelos padrões europeus de música, isso faziam com que tivessem aversão às músicas populares produzida pela população essencialmente negra.
Essa situação é bastante difícil para a elite, tendo em vista que esta nada produzia de novo na cultura nacional, seus elementos eram europeus, por outro, lado a cultura popular ganhava uma feição cada vez mais territorial, tendo em vista que o povo não se prende a regras fixas. Nesse sentido a cultura popular se mostrava viva e em desenvolvimento, em oposição a da elite que se atrofiava.
A música negra era bastante mal vista, uma autora fez um trabalho mostrando com os elementos do sambista apresentados nas capas de disco, como o chapéu cobrindo parte do rosto, o jeito de andar quase caindo, as roupas listradas, a navalha na mão, e outros elementos significavam um estereótipo sobre os sambistas: o chapéu cobrindo o rosto para esconder as intenções de um bandido, e para não torna-lo identificável; o jeito de andar que representava o malandro, o esperto, que vive de enganar, que tem ginga para viver “na manha” ou sem precisar trabalhar; a roupa listrada que lembraria a roupa de um presidiário norte americano; e a navalha para mostrar que estavam sempre dispostos a uma briga. Tudo isso apresentava o que era o sambista[1].
O Viana fala do uso do violão, que representava um instrumento de fácil mobilidade, podendo ser levado para onde, isso se dúvida seria coisa de malandro, que não tendo o que fazer poderia ficar tocando violão por onde passava. Era assim que a elite pensava. Vemos uma cena parecida com essa no livro “Triste Fim da Policarpo Quaresma”, onde um violonista é descriminado simplesmente por estar com um violão.
Mas existem outras questões evolvidas na música negra que vão ser encaradas como atraso para a elite. As letras das músicas tratavam bastante de relações amorosas, o que envolviam traições, relações efêmeras, etc., muitas letras eram uma afronta para a sociedade da época, já que usavam termos comuns na vida popular, normalmente envolvidos por pornografia.
Penso que esse trabalho do Viana tenha sido de grande importância para o entendimento das relações entre cultura popular e erudita, além de compreender o desenvolvimento da música brasileira, tendo em vista a modinha, o lundum, e o samba. Coloquei esses elementos que estudei em outros autores para apresentar as contradições que se deram num período mais recente, e assim fazer um link com o passado. Fica o questionamento sobre as relações da música hoje, por exemplo, o que é samba? Penso que os grupos sociais tenta definir seus conceitos para se apresentar como mais originais e brasileiros. O pagode não é samba? Será que nossos pagodeiros não se sentem sambistas? Bom, para uma camada da sociedade isso não é samba, samba é uma música de nível mais elevado. Penso que essas sejam novas tensões.



[1] RESENDE, André Novaes de. Da Lapa para a capa: estudo intersemiótico das capas de discos de samba vinculadas à imagem do malandro.